Era digital, informação à velocidade da luz. Vídeos e músicas a soçobrar pelas plataformas virtuais. Novidades emaranhadas entre si, confusão sónica, sentidos desorientados. Quem nos guia? Por onde vamos? Para onde vamos?
7 Dias, 7 Vídeos é o resgate audiovisual semanal nos terrenos do hip hop e electrónica. Filtragem de qualidade, barreira contra a poeira que nos cega com tanto de novo, com tanto para espreitar e escutar.
[Ghostface Killah] “Rap Kingpin”
“Rap Kingpin” marcou o início da jornada de Ghostface Killah rumo a Supreme Clientele 2, a sequela de um dos maiores clássicos do hip hop — Supreme Clientele saiu em 2000 — que chegou às plataformas digitais há um par de semanas. A faixa assenta numa batida sombria e envolvente produzida por Scram Jones, sobre a qual o rapper dos Wu-Tang Clan flutua com a confiança no máximo através do seu inconfundível braggadocious repleto de barras de egotrip. Sem reinventar a roda, a autenticidade inconfundível de um MC histórico que ajudou a criar o ADN do rap made in New York é suficiente para deliciar os amantes do género.
[Yeat] “COMË N GO”
Há precisamente um mês, Yeat lançou o EP DANGEROUS SUMMER, no qual apresentou um tom notavelmente mais suave, baixando um pouco os frenéticos níveis de intensidade que o ajudaram a notabilizar-se no game, mas sem perder a essência experimental e hipnótica. “COMË N GO” é um dos temas contidos nesse curta-duração e destaca-se pela batida espacial e refinada, onde a sua entrega permanece confiante e sofisticada. O vídeo a preto e branco, realizado por Alexander Edep e DUMBDAYS!, retrata uma vida de glamour e o êxtase das actuações ao vivo de um dos newcomers que mais se têm destacado no hip hop nos últimos anos.
[Duquesa] “Fuso”
Lançado na recta final de 2024, “Fuso” não deixou dúvidas quanto à sua qualidade e rapidamente se tornou num dos singles mais escutados de sempre da ainda curta carreira de Duquesa, MC brasileira oriunda do estado da Bahia que começou a dar os primeiros passos na música mesmo antes do virar para a presente década. Agora com um videoclipe assinado por Kaire Jorge, a pujança de “Fuso” volta à baila e encabeça o novo EP da artista, SIX., editado na passada sexta-feira e repleto de diferentes tipos de sonoridades — do rap e do R&B à pop e ao rock.
[JID] “Community” feat. Clipse
Era inevitável que “Community” fosse logo à partida um dos momentos mais altos de God Does Like Ugly, o quarto álbum de JID, lançando há um mês pela Dreamville. Afinal de contas, a faixa traz-nos mais versos de Pusha T e Malice, que recentemente voltaram à actividade enquanto Clipse e rubricaram um dos LPs mais marcantes deste ano, Let God Sort Em Out. Rimas afiadas e comentário social contundente é o que este trio nos proporciona no tema que agora conta com uma peça visual dirigida por Omar Jones, que complementa a música com imagens de bairros e das gentes que os habitam, retratando com honestidade a arte como reflexo da vivência.
[Lord Apex] “Initial P”
É o fim de uma era. Lord Apex anunciou que está a delinear o quarto e derradeiro volume das suas Smoke Sessions e nada melhor do que o lançamento de uma nova faixa — a sua primeira em 2025 — para servir de banda sonora para a notícia. Em cima de uma sonhadora batida de Neo Sū, o rapper que tem carregado uma das maiores tochas dentro do rap underground londrino tece um storytelling profundo que relata a sua caminhada no game. Depois de Smoke Sessions 3 em 2021, Apex distribuiu jogo em diversos discos colaborativos com produtores e ainda se apresentou a solo no longa-duração The Good Flight (2023).
[Che Noir & The Other Guys] “Smooth Jazz” feat. 38 Spesh
Numa das sua propostas mais íntimas de sempre, Che Noir uniu esforços com os The Other Guys, uma dupla de produção oriunda de Washington, D.C., para conceber o álbum No Validation, que aterrou no mercado na última sexta-feira. A escrita apurada da MC de Buffalo, Nova Iorque, segue a linhagem dos grandes clássicos do hip hop e encaixa que nem uma luva na produção cinematográfica dos The Other Guys, com fortes influências do jazz e da soul, como bem podemos notar neste “Smooth Jazz”, single no qual 38 Spesh também participa.
[Earl Sweatshirt] “CRISCO”
Earl Sweatshirt sempre foi um dos rostos mais esquivos do rap norte-americano e espanta-nos que só agora se tenha lembrado desta ideia, até porque era prática comum de um dos seus grandes heróis da música, MF DOOM. Para a listening party que deu a conhecer ao mundo o seu mais recente trabalho, Live Laugh Love, o rapper contratou um “impostor” para fazer o seu papel no evento, uma jogada que agora surge documentada no videoclipe de “CRISCO”, onde podemos ver o actor escolhido, Gary Murakami, a atravessar o processo de se tornar num digno substituto de Earl na sua própria festa.