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Publicado a: 10/01/2016

7 Dias, 7 Vídeos

Publicado a: 10/01/2016

[TEXTO] Gonçalo Oliveira [FOTO] Stephen Roll

 

Era digital, informação à velocidade da luz. Vídeos e músicas a soçobrar pelas plataformas virtuais. Novidades emaranhadas entre si, confusão sónica, sentidos desorientados. Quem nos guia? Por onde vamos? Para onde vamos?

7 Dias, 7 Vídeos é o resgate audiovisual semanal no terreno do hip hop. Filtragem de qualidade, barreira contra a poeira que nos cega com tanto novo, com tanto por onde espreitar e escutar.

 


 

[WATI HERU & KASHAKA] “BKWYA”

Este é o único tema que pretendi colocar em primeiro por um motivo muito simples. É uma faixa que fala por si  mesma. Não foi o nome do MC ou do produtor que me levaram até ela. Encontrei-a quase por acaso por entre as minhas pesquisas diárias e quando a ouvi pensei mesmo “damn, isto é uma grande malha”. Pelos vistos não fui só eu, tendo em conta que a quem eu mostrei “BKWYA” também se deixou entusiasmar pelo tema. É uma das faixas quase obrigatórias em todos os meus DJ sets e, curiosamente, é das músicas que mais reacção causa no público que a desconhece. Quase toda a gente fica a pensar algo do tipo “porque é que eu não conheço isto?” e, logo de seguida, dirigem-se perto para perguntar quem a canta ou apenas para tentar espreitar de surra o nome do artista no computador. É sem qualquer margem de dúvida a surpresa do ano, para mim, a nível de singles, tendo em conta o número de views para a qualidade do tema em si. Fiquei mais contente ainda quando me apercebi que o norte-americano Kashaka é um produtor associado à portuguesa Enchufada, uma label perita em lapidar diamantes em bruto no campo da electrónica. Que venham mais destes.

 


 

[TRAVI$ SCOTT FEAT. KANYE WEST] “Piss On Your Grave”
(Rodeo, Sony Music)

A meu ver, samplar Jimi Hendrix é uma tarefa que deve ser feita com bastante precaução. Principalmente quando o resultado vai estar ao alcance de muita gente, como é o caso da música de Travi$ Scott, ainda para mais com Kanye West à mistura. A coisa não podia ter corrido melhor. Tanto a nível de som como de vídeo, este tema deixa marcas. É demasiado experimental mas nunca entrar em campos para lá daquilo que conseguimos compreender. Estranha-se, mas entranha-se. E rapidamente.

Comecei a acompanhar o trabalho do Travi$ este ano e fiquei surpreendido com o seu último álbum. É bom. Curiosamente este é capaz de ser o meu tema favorito do alinhamento, o que me deixou ainda mais agradado quando saiu o vídeo. É uma faixa que imaginaria ouvir da parte de Pusha T ou Kanye West a solo, por exemplo. É verdade que Kanye dá uma mãozinha mas ainda assim o Travi$ não se deixa ficar atrás. Diz-se que fazia parte dos planos para SWISH mas acho merecida a entrada em Rodeo, que ajuda ainda mais na afirmação do jovem rapper por sonoridades mais alternativas.

 


 

[PUSHA T] “Crutches, Crosses, Caskets”
(Darkest Before Dawn: The Prelude, GOOD Music)

Confesso que estava com uma sede enorme por novos temas de Pusha T. Mesmo não sendo dos meus MCs predilectos todo o conceito que ele cria em torno da sua música é algo fora de série. A combinação das rimas, flows, instrumentais e até mesmo dos vídeos é algo digno de quem se encontra bastante acima da média. Por ser um álbum recente ainda não o consegui absorver a 100% mas tem tudo para ser colocado como um dos melhores projectos de 2015. Pusha T tem-nos oferecido uma tareia de novos singles, cada um mais fresco que o outro, carregados de uma enorme vontade de escalar ao topo da cadeia alimentar. Quem trabalha consegue sempre colher bons frutos. Ele é uma grande prova disso com todo o empenho que coloca tema atrás de tema para que chegue aos nossos ouvidos e nos crie a sensação de que devemos – e queremos – ouvir mais e mais. Esta, em especial, tem estado em repeat por estas bandas.

 


 

[JAY ROCK FEAT. BLACK HIPPY] “Vice City”
(90059, Top Dawg Entertainment)

O álbum de Jay Rock não me cativou tanto quanto estava à espera. Mas nem tudo tem de ser mau. Para mim, este é um dos singles incontornáveis de 2015. Retrata perfeitamente a era em que vivemos com o tipo de som para o qual o hip hop se tem vindo a aproximar cada vez mais e mais. Tem uma das linhas de baixo mais agressivas do ano passado, num beat bastante minimal, apenas com os elementos suficientes para nos deixar colados às colunas.

O ano ficou marcado pelo grande lançamento a solo de Kendrick, valendo-lhe várias nomeações para os Grammys. Entretanto, neste tema, assina com o nome do colectivo Black Hippy juntamente com os restantes companheiros Ab-Soul e ScHoolboy Q. Será que após o seu sucesso pessoal com To Pimp A Butterfly chega agora a altura de Kendrick mudar a rota do seu som e focar-se neste colectivo? Só o tempo o dirá. Mas se for para criar mais temas como este eu sou completamente a favor.

 


 

[CULT OF THE DAMMNED] “Cult of The Damned (Prod. Col. Mustard & Reklews)”
(Cult Of The Damned, Blah Records)

O mais recente supergrupo britânico conta essencialmente com a quantidade de bons MCs que se fazem alinhar dentro dos parâmetros do egofreak. É a meu ver um marco importante na afirmação do estilo, que tanto se tem destacado no Reino Unido. O conjunto de 10 MCs é formado por Lee Scott, Black Josh, Sleazy F Baby, Salar, Stinkin Slumrok, Bisk, King Grubb, Bill Shakes, Tony BrokeSly Moon e fez-se também acompanhar de um EP.

Cult Of The Damned foi um dos projectos britânicos mais bem recebidos por mim no ano passado não tanto pela novidade mas sim pela variedade de praticantes deste culto que fizeram questão de se impor no microfone tanto em faixas como em palco. Mostram uma enorme disponibilidade e vontade para manter o movimento deles de pé. Lee Scott, em especial, esteve a um nível bastante elevado também na sua carreira a solo.

 


 

[KENDRICK LAMAR] “Alright”
(To Pimp A Butterfly, Top Dawg Entertainment)

São 11 as nomeações para os Grammys que To Pimp A Butterfly valeram a Kendrick Lamar. E bem merecidos, por todo o conceito em torno do álbum que nos leva numa odisseia pelo hip hop consciente e o jazz contemporâneo. Não passou ao lado de ninguém. Todos ouviram falar de Kendrick em 2015 e o seu regresso a Portugal é bastante aguardado pelos entusiastas de todos os cantos do mundo da música.

De toda esta obra-prima, o tema que destaco é “Alright”. Pode parecer clichê mas não consigo negar a força que esta música transmite. É realmente muito inspirador e bonito, chegando mesmo a mover massas, visto que até se tornou em banda sonora de manifestações.

 


 

[VINCE STAPLES] “Norf Norf”
(Summertime ’06, Def Jam)

Último mas não menos importante. Até porque Summertime ’06 foi indiscutivelmente um dos álbuns de 2015 que mais me acompanhou. O gangsta rap ganhou aqui novos contornos, tanto a nível sónico como lírico, seguindo uma fórmula tão crua que é capaz de prender a atenção de qualquer um que se tenha arriscado a escutar Vince Staples este ano. Foi uma grande surpresa, de um jovem por quem já tinha alguma admiração mas que não esperava que rebentasse tão cedo. Ainda bem que o fez. Tornou o ano mais preenchido. E embora se encontre mais desaparecido no momento, a sua música continua a ecoar por estes lados – inclusive no Rimas e Batidas.

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