Era digital, informação à velocidade da luz. Vídeos e músicas a soçobrar pelas plataformas virtuais. Novidades emaranhadas entre si, confusão sónica, sentidos desorientados. Quem nos guia? Por onde vamos? Para onde vamos?
7 Dias, 7 Vídeos é o resgate audiovisual semanal nos terrenos do hip hop e electrónica. Filtragem de qualidade, barreira contra a poeira que nos cega com tanto de novo, com tanto para espreitar e escutar.
[Buddy] “Black 2”
Com tanta cultura negra que consumimos, ser “black” era suposto ser um privilégio e não um martírio. A luta segue a sua marcha mas o ódio racial continua, infelizmente, a levar a melhor. “Ontem” foi Bruno Candé, amanhã pode ser Papillon. Parem, reflictam e olhem à vossa volta. Não deixem passar em branco qualquer tipo de violência motivada por divergências de ordem racial, porque da palavra à acção são apenas cinco segundos e o tempo não volta atrás. Sejam activos, denunciem ao mínimo sinal e não assobiem para o lado se a injustiça estiver a acontecer mesmo à vossa frente.
Em “Black 2”, Buddy descreve o estado alienado em que se encontra o país que mais produz e consome cultura negra no mundo, uma sociedade que continua a fingir não ver o que de mau se está a passar com a comunidade afro-americana. will.i.am ou Guapdad 4000 surgem a dar a cara no vídeo que faz referência a Malcolm X e ao movimento Black Panther.
[Ski Mask The Slump God] “Burn The Hoods”
E quando a palavra já não nos leva a lado nenhum, talvez queimar e mandar abaixo algumas coisas façam com que se eleve a voz do protesto. É este o sentimento de Ski Mask The Slump God, um espelho da revolta que reina nas ruas dos EUA desde o assassinato de George Floyd no final do mês de Maio. O realizador Cole Bennett identificou-se com a mensagem do rapper da Flórida e voltou a dirigir-lhe uma peça visual neste “Burn The Hoods”, no qual podemos fantasiar com a queima de alguns membros do KKK e bandeiras da Confederação.
[Kamaal Williams, Shabaka Hutchings, Lauren Faith & Alina Bzhezhinska] Ao Vivo @ Hassan Hajjaj’s Larache
Cada vez mais o concerto digital se torna num hábito para os consumidores mas está ainda longe de poder ser sequer comparado à experiência de estarmos numa plateia a assistir a um espectáculo ao vivo. No entanto a adaptação está a ser rápida e os avanços surgem a cada novo dia. Num encontro organizado pela Black Focus Records, o fundador da label Kamaal Williams junta-se a outros três nomes da vanguarda do jazz britânico num pequeno live act com visibilidade de 360°. A performance acompanha o movimento de protesto levado a cabo pela Black Lives Matter do outro lado do oceano, direccionando o público para uma página de doações à Stephen Lawrence Trust, uma instituição de caridade que ajuda comunidades pequenas na luta contra a desigualdade.
[ANKHLEJOHN] “OBELISK”
Provavelmente a alternativa mais credível ao universo Griselda Records no que toca ao street rap, ANKHLEJOHN continua a destilar veneno em cima de batidas a um ritmo alucinante. O mentor da Shaap Records, conhecido pelo tom intimidante e o flow arrastado, ensaiou uma nova abordagem às rimas durante a última semana: “OBELISK” assinala uma rara aventura do MC de Washington fora do ambiente boom bap sem comprometer a base cedida pelo “drill scott heron” britânico Manu Mainetti.
[Gizmo] “Serve It Out” feat. Mavo
“Serve It Out” veio coroar a já extensa jornada de singles que Gizmo está a protagonizar em 2020. O rapper de Rhode Island é um dos mais exímios praticantes do trap hardcore que tem o heavy metal como grande referência e editou o EP Argus Panopts no arranque deste ano. “SCAPHISM”, “Dying Dog” ou “Ember” estão entre as faixas avulso mais sonantes que tem vindo a editar desde então.
[CLBRKS & Morriarchi] “Membership Fee” feat. Bisk & Conrad Mundy
Chegou, encantou e ainda deixa os outros jogarem. CLBRKS formou com Morriarchi a dupla mais imprevisível deste ano para a cena hip hop do Reino Unido e estreou-se pela Blah Records com MICROWAVE COOKING 2000, rapidamente sucedido por PERFORMANCE ENHANCING DIET. Pelo meio aproveitou para recuperar um projecto de arquivo que mantinha em segredo com o amigo Conrad Mundy, que teve agora a oportunidade de brilhar numa plataforma de culto graças à sua contribuição para este “Membership Fee”, em que entra também Bisk, um veterano da label fundada por Lee Scott.
[Thundercat] “Grune the Destroyer Song”
Se há músico que é fã dos ThunderCats é, claro, Thundercat. A série animada criada nos anos 80 está de volta ao pequeno ecrã pela mão da Cartoon Network, agora apelidada ThunderCats Roar, e o famoso baixista e produtor da Brainfeeder foi convidado a criar o tema associado ao vilão Grune, que foi revelado durante a última edição da Comic-Con@Home.