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Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 16/05/2019

Em Junho, o músico finlandês apresenta (com a ajuda de João Pedro Fonseca) Kajastus nas Damas.

Zentex: “Tudo é válido desde que soe bem”

Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 16/05/2019

Zentex é o nome artístico de Jari Marjamäki, músico finlandês que está radicado em Portugal há vários anos. Com uma carreira vasta, o produtor tem-se mantido activo em vários projectos – a solo e não só – e tem dado palco a muita da música electrónica que se faz em Portugal pelo espaço que gere, o Desterro.

Em Kajastus, Jari retoma a sua estética house e acid: o pulso da música de dança dá um novo ritmo ao seu projecto Zentex — chegou a explorar novos mundos com Autio, uma aposta mais ambient, espaçosa e fragmentada. Estes quatro temas surgem a partir das “profundezas do disco rígido”. Sem ambições de trazer uma evolução ao que se tem feito na música electrónica – considerando até que a vê como estagnada e a “reciclar” velhos conceitos –, o produtor junta samples de voz em batidas four-on-the-floor, sem descurar o exotismo dos seus grooves ou percussões.

O quinto lançamento da ZABRA, sub-label da ZigurArtists, veio acompanhado na íntegra por vídeos da autoria de João Pedro Fonseca. O EP será ainda apresentado no dia 1 de Junho nas Damas, em Lisboa.



Outros trabalhos teus como Zentex apostavam numa concepção mais ambient. Este disco está muito mais ligado a uma sonoridade dançável, mais house, ao contrário do teu Autio, por exemplo. O que está por trás de Kajastus?

Os temas incluídos no EP fazem parte da muita música que compus ao longo desta décad e que ficou esquecida algures nas profundezas do disco rígido e das quais nunca cheguei a enviar a editoras para possível edição. Quando finalmente mostrei alguns dos temas ao pessoal da ZABRA, eles gostaram muito e quiseram imediatamente avançar com o lançamento.

Fala-nos da tua relação com a ZABRA. Sentes que a mesma influenciou a criação do EP?

Sou muito amigo do pessoal por trás da ZABRA e penso que é um projecto que traz uma lufada de ar fresco ao panorama português de música electrónica com a sua linha editorial variadíssima. Confesso que fiquei boquiaberto com o profissionalismo da editora em relação a este disco. Trataram de tudo com uma fluidez incrível, sem o menor percalço.
A ZABRA não teve influência na criação deste EP, pois já tinha composto os temas previamente ao longo desta década.

Entre o sampling e o uso de sintetizadores, como descreverias o teu processo criativo?

O meu processo criativo varia muito. Tento não ficar encalhado numa determinada maneira de trabalhar, experimento constantemente técnicas e soluções novas ao longo do processo da criação. Em termos de instrumentos que utilizo, tento também ser o mais variado possível e utilizar um pouco de tudo: sintetizadores analógicos, digitais, software, gravações de campo… tudo é válido desde que soe bem. Às vezes componho tudo na DAW, outras gravo tudo improvisado, analogicamente e em tempo real para multipistas. Não há regras, tento apenas a seguir o que soa bem naquela altura.

Tendo em conta a variedade e quantidade de projectos que integras, sentes uma grande diferença entre trabalhar com outros músicos e trabalhar a solo?

Sim, é uma grande diferença, mas para mim é uma necessidade. É importante trabalhar sozinho para implementar ideias próprias sem influência exterior, é um processo mais íntimo. Nos projectos com outros músicos, o processo de trabalho é diferente, existem mais factores a ter em conta do que as tuas próprias ideias. É um processo comunitário.

Sentes que o teu trabalho a gerir o Desterro influencia novas formas de criar, produzir ou conceber a tua música? Ajuda certamente a ter uma visão mais informada e alargada do que se está a fazer!

O trabalho de gerir Desterro não influencia o meu trabalho artístico em si, são dois mundos muito distintos e tento não misturar os dois, para mim é mesmo necessário separá-los. Já o conteúdo artístico no Desterro influencia e inspira-me artisticamente muito, sendo que lá tenho o privilégio de observar e colaborar com músicas e músicos de variadíssimas origens e influências todos os dias. A partir das relações entre as pessoas que conheci através do Desterro já nasceram três novos projectos em que participo e com os quais estou muito entusiasmado neste momento: Desterronics, 3I3O e Kachumbari Syndicate. Se ainda não ouviram a falar deles, vão ouvir em breve certamente.

Nesse sentido também, como sentes o panorama da música electrónica a evoluir?

Não tenho muito interesse em seguir os panoramas da música electrónica. Na minha opinião, a música electrónica deixou de evoluir a partir dos anos 2000 e desde então tem sido apenas reciclagem de conceitos e estilos criados nos anos 70, 80 e 90. Pouca coisa interessante e que realmente represente a “evolução” tem surgido nas últimas duas décadas, a meu ver. Agora, é verdade que tem surgido música interessante nestas décadas, apenas existe falta de evolução para algo realmente novo e original.


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