Os nossos loucos anos 20 estão a chegar e já ninguém quer ouvir álbuns de 19 faixas. Até porque um disco não é exactamente um conjunto de canções, exigindo uma história, ou pelo menos um fio-condutor, que trate de colar as peças, certo? Nem por isso. Quando Drake deu ao mundo More Life, que não era um álbum, EP, uma compilação ou mixtape, a desconfiança pairou mas o jogo mudou em definitivo.
Ao contrário do que se vai discutindo, o culto dos singles não é um exclusivo da nossa era. Já lá vai um tempo desde que o vídeo matou a “radio star” e desde há muito que o entretenimento musical vive da imagem e da reacção instantânea. A diferença? A consolidação do streaming, agora que o “resto do álbum” está disponível como qualquer single, mas também esta capacidade singular que o hip hop tem para transformar o globo. 40 anos depois do premonitório sucesso dos Buggles, também fazemos parte do jogo e está na hora de o mudar.
O aviso foi dado pelo próprio Young Thug: o novo álbum, primeiro à séria desde que se apresentou ao movimento, é um conjunto de músicas feitas para ilustrar diferentes estados de diversão. Mais do que uma obra de arte, composta por elementos comuns que se anulam e completam em uníssono, So Much Fun representa a galeria em si: o tema da exposição é comum às peças apresentadas, mas é obrigatório perder tempo em cada uma delas como se nada mais houvesse à nossa volta. Tudo bem, até porque a entrada é gratuita e podemos voltar amanhã (ou no dia seguinte, ou no dia depois desse).
Chamar-lhe disco de estreia é ousadia, só que não deixa de ser verdade e o timing não podia ser melhor. A legião de fãs está consolidada como poucas outras, os ventos da indústria correm para o lado certo e a identidade de Young Thug é uma parte cada vez mais substancial da equação. Em So Much Fun ainda há espaço para as comparações com Lil Wayne, como em “Pussy” ou “Just How It Is”, que abre o álbum a pés juntos, mas já não é obrigatório fazê-lo. A genética é incontornável, porém o tempo tratou de distinguir o pai deste seu filho perfeito, entretanto deserdado.
“Ecstasy”, “Cartier Gucci Scarf” e “Circle Of Bosses”, por exemplo, são gritos inconfundíveis de um líder geracional por conta própria, mesmo que nem tudo tenha resultado. Pi’erre Bourne esteve abaixo do esperado — ou, melhor dizendo, as escolhas de Young Thug nas faixas em que colaborou com o produtor –, e nem sempre as cedências feitas em favor dos featurings levaram o melhor rumo. Enquanto Quavo, Travis Scott, Juice WRLD ou Lil Uzi Vert trouxeram o melhor do protagonista à superfície, as presenças de Gunna, Lil Baby ou Lil Duke pouco acrescentaram.
Não se posicionando como um dos melhores álbuns lançados nos últimos tempos, So Much Fun é seguramente uma das mais entusiasmantes playlists de rap lançadas desde, digamos, sempre? Pelo menos desde que os discos — ou alguns deles — se transformaram em colectâneas desses singles que nos anos 80 nos tomaram de assalto.