[TEXTO] Diogo Santos
A estrela do SoundCloud, plataforma em que se deu a mostrar à Internet e arredores, deixou a prisão em Março e, cinco meses volvidos, tratou de editar o disco de estreia, 17. Aos 19 anos, XXXTentacion ou Jahseh Onfroy, como constará nos documentos das esquadras da polícia do Estado da Flórida, despe a figura de mauzão lá do bairro e, em 14 curtas faixas, explora todas as suas fragilidades, medos e ansiedades.
Para começar, “The Explanation” é exactamente aquilo que diz ser, 50 segundos de um garoto a dizer-vos que o que está para vir é triste e real. Tão verdadeiro como a depressão e o episódio de suicídio que se segue na faixa-homenagem “Jocelyn Flowers”. Numa obra que é difícil de catalogar, é na triste “Depression & Obsession” que Onfroy sai pela primeira vez do largo espectro da música feita em cima de uma cama de beats. De guitarra nas mãos, XXXTentacion parece um daqueles canta-autores que há cerca de uma década ajudavam a erguer a indie folk e as cantigas fofinhas. Só que aqui não há nada de fofo, creio.
Os títulos das faixas, bem como as letras, não deixam grande espaço para interpretações. É cru e é muito honesto. O quarto tema, “Everybody Dies in Their Nightmares”, é somente o segundo exercício de rap de XXXTentacion nesta primeira metade de 17. E logo depois uma dose dupla de canções (“Revenge” e “Save Me”) que podiam muito bem ter sido retiradas dos baús dos Death Cab for Cutie, num daqueles dias em que o pequeno-almoço cai mal, e dos The Cure, respectivamente.
Após o interlúdio, “Dead Inside”, Trippie Redd surge para ajudar dar corpo a “Fuck Love”, um dos temas que mais facilmente nos transporta para aquilo que é a grande parte do repertório de Onfroy. Em “Carry On” continuamos pelas sonoridades mais próximas do r&b e do hip hop, numa outra composição que podia muito bem alargar-se para lá dos 2 minutos e 10 segundos. Não que até aqui não se tenha sentido depressão, tristeza e raiva, mas é no solitário piano de “Orlando” que XXXTentatacion parece atingir este desesperado nirvana. A despedida em “Ayala” é apenas última e mais evidente referência à ex-namorada.
De estrela da Internet a detido por violência doméstica e não só, Jahseh Onfroy é um miúdo perturbado. E com talento. Já andou metido em sururus com Drake. E até já caiu nas graças de Kendrick Lamar ou 9th Wonder. Então e estes vinte e dois minutos de música feita à boleia de construções lo-fi? Bom, digamos que 17 é o disco a solo que Kurt Cobain faria se 1986 fosse 2017.