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Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 17/09/2025

A artista pré-apresenta o novo álbum no Lux Frágil esta quinta-feira.

XEXA antecipa Kissom: “Se eu falar de amor, não precisa de ser bonito. Gosto da crueza e da verdade”

Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 17/09/2025

Dois anos após se estrear na Príncipe Discos com Vibrações de Prata, XEXA está prestes a voltar com o seu segundo disco, Kissom. O álbum é editado a 26 de Setembro mas tem uma pré-apresentação ao vivo já esta quinta-feira, dia 18, no Lux Frágil, com bilhetes disponíveis por 10€.

No mesmo registo de antecipação, XEXA abre o jogo em entrevista com o Rimas e Batidas e fala de um segundo trabalho bastante diferente do primeiro tanto nas intenções, onde se destaca a exploração do ritmo, um elemento do qual se tinha propositadamente distanciado no seu primeiro projecto, e o abraçar de outras raízes identitárias musicais com uma abordagem desconstrutiva; como no amadurecimento artístico e pessoal que se reflecte na nova dezena de canções.

Em discurso directo, a artista criada na Quinta do Mocho e radicada em Londres desde 2019 quando se mudou para seguir os seus estudos na música explica como as experiências internacionais dos últimos anos se intensificaram e moldaram a sua arte e detalha tanto quanto possível o disco que se aproxima. Cheguem-se à frente para escutar.



Tendo em conta que é uma entrevista de antecipação do álbum, a primeira pergunta tem que ser: Kissom é este? E porquê este título?

Eu estava bastante na dúvida em relação ao título do álbum, ele só apareceu em Abril. O álbum já estava feito e masterizado, mas ainda sem nome. Já tinha a track “Kissom” e estava numa conversa, penso que foi o Márcio [Matos] que sugeriu. Eu expliquei-lhe que não sabia que som é este, que o álbum significa várias coisas. Mas ficou. Também é como se fosse um beijo sonoro, kiss som. E brinca com a pergunta que me fazem sempre desde o início da minha carreira: “Que som é este, que som é que tu fazes?” No primeiro ano, não dizia nada a não ser electrónica. Depois, a partir de meados de 2022, comecei a falar em afrofuturismo. Que também é um conceito que pode significar diferentes coisas.

E que som é este que encontramos neste álbum? Sei que pode ser difícil pedir palavras a quem se expressa sobretudo na música, sem precisar de racionalizar tudo. Mas, até em comparação com o Vibrações de Prata, o que é que sentes que este álbum tem de novo, em termos sónicos?

Quase tudo. Eu digo que o Vibrações de Prata é o meu álbum bebé, são as minhas experimentações iniciais. Mas não tem muito a ver com a minha identidade actual. A maior parte das músicas que lá estão são as primeiras tentativas de várias coisas. Por exemplo, a “Assim” foi a primeira música em que escrevi uma letra e cantei. Foram as primeiras experiências com música electrónica em que eu conseguia ouvir e dizer: “Ok, soa a música, não apenas a som.” O Kissom tem muito daquilo que tenho vindo a pesquisar e era o intuito quando comecei a fazer música aos 17 anos. Sempre quis jogar em géneros que são familiares, porque o meu pai adora ouvir música, toda a minha família adora, todos têm colunas de um metro. Eu pensava que toda a gente tinha colunas assim em casa, mas depois percebi que era uma coisa são-tomense.

Um soundsystem, quase.

E eu sempre quis… Não vou dizer extrair, mas encontrar uma síntese ou algo que pudesse retirar do som. O que é que faz da kizomba a kizomba? O que é que caracteriza esse som? É o movimento? O silêncio? Os ritmos?

Quiseste desconstruir, desfazer o puzzle para depois o voltares a montar com outros ingredientes.

Exactamente. Já que a kizomba é bastante rítmica, que o batuku é percussão, se eu tirar a percussão e puser a minha voz ou a ressonância de alguma coisa com a mesma métrica rítmica, ainda é kizomba ou batuku? 

E suponho que não estejas à procura de conclusões, o que importa são as perguntas que deixas no ar. 

Exacto.

Isso é muito interessante. Essa descrição que fizeste tem muito a ver com o single que já lançaste, “Kizomba 003”.

Acho que é dos meus sons mais simples, comparado com o resto do álbum. Eu queria mesmo trabalhar o ritmo, é algo a que eu quase fugi no primeiro álbum. Um ritmo assertivo que tu conseguisses ouvir. Este som foi feito no ano passado, numa maré de emoções entre relações, em que eu estava a ir e a vir. Eu queria… Quando escrevo, tenho bastante cuidado com as minhas palavras porque não gosto de escrever só para rimar. Acho que isso tira a verdade das palavras. Nem tudo o que é verdade rima. E também, o que é uma rima? Podes rimar no início, no final, no meio da palavra, na forma como a dizes… Então, com a “Kizomba 003” quis mesmo fazer isso, brincar com as métricas da kizomba, puxar um synth que quase fosse mais ritmo do que a própria percussão. Com uma voz bastante directa, a falar mesmo, sem medos. E também quis que fosse uma kizomba de uma mulher para uma mulher. Porque raramente ouves uma kizomba em que é uma mulher a cantar. As músicas que ouvia eram sempre de um homem apaixonado por uma mulher. Era sempre uma relação muito hetero e normativa. E também quis contrariar isso.

Também desconstruir nessa perspectiva social.

Porque, se quisesse escrever uma kizomba, tinha de ser verdadeira. E se eu escrevesse para um homem ou pensasse nela para um homem, seria mentira. Então, quis tirar mesmo essa pressão social de ser uma mulher a falar para um gajo ou o contrário. E é uma música de memórias. 

E é a “003” porque foi a terceira tentativa de fazeres a tua versão de uma kizomba?

Acabou por ficar a terceira faixa do álbum, mas é mais para brincar um bocado com as relações. Na kizomba, tu danças a dois. Mas na verdade são três — no sentido em que tens o par e tens as dúvidas. Quem tu és, o que é que queres, o que não queres… Há sempre a tua intenção, a intenção da outra pessoa e aquilo que está no meio. 

A desconstrução em todas as suas facetas. E começaste a trabalhar neste disco logo após o Vibrações de Prata?

Ainda antes. O Vibrações de Prata saiu em Outubro de 2023, mas as primeiras músicas deste são do início desse ano. São a “Quem és tu” e a “Transversive Line”. Eram músicas mais envolventes, naquela altura estava numa fase de fazer músicas maiores, mais ambient. E produzia mesmo com o intuito de fazer uma viagem sonora, espaços novos em que pudesses entrar. Só que percebi que não estava diferente o suficiente daquilo que era o Vibrações de Prata. Então tinha de viver e de dar espaço para algo crescer. Este álbum até esteve quase para sair no ano passado, com metade das músicas. Só que faltava algo. Faltava a “Kizomba 003”, a “Kissom”, a “Será”… Faltava o que puxava para a frente de forma destemida. E o facto de não ter lançado o álbum no ano passado permitiu-me remixar as músicas que eu pensava que já estavam ok… Com o tempo que tive para voltar atrás e ouvir de novo, fez com que elevasse a música do projecto. Isso permitiu-me redescobrir coisas das músicas e viver mais. Então, o álbum foi feito nos últimos três anos.

E, pelo menos na música, foram anos em que aconteceu muita coisa, em que tocaste em muitos sítios diferentes. Essas experiências todas moldaram-te muito e à tua música?

Sim, adoro os live shows que fui fazendo na Europa. A oportunidade de estar na Alemanha ou em França, a andar pela Europa a ver o que outros artistas de música electrónica fazem… Nem é muito a inspiração do som, mas ver as mesas deles, quando vi a Loraine James pela primeira vez em Londres, fiquei… “Podemos usar a nossa voz como ritmo? Posso usar a minha voz como sample?” É este contacto com outros artistas que faz com que eu puxe a minha criatividade para a frente. Ou conhecer o Nazar, tocámos no mesmo palco no Primavera Sound e já o ouvia há bastante tempo, ele tem o seu hardcore kuduro e inspirou-me bué a voltar às minhas origens, porque eu negava bué. “Ah, eu não preciso de fazer ritmo. Quero só fazer o meu som original.” Só que o teu som pode ser original mesmo com influências da tua herança. 

Claro. E também é interessante porque e há pouco referíamos o conceito lato de afrofuturismo estes anos em Londres e a viajar pela Europa levaram-te certamente a ter contacto com muitas Áfricas diferentes, com muitas comunidades de origens distintas, que praticamente não existem em Portugal.

Exacto, em Londres foi a primeira vez que tive contacto com a diáspora da Nigéria, da Jamaica, da África do Sul ou do Gana. São comunidades que aqui não têm expressão. E também têm identidades muito diferentes, que têm a ver com o país de origem mas também o país onde criam ou o país com que são identificados… E o que é isso, o que é que isso significa?

Exacto. E sentiste que essas experiências também te moldaram musicalmente, ou na verdade foi mais uma questão de ires ao teu interior, às tuas próprias raízes, recuperar uma série de coisas que te interessava explorar?

É, é isso, eu tenho bastante cuidado com as minhas inspirações e também com quem ouve a minha música. Até o álbum ser enviado para a Príncipe, ninguém ouve as minhas músicas. Não é ter medo da opinião. Uma coisa é uma crítica que existe para te fazer crescer, são pessoas que querem a evolução da tua arte ou de ti mesmo, mas uma opinião é bastante subjectiva. E quando estou a fazer uma música e ainda não está acabada e mostro a alguém… Um receio que tenho enquanto produtora é mudar alguma coisa na música não porque a música precisa, mas porque alguém sentiu subjectivamente que, se fosse ele a fazer, fazia desta forma… Assim acabas a cair em cenas normativas. Lembro-me de que no primeiro ano da minha carreira, quando ainda estava a descobrir o liricismo, uma artista disse-me que na rima não podes rimar na mesma métrica que o ritmo, que a cadência não pode estar ao mesmo tempo que o ritmo. E eu achei isso estranho, porque… Pode. Se a ti te faz confusão, é contigo. Mas…

Não há regras.

Sim, então algo que faço sempre na minha música, até em colaborações, é fazer a minha cena e só quando está terminada é que partilho. E acho que isso me tem ajudado bastante. Obviamente que é bom colaborar — e eu colaboro — e receber opiniões terceiras. Mas prefiro ter essa opinião no final. Foi o que aconteceu quando fiz o álbum que era para sair no ano passado. Quando mostrei ao Nelson [Gomes], ao André [Ferreira] e ao pessoal da Príncipe, eles curtiram mas deram-me um toque ou outro. Afinal, era mesmo para eu crescer. E isso permitiu-me voltar atrás e fazer aquele processo que te disse. Porque eu estava mesmo com a pressão social de lançar música nova, mas não, precisava de viver mais uma beca, ter tempo para fazer as minhas músicas. Só que também entrei num rol de comissions e acabas por não ter tanto tempo para produzir uma cena para ti…

E esse contacto e diálogo com uma editora como a Príncipe também é interessante. Embora não partilhes a música durante a construção, sentes que é importante teres essas pessoas do outro lado?

Sim, eu quando envio música já está quase masterizada, só precisam de mexer nalguns níveis que eu já não consigo fazer porque estou a produzir aquilo há tanto tempo que já não consigo ouvir a falta de bass ou seja o que for. Mas depois eles puxam e fica melhor. E há outras coisas. Uma das minhas maiores dificuldades é o alinhamento, a ordem das faixas. Até mesmo nos meus live sets, que mudam consoante os sítios. Quando o Nelson me sugeriu o alinhamento do disco, para mim estava perfeito, fazia todo o sentido. Esse terceiro olho ajuda. Eu tenho a mania de que consigo ver a 360 graus, mas não consigo. Tal como não consigo escrever sobre mim mesma, fazer um texto com cinco linhas sobre três anos do meu processo de trabalho. O que é que eu vou dizer? Há tanta coisa…

Claro, por isso é que é importante alguém que o faça e que estejamos aqui, depois, a fazer a entrevista para explorar a tua visão sobre o teu trabalho. Voltando à “Kizomba 003”, dirias que é um single representativo do álbum, ou não necessariamente, porque o disco inclui coisas completamente diferentes?

É, todas as músicas são diferentes. Tens a parte A e B, até por causa do vinil, e a A é mais rítmica, diria. Eu só queria fazer ritmos com coisas diferentes… Só tenho medo da repetição, é por isso que não faço refrões, não gosto de padrões. Acho que o meu padrão é fazer o que me apetecer, que é a minha marca. Então o álbum vai desde cenas mais electrónicas, sem grandes influências rítmicas de São Tomé ou dos PALOP, até cenas mais abstractas e ambient, como a “Quem és tu”, e outras mais concretas como a “Kissom” e a “Kizomba 003”. Acho que a primeira parte do álbum é a falar para fora e a segunda sou eu a falar para mim mesma, é mais introspectiva. 

E a tua voz está muito presente no resto do disco?

É metade metade, também. Acho que são umas cinco músicas em que uso a voz. Também gosto de me permitir explorar mais a produção electrónica e o sound design. Fazer outro tipo de truques sonoros. 

E, por curiosidade, como é que costuma funcionar essa parte da exploração da voz? Normalmente tens uma base instrumental que já criaste e depois começas a explorar literalmente com a voz e vais encontrando palavras que encaixam e fazem sentido? 

Muitas vezes produzo uma música em várias fases. Com a “Kizomba”, por acaso, foi mais linear. Ao ouvir a música lembrei-me logo de uma letra. Mas, por exemplo, com a “Será” e a “Txê”… Na “Txê”, a percussão é feita com a minha voz. E quando já tens a tua voz na base da música, tens de ter outra coisa para contrapor, algo diferente do coro que é a minha voz. Então, muitas das vezes produzo a música primeiro. Tenho uma ideia, entro no estúdio e produzo. Muitas das vezes começo com um synth, porque eu digo que o synth é a atitude da música.

Define o estado de espírito.

Sim, quase te diz algo sem ter palavras. E faço essa produção sem grande mistura. E depois exporto e oiço aquela música uma ou duas vezes em cenários diferentes, muitas vezes a andar na rua. Assim consigo ver se os níveis estão bons e posso puxar aqui e ali. E depois há coisas que posso acrescentar a nível instrumental. Ao mesmo tempo, começo a ter ideias para a letra, e depois gravo, geralmente mesmo em murmúrio. Tem um pouco de palavras, mas não está tudo. Depois sento-me mesmo a escrever, como se fosse um poema, já com a cadência. E depois é que gravo por cima. E ainda faço a mistura e acrescento mais produção. E gosto de escrever em português, sendo que de vez em quando também faço uns reflexos em forro, língua de São Tomé. Mas como estava a dizer, tenho bastante cuidado para que seja uma letra real. Se eu falar do amor, não precisa de ser uma cena bonita. O mesmo para a tristeza. As coisas são como são. Gosto bastante dessa crueza.

Há pouco falávamos dos muitos sítios em que tocaste nos últimos anos, das várias metas que alcançaste e várias provavelmente nem sequer são ainda públicas. O que é que tu gostavas de alcançar com este disco ou a partir deste disco que ainda não concretizaste? 

Eu queria ter mais contacto com Portugal, porque sinto-me bastante distante. Apesar de editar com a Príncipe e de ter nascido e crescido cá. Estou em Londres e isso dá-me bastante contacto com o Norte da Europa, mas sinto que quero criar mais raízes, que as pessoas em Portugal conheçam mais o meu som. A maior parte dos meus listeners estão fora, mas eu canto em português. Então queria cimentar mais o meu público cá, se bem que já sinto que o estou a fazer. Não tanto com a música em palco, mas com as coisas que tenho feito em museus. E adoro a recepção que tenho aqui em Portugal, adoro tocar para o público português. É como se estivesse a tocar para a família. Principalmente aqui em Lisboa, porque metade das pessoas na plateia são pessoas que conheço. Também gosto de tocar em Espanha, acho que eles entendem também. Quando toquei no Berghain, em Berlim, por exemplo, nem tinha muita noção do peso. Mas para mim todos os sets são importantes e tudo o que faço no palco tem de soar perfeito.

Também estiveste na Coreia do Sul.

Sim, através do promotor da Milan Design Week, eles fazem aquelas instalações com luzes e convidaram-me para fazer algo similar, um set diferente. E é interessante ver como é que as pessoas que não entendem português reagem à tua música. Porque eu pensava que não iam entender. Mas eu percebo, também oiço bastante música árabe apesar de estar a aprender árabe há um ano, mas mesmo quando não entendia a língua… São pessoas que ouvem a música de uma forma que eu não vou conseguir ouvir.

É como se cada pessoa tivesse uma relação diferente com a tua música. E agora estás prestes a fazer uma pré-apresentação do álbum no Lux Frágil.

É, não vou tocar as músicas todas, mas vou tocar metade. Acho que vai ser um set mais leve. Fui de férias pela primeira vez em três anos e estou com uma paz diferente. Lembro-me de começar a minha carreira, de em 2022 tocar na sexta na Zé dos Bois, tocar no sábado no Passos Manuel, domingo voltar a Londres e segunda de manhã ter aulas na faculdade. E mesmo quando acabei o curso, estava sempre em ziguezagues. Nunca tive assim duas semanas, acho que desde 2019, só para ficar a ver o mundo e a luz e sei lá. Então, isso muda o teu set. E também vai ser um set querido para mim, porque agora vou tocar as canções que ando a guardar há uns dois anos. Eu não gosto muito de tocar músicas unreleased com muito tempo de antecedência…

E vês-te a ficar em Londres, a longo prazo?

Nos últimos dois anos, não fiquei um único mês seguido em Londres, tenho estado sempre muito entre sítios, e entre cá e lá. E acho que gosto dessa métrica de vida. Se ficas num sítio, acomodas-te. Isso também provoca cenas na tua mente. Eu gosto do choque, gosto de estar num sítio e estar a cantar e agora tiro-me dali e vou para outro. O choque também traz coisas boas, o choque faz-te pensar. Tenho aqui dois meses em Portugal, depois mudo de lifestyle e estou numa rotina completamente diferente. Mas o que me mantém mais em Londres é mesmo a cultura. Há sempre muita coisa a acontecer, é mais fácil sair, há sempre muitas pessoas de fora. E quando eu saio em Lisboa, vivo em Vila Franca e tenho sempre que chamar um Uber. Ou me limito à meia-noite e não consigo ver nada porque as festas começam a essa hora, ou comprometo-me a apanhar o comboio às seis da manhã, ou preciso de ter 20 euros todos os dias que saio para ir para casa. Em Londres, apesar de tudo, é mais fácil. E isto também cria classes, sair para ouvir música e consumir cultura torna-se um luxo. E também foi em Londres que comecei a ter mais interesse no teatro, aquilo tem muitos pólos culturais na cidade e eu gosto bastante da surpresa.

Falas do teatro e tens explorado outras vertentes da tua música com as tais instalações sonoras em espaços de museu, etc. Há outras coisas que gostavas de explorar nesse sentido? Além das performances e dos discos. 

Sim, tal como eu tenho andado a explorar a voz, mas quando comecei a produzir música, nunca pensei que iria para o palco cantar. Pensava que iria ser uma pessoa de estúdio. Diz-me o que queres que te envio, faço as minhas coisas e o pessoal ouve — estava com esse espírito. Só que a Príncipe surgiu quando eu estava a fazer o Calendário Sonoro e naturalmente acabei por ir para o palco e adoro. Mas, antes da música, estudei na António Arroio, tenho bastante interesse em artes. E acho interessante o espaço de galeria, os espaços de arquivo, que têm componentes educativas e históricas. Sempre quis fazer instalações. E as coisas que fiz para o gnration, o surround sound que fiz para a Gulbenkian com a Cristina Roldão e a Zia Soares, também trazem outras possibilidades. Na Gulbenkian conseguimos fazer isso que eu já queria há algum tempo, numa sala que era toda ela uma coluna, todas as paredes e arestas, é quase como entrar numa memória. Vão agora surgir instalações maiores, tenho uma a acontecer em Londres e estou num processo de fazer algo que se cruza com arquitectura… Gosto bastante deste crossover entre artes, e a minha música e as minhas pesquisas podem ser aplicadas em vários contextos. Está a acontecer algo o que é que podemos fazer em relação a isso? Tens um grupo de actores, eu faço música, ‘bora fazer algo. Gosto do facto de não estar somente num espaço.


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