[TEXTO] Rui Miguel Abreu [FOTOS] Peter Não Neutro
Nunca ouviram nada assim cantado em português: FLANELA é o novo EP de Woner, um encontro sónico num sítio inóspito e uma conversa com auto tune ligado.
Depois de Support Your Local Junkie – trabalho composto apenas por instrumentais – , o artista do Porto volta a confrontar os seus demónios num projecto com 9 faixas. Um filho de Frank Ocean e Kurt Cobain criado na Invicta. Porque não?
O ReB esteve à conversa com Woner e debruçou-se sobre as mudanças neste novo EP e o seu lugar no rap nacional:
Queres começar por nos apresentar este novo projecto? Sucede ao trabalho que lançaste em Março, certo? Support Your Local Junkie…
FLANELA é um EP que já queria ter feito há algum tempo. É sobre uma rapariga para quem já tinha feito umas músicas mais antigas. O objectivo era ser despreocupado e mais orgânico do que os meus outros projectos. Só não me quis sentir preso.
FLANELA num calor destes é um bocadinho ir contra a corrente, certo?
É verdade que acabo por me encontrar inexplicavelmente sempre a caminhar contra a corrente. Neste caso, foi uma referência às camisas de flanela que tanto uso e que “tão grunge são” neste meu projecto emo.
Tens os títulos todos em português. Devemos ler alguma coisa nisso? (ou melhor quase todos)
Não há grandes segredos nos títulos, mas alguns deles são para chamar a atenção de uma rapariga.
Fala-me do uso da voz… Está a intrigar-me…
Acho que ainda não tinha usado a minha voz assim. Noutros projectos notava-se muito a influência screamo, e eu sempre quis fazer um mais soft emo. Já tinha várias destas músicas feitas, mas estavam muito raw. O carácter foleiro do auto tune acabou por fazer com que ficasse mais interessante.
Há por aqui um tom rock muito claro (e talvez daí o título). Que referências apontas para este trabalho?
Exactamente. Todas as bandas emo que ouvi quando era mais novo. Ultimamente tenho ouvido Orchid, Suis la Lune e TK, que acabam por estar mais do lado screamo, por isso nem sei se me baseei muito neles. Foi tudo muito do momento.
Soas-me um bocadinho como um OVNI na cena nacional. Sentes-te muito à parte?
Sinto-me completamente à parte, não é bom. Sinto que crio muito, que em alguns momentos fiz coisas que só depois vieram a ser feitas por outros artistas. Sinto que nunca me foi dado o devido valor. Estou a fazer um projecto com o Ghost Wavvves que tem potencial para mudar isso. Mas fora isto, vou criando as minhas coisas consoante o que me for apetecendo fazer.
Quem vês a identificar-se com a tua musica? Qual é o teu público?
À primeira vista, diria que o meu público são os adolescentes da Internet, super instáveis, apaixonados e que pensam ser especiais, mas não. Esse público vem e vai, renova-se consoante as modas. Acho que o meu público é o mesmo que gosta de ler Baudelaire, ver filmes pela narrativa, ver exposições pelo conceito. Acho que esse é o meu verdadeiro público, porque se dão ao trabalho de tentar descodificar tudo.
Fala-me da produção: estás a tocar guitarra? Isto são tudo samples?
Às vezes, toco para algumas produções, mas, neste caso, foi tudo sample. Quis uma abordagem o mais simples possível, sem pensar muito, sem perder muito tempo, sem muitos “filtros”.
https://www.youtube.com/watch?v=NrVa2yaMtrY