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Publicado a: 30/09/2016

White Haus: “Este é o meu universo e tento pô-lo a funcionar da melhor forma possível”

Publicado a: 30/09/2016

[TEXTO] Bruno Martins [FOTO] Luís Espinheira

O mês de Setembro já ia lançado quando se combinou um encontro com João Vieira. Manhã cedo para poder encaixar da melhor forma a entrevista com o Rimas e Batidas no meio de múltiplas outras acções de promoção ao seu novo disco, Modern Dancing, que hoje chega às lojas. É o segundo longa-duração do seu projecto White Haus, o lado a solo do músico e compositor dos X-Wife, que teve o início em 2013 com um EP homónimo que o direccionou para coordenadas electro-rock e que conheceu uma sequência um ano depois com The White Haus Album.

João Vieira aparece-nos de boné e uma sweatshirt cinzenta. Sorri, ao sol, apesar de se queixar de uma noite ao frio, depois de o hostel onde pernoitou nesta visita promocional a Lisboa não lhe ter dado nem sequer uma manta para se aquecer naquele período da madrugada em que ainda não é bem dia. Vem com vontade de falar sobre Modern Dancing e isso é indicador da alegria que teve em poder dar uma feliz sequência ao seu trabalho a solo. Um disco que deixa transparecer uma série de coisas, a começar pelo eclectismo de João Vieira (também conhecido como DJ Kitten na altura de pôr as pistas a mexer). O álbum tem paragens obrigatórias no electro-pop; nos sintetizadores, sequenciadores e vocoders dos Kraftwerk ou de Prince; na Nova Iorque dos anos 1970 e 1980 que se agitava tanto com o pós-punk como com o new wave; nas batidas de Detroit e de Chicago; nos LCD Soundsystem e em toda a irreverência punk da DFA. Starts with a beat, ends with a bang, (d)escreve Vieira na sua página de Facebook.

“Quando fiz o primeiro disco nem sequer tinha uma banda”, começa por recordar. “Nem sequer sabia qual o formato que ia ter ao vivo.” Essa é uma das mudanças do primeiro para o segundo trabalho: as dinâmicas de uma banda, a importância de ter humanos a tocar os instrumentos – André Simão, Graciela Coelho e Gil Costa, na circunstância. “Se no primeiro disco tive que adaptar as canções para as poder tocar ao vivo, neste segundo quis fazer crescer o som com os músicos em estúdio” e partir para longe do registo “assumidamente lo-fi” de The White Haus Album. “Hoje consigo notar as diferenças em termos de produção. Sinto que sou muito mais produtor do que era em 2014.”

Queres explicar-te melhor, João? “Os temas ‘Greatest Hits’ e ‘This Is Heaven’ demoraram quase um ano a ficar concluídos. São músicas muito complexa em termos de pormenores em que é tudo muito pensado e trabalhado. Tive que deixar as coisas repousar durante muito tempo e voltar a elas com outra frescura. No entanto, também tenho temas feitos numa tarde e que funcionam de forma incrível. É um equilíbrio de que fui à procura: por um lado o método e o rigor, e, por outro, a espontaneidade.”

 



“Explorar o lado divertido da coisa”

Toda esta dedicação a Modern Dancing acabou por torná-lo num trabalho estimado e precioso. João Vieira deu-lhe um enredo que pode, perfeitamente, ser a mão que leva o ouvinte num passeio de cerca de 30 minutos da primeira à última canção. “Sim, o disco foi pensado para ser ouvido dessa forma. E, de facto, o alinhamento é muito importante para mim. Li muito sobre isso, estudei muitos alinhamentos de muitos discos para tentar perceber como funcionavam os álbuns clássicos”, conta. E claro que queremos saber mais sobre estas histórias de “teorias de alinhamentos”. “O Hunky Dory do [David] Bowie é considerado um dos álbuns com melhor alinhamento da história. Não sei bem porquê, mas funciona muito bem. Tem os interlúdios como ‘Eight Line Poem’, ou o de ‘Life On Mars?” no meio. Também o OK Computer dos Radiohead tem esses interlúdios, como a ‘Fitter Happier’, com aquela espécie de robot a falar. Há álbuns em que surgem elementos que nos surpreendem e levam-nos para outro lado. A arte de criar um álbum não é só escrever boas canções”, afirma. “Também há o conceito de álbum que eu quero explorar. E nisso o disco é muito a minha cara: tem canções de guitarra, tem hip hop, electro, disco, sintetizadores e drum machines. Este é o meu universo e tento pô-lo a funcionar da melhor forma possível.”

Não há criação sem emoção. Não há vibrações sem sensações. Não interessa para o caso se o que se sente é bom ou é mau, mas um álbum, como se costuma dizer, é o retrato emocional de um criador durante um determinado período da sua vida. “O primeiro disco foi feito durante o período mais negro da minha vida até hoje. Não estou a falar de patetices: foi mesmo um período negro”, diz João. “Não faço ideia se isso acabou por se reflectir nesse disco”, mas a verdade é que a capa vinha com letras pretas num fundo cinza. O single ‘Far From Everything’ é uma canção nostálgica, triste. Era música negra”, recorda. “Até que houve um click qualquer na minha cabeça que me fez querer explorar o lado divertido da coisa.”

 



João levanta-se do banco onde estamos sentados, no Miradouro das Necessidades, com vista para a Ponte 25 de Abril. Vieira já não tem frio: a conversa aqueceu-o (na verdade foi o sol que começou a sentir-se a bater em chapa na pele). “Vamos passar para a sombra, pode ser?” Claro, sem problemas – sombra num dia de sol – e a conversa continua. Perguntamos se existe alguma coincidência no facto de Modern Dancing ter uma capa tão colorida e ser um disco em que explorou “o lado divertido da coisa”. João sorri de novo antes de explicar que pediu ao designer da Royal Studio “uma coisa com luz”. “Queria que fosse new wave, que fosse electrónica! Que as pessoas conseguissem identificar logo só pelas três ou quatro cores da capa. Sem dúvida que tem outro optimismo.”

O próprio título fez João Vieira recordar-se das bandas de new wave dos anos 1980. “Lembrei-me das camisas largas para dentro de umas calças amarelas subidas e a tocar nos sintetizadores”, ri-se, confessando que ainda chegou a pensar em vestir umas calças iguais, mas depois não. “Os B52 foram uma inspiração para este disco naquele universo das cores, da disposição dos músicos em palco. E os Talking Heads também. Depois o título do disco é meio cómico, meio kitsch. É electrónico, é new wave. Acho que sim, que é um disco moderno, para dançar.”

 


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