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Fotografia: Os Fredericos
Publicado a: 13/04/2019

O Canadá foi o país escolhido para o Country Focus da edição deste ano do festival vimaranense.

Westway LAB Festival 2019 – Dia 3: quando a cidade-berço ganha contornos canadianos

Fotografia: Os Fredericos
Publicado a: 13/04/2019

O Canadá foi o país escolhido para o Country Focus da edição deste ano do Westway LAB – em 2018 havia sido a Áustria. Como tal, os concertos da noite repartidos pelo Auditório do Centro Cultural Vila Flor, Pátio (palco montado no exterior mesmo ao lado da entrada do auditório e do Café Concerto) e Box (o backstage do auditório onde Jacco Gardner actuou há dois dias) focaram-se na comitiva musical canadiana convidada (houve também espaço para o Why Portugal Event, que à semelhança do ano passado, será publicado num anexo separado deste artigo).

Sarah MacDougall é a primeira desta família americana a actuar. De guitarra à tiracolo e secundada por um músico que se dividiu entre bateria e teclas, a artista nascida na Suécia mas radicada em Yukon, Canadá, quase junto ao Alasca, conta-nos histórias de casas na floresta, ursos famintos, botas de cowboy, o medo de sair à rua e muitos outros acontecimentos que, transcritos para um guião, dariam uma boa película cinematográfica, com banda sonora garantida.

Recheada de vivências para partilhar esteve também Megan Nash. Oriunda de Mortlach, Saskatchewan, a artista serviu, sozinha em palco (voz e guitarra), vivências directa e indirectamente ligadas a desgostos de amor.

O backstage do Auditório, denominado Box, parece cada vez mais querer assumir o papel de espaço multiusos. Se na quarta-feira Gardner teve direito a uma configuração em quadrifonia, actuando mesmo ao centro, as actuações de ontem viram o palco montado numa orientação perpendicular ao auditório, ou seja, e agora recuando no tempo, numa rotação de 90 graus relativamente à que albergou a prestação de Manel Cruz, em 2018. Tribe Royal, oriundos de Ottawa, a escassos quilómetros de Montreal, fizeram da Box a sua casa, com sonoridades rock que colocaram vários a dançar na frente de palco.

Divididos entre bateria, baixo e duas guitarras (sendo que os homens dos instrumentos de cordas também dão uso a outras cordas, as vocais) os Tribe Royal passeiam-se quase sempre nas imediações da fronteira com os Estados Unidos, o que leva a que, de vez em quando, lá metam um pé do outro lado e sirvam uma música com contornos assumidamente transfronteiriços, como serve de exemplo “Holding On”, através da qual nos convidam para uma viagem ao Alabama.

Os artistas canadianos escolhidos para esta espécie de intercâmbio cultural são, regra geral, muito bons performers. Os Deuxluxes, banda que actuou no Auditório do CCVF, são um excelente exemplo disso. Oriundos do Quebec, como fazem questão de partilhar ao microfone, o duo, constituído por Etienne Barry e Anna Frances Meyer, que deposita aqui e ali algumas frases em português, servem um concerto recheado de energia (ela na guitarra e voz; ele na guitarra, voz, bombo e tarola), pedindo para que as pessoas se levantem das cadeiras e se aproximem da linha da frente. Num dos temas, convidam a uma descida ao deserto mexicano e embebem-se em sonoridades que estimulam movimentos de anca, à imagem das danças que Anna protagoniza durante a actuação toda.

Seguem-se, por fim, os The East Pointers, trio oriundo da Ilha do Príncipe Eduardo, situada ao largo de Nova Brunswick e a norte da Nova Escócia. Inspirado na música tradicional celta mas com uma abordagem moderna, o colectivo formado por Jake Charron (guitarra) e pelos primos Koady (banjo) e Tim Chaisson (violino) soube servir, no Pátio, um concerto coeso, carregado de talento e repleto de boas energias. Falam sobre o facto de serem uma família muito grande e da probabilidade de nos cruzarmos com algum dos seus primos se alguma vez formos ao Canadá, e ainda elogiam o nosso clima afirmando que o frio que se sente, numa noite de Abril, em Guimarães, para eles não é nada – de salientar que a plateia está toda encasacada enquanto Tim se apresenta de t-shirt como se esta fosse uma noite quente de Agosto.

Um dos pontos altos das conferências do terceiro dia do Westway LAB 2019 foi precisamente, recuamos agora até às primeiras horas da manhã, o painel do país convidado. A sessão reúne vários órgãos canadianos, todos eles directamente ligados à indústria. O primeiro bloco de conversa funciona quase em jeito de convite a artistas portugueses para irem tocar ao Canadá. Partilham-se conselhos úteis, como por exemplo, o de tentarem escolher o melhor e mais rentável circuito para digressão. “O Canadá é um país gigante”, afirmam. “Se não escolherem a rota certa, pelo sul, juntos aos Estados Unidos, podem acabar por ir parar a locais longínquos que implicam 16 horas de viagem, algo incomportável quando se quer dar concertos todos os dias”. Há, inclusive, uma região que fica a dois dias de viagem de Toronto. “É quase como se tivéssemos a conduzir em direcção à lua”, acrescentam em jeito de brincadeira.

Por entre aspectos ligados à indústria musical e outras curiosidades relacionadas com o Canadá, são projectados dois vídeos de dois eventos em locais bem distintos. O primeiro sobre o M Pour Montreal, um festival de quatro dias realizado naquela que é a maior cidade da província do Québec, com excertos de actuações de Death Grips, Mac DeMarco e Of Monsters and Men, entre outros. O segundo sobre o Canadian Music Week, um evento também ele de quatro dias que junta concertos e conferências num só, realizado em Toronto, província de Ontário, com imagens ao vivo de Deadmau5, Nelly Furtado e Tegan and Sara.

Seguiu-se uma sessão conduzida por David Ferreira, um dos rostos da incontornável Valentim de Carvalho. O empresário trouxe consigo uma apresentação que girou, como seria de prever, em torno da indústria musical. Começa por mostrar um PowerPoint com as várias interligações que o mercado pode ter, desde que o artista cria a canção até ao momento em que o público a consome, desaguando, logo depois, nos órgãos responsáveis pela recolha e distribuição das receitas das vendas. “Há duas coisas que fluem ao longo deste processo todo, sabem quais são?”, lança para a plateia. Dinheiro e comunicação, conclui-se. Por mais que o produto seja bom, só chega ao sítio certo com dinheiro investido e uma boa estratégia de comunicação.

Sobrinho de Rui Valentim de Carvalho, editor histórico de Amália Rodrigues, David Ferreira já trabalhou com alguns dos artistas de maior renome em Portugal, o que lhe concede uma vasta experiência na área. E esse know how vai-se evidenciando à medida que vai desenhando, através de palavras e histórias ancoradas aos slides que exibe, a cronologia da indústria discográfica, desde os tempos dos gravadores de cilindro até aos dias de hoje, concluindo que não existe um passado estanque e isolado mas sim uma constante evolução de métodos de distribuição e formatos de armazenamento de conteúdo, seja ele físico ou digital. Interessante ponto-de-vista.

O dia começou com uma conversa entre Ana Rita Feijão, responsável pela distribuidora digital Level:UP, Marc Antoine Rousseau, representante da Deezer, serviço de streaming lançado em 2007, e Wesley A’Harrah, fundador da Hyper Orange, uma consultora nova-iorquina que presta serviços na área do marketing digital. Abordaram-se várias questões relacionadas com venda e distribuição digital, com Wesley a destacar três pontos que considera fundamentais para um artista se lançar nas plataformas online: criar um smart link no Linkfire, para conseguir a partir daí uma omnipresença em todos os serviços; procurar um business manager, garantindo assim acompanhamento e aconselhamento profissional; trabalhar com o Google Analytics e associar uma tag à página do Linkfire – este último processo, “bem programado e afinado, pode gerar bom dinheiro”, adianta Wesley.

Foi assim o terceiro dia da West Summit. Amanhã há mais.


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