[TEXTO] Manuel Rodrigues [FOTOS] Os Fredericos
Uma das apostas da edição deste ano do Westway LAB foram os concertos com a chancela WHY Portugal, plataforma que promove a música e os profissionais de música em contexto de festival, no Centro Internacional das Artes José de Guimarães (CIAJG), também conhecido por Black Box, nome alternativo que lhe assenta como uma luva, não só por, visto de fora e de longe, parecer uma caixa negra, mas também derivado à ambiência obscura que se faz sentir no seu interior.
No piso inferior deste escuro paralelepípedo, um conclave com elementos de várias nacionalidades marca posição, repartindo-se pelo espaço contíguo ao palco. Há britânicos, austríacos, alemães, holandeses e outras tantas nacionalidades (isto para não falar dos próprios portugueses envolvidos) divididos entre managers, representantes de editoras e plataformas online, comunicação social e – inclusive – outros músicos. Estamos na presença de pessoas que passam a vida em festivais e feiras de música, que viajam bastante e que, por conseguinte, já ouviram de tudo e mais alguma coisa, um milhão de vezes, da Europa aos Estados Unidos. Para estas pessoas, a novidade é sempre bem-vinda.
Talvez tenho sido esta a razão que fez com que o concerto de Omiri – sem dúvida o ponto alto do espectáculo proposto pela WHY Portugal – tivesse sido tão bem recebido no coração da plateia, com o público a aderir de forma exemplar, correspondendo sempre que possível com dança e aplausos. Em causa esteve não só o talento de Vasco Ribeiro Casais, que colocou em evidência o domínio de instrumentos como a gaita de foles, o cavaquinho, o bouzouki português e a nyckelharpa, objectos com os quais mantém uma relação tu cá tu lá, mas sobretudo a ligação à tradição portuguesa implícita na sua música, que surge enraizada nas amostras de áudio utilizadas e, claro, no vídeo projectado.
A missão de Omiri é simples e eficaz (isto, claro, para quem não esteja minimamente familiarizado com o projecto): fazer uma generosa e vasta recolha de vídeos ligados à música tradicional portuguesa, como acontece no site A Música Portuguesa a Gostar Dela Própria (daí Tiago Pereira surgir como braço direito de Vasco nesta missão), encadeá-los e sincronizá-los para que possam ser manipulados em contexto de concerto. “Todos os áudios utilizados fazem parte dos vídeos exibidos”, garante-nos o artista num dos intervalos entre músicas, “poderão é ter mais uma droga ou outra para sobressaírem”, remata.
O resultado desta experiência é simplesmente magnetizante e deixa-nos colados ao grande ecrã montado à retaguarda de Vasco Casais, onde se podem testemunhar coreografias de conjuntos tradicionais de percussão (num vaivém que em muito nos traz à memória os gifs utilizados nas redes sociais), cantorias protagonizadas por velhotes de sorriso rasgado e lenço na cabeça, e ainda uma série de efeitos sonoros oriundos dos mais estranhos e improváveis objectos. Enquanto isso, Vasco desdobra-se numa mão cheia de inspirados solos que chegam, imagine-se bem, a ligar o bouzouki à electricidade, como se se tratasse, no fundo, de uma guitarra eléctrica. Não há como não ficar rendido.
O tiro de partida para a tarde de concertos foi, porém, entregue aos Moonshiners. Os músicos aveirenses, que antecederam a apresentação de Omiri, encontraram nos seus alicerces blues a energia ideal para contagiar o público que, pouco a pouco, foi chegando ao piso inferior do Centro Internacional de Artes José de Guimarães (houve até um convite a O Gajo para emprestar umas notas da sua campaniça à actuação). Vibração positiva, energia a condizer: um concerto dentro dos parâmetros exigidos.
Isaura foi outra das artistas que actuou nesta gigantesca caixa negra. A cantora e compositora que venceu, em parceria com Cláudia Pascoal, a edição deste ano do Festival da Canção, trouxe a palco o necessário (da banda de suporte ao momento em que foi com as suas próprias baquetas atacar as peles de um timbalão colocado ao seu lado) para não abandonar o local sem deixar um marca nos presentes, que não pouparam na hora de aplaudir a mistura entre voz, sintetizadores e graves possantes.
Stereossauro encerrou as actuações na Black Box, munido de uma bancada de fazer inveja a qualquer produtor e DJ que se preze e secundado pelos braços de Ride, o seu parceiro de crime nos Beatbombers. E fê-lo com pompa e circunstância. Primeiro, recorrendo a canções do seu próximo álbum, que resgata samples de Amália Rodrigues e Camané, cartões infalíveis de visita a Portugal; depois, com a mistura clássica que fizeram ao tema “Verdes Anos” de Carlos Paredes, novo convite para um passeio neste rectângulo com vista para o mar, e por fim, com uma reprodução ao vivo do set que os sagrou campeões mundiais de scratch pela segunda vez.
WHY Portugal? Porque sim!