LP / CD / Cassete / Digital

Westside Gunn

Pray for Paris

Griselda Records / 2020

Texto de Paulo Pena

Publicado a: 06/01/2021

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2020 foi mais um ano em cheio para Westside Gunn. O carismático artista da trupe Griselda lançou o primeiro de três projectos (Fly God Is An Awesome God 2 e WHO MADE THE SUNSHINE foram os outros dois) em Abril, depois de uma semana a gravá-lo com o relógio em contagem decrescente, e uma fashion week em Paris pelo meio na qual estreitou relações com o cobiçado designer Virgil Abloh, que ficou responsável pela capa do disco e respectiva direcção artística. 

Assim, o rapper de Buffalo, que sempre pautou a sua música pelo universo da moda elitista, levou o seu rap às grandes avenidas. Se Westside Gunn já desfilava pelas ruas de Nova Iorque com os seus versos dedicados a jóias caras, relógios exclusivos, roupas vistosas e carros de luxo, na capital parisiense entrou na sua loja de brinquedos favorita. O epicentro da sua vida artística não coincide com a meca do hip hop, mas Westside não é um rapper como os outros, por muito melhores que os outros sejam. Há qualquer coisa no MC que extravasa as fronteiras do hip hop, mesmo com os limites actualmente alargados. Veja-se a saga dedicada a Adolf Hitler (com a oitava temporada já confirmada para 2021) em Hitler Wears Hermes. O casamento, apesar de, à primeira vista, parecer extravagante e absurdo, encaixa que nem uma luva (de seda, claro) na persona de Gunn: a loucura artística patente na música do rapper aliada à estética material refletida em todos os seus projectos – “Just the grimiest, flyest shit I could think of, so. You know, everybody was already used that Devil Wears Prada, and I’m just like, I want to flip that right there“, como descreve o próprio num pequeno documentário sobre a série discográfica que desenvolveu. 



Pray for Paris é mesmo a cereja no topo do bolo de Westside Gunn. Com uma lista de participações surpreendente e marcada, principalmente, por nomes como Joey Bada$$Tyler, The Creator (que produziu ainda “Party with Pop Smoke”), na mesma faixa, num encontro há muito desejado pelos vários fãs em comum das turmas Pro EraOdd Future; Freddie Gibbs e Roc Marciano, os testas-de-ferro de “$500 Ounces”, com instrumental de The Alchemist, o produtor de 2020 (se tivéssemos de escolher um); Conway The Machine e Benny The Butcher, em “George Bondo” e “Allah Sent Me”, cruzamento obrigatório em qualquer projecto de cada um dos representantes principais da Griselda Records; ou DJ Premier a chamar Westside aos 90s para dominar um boom bap mais clássico no meio do renascentismo Gunniano. 

A singularidade de Westside Gunn faz dele um favorito entre pares claramente superiores. Não há um meio termo sobre este artista: ou se adora ou se odeia; indiferente é que não se fica. No entanto, em Pray for Paris os métodos foram outros. O FlyGod deu espaço à produção, aos convidados, ao conceito transversal, e deixou respirar cada elemento no seu devido espaço. Em vez de tomar de assalto cada BPM (como frequentemente acontece, e bem, apesar de tudo), apareceu na medida certa, quando tinha de aparecer. É um trabalho que não gira à volta do seu protagonista, por oposição a todos os outros. E essa é uma das grandes qualidades que Westside Gunn tem: sabe construir um álbum como poucos artistas, dotado de uma visão que ultrapassa as suas capacidades individuais. Valeu-lhe a inspiração dos Campos Elísios – só teve de reunir as melhores peças e uni-las com as suas limitadas mas apuradas capacidades. Assim até parece fácil criar um álbum do ano. Mas só parece… A visão, mais do que a técnica, é o que faz o artista. E é por isso que Westside Gunn sobressai numa liga em que, de outra forma, não teria lugar.


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