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Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 01/11/2021

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WE SEA: “O Cisma é um álbum sobre o processo emocional e sentimental da circunstância de estar longe”

Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 01/11/2021

A Marca Pistola começa a dar os seus primeiros frutos. A ideia era reunir e exportar a música açoriana e a missão caminha pelo trilho certo com a edição de Cisma, o segundo longa-duração dos WE SEA, que sucede a Basbaque (2019).

Construído com um oceano a separá-los, os membros da banda tiveram na distância uma das âncoras para os seus temas. Na dúvida entre ir e não ir, partiram à descoberta de emoções e o resultado é uma pop mais requintada, maturada e objectiva. E pronta para dar o salto.  

Depois de uma passagem pelo MIL que deixou marcas, o Rimas e Batidas foi falar com Rui Rufino e Clemente Almeida, os dois músicos que têm os pés bem assentes na terra, mas que ambicionam chegar mais longe. Dificuldades superadas por uma “cisma” dissecada numa entrevista que toca em influências directas, e talvez indiretas, como é o caso do uso do auto-tune, e na forma como o desconforto está presente na criação, assim como as estratégias líricas usadas por Rui Rufino.

“Valha-nos Zeca!” dizem eles. Quanto a nós, valha-nos os WE SEA, um projecto cada vez mais a ter debaixo de olho.



Aproveitando o título do álbum que nos trouxe até aqui, fazer música nos Açores é uma “cisma”? 

[Rui Rufino] Ah, claro que sim. Não é fácil. 

[Clemente Almeida] Fazer música por si só não é que seja difícil.  Agora, toda a parte que vem a seguir… Nós não fazemos música só para nós, se não fazíamos uma “fritalhada”, algo altamente conceptual. A nossa preocupação musical também inclui o ouvinte e a divulgação da nossa música. Nesse sentido de promoção, que passa inevitavelmente por tocares, tem algumas dificuldades. Já foram bastante maiores! Felizmente, isso tem vindo a melhorar com os low cost e com os festivais que estão a aparecer, especialmente o Tremor. Com o buzz turístico, as pessoas estão a perder um pouco aquele cliché de os Açores serem só as vaquinhas e o cozido na terra e começam a olhar também para o que se faz aqui a nível de cultura e de música e que, apesar de ser algo pequeno, tem uma série de bandas bastante diferentes e interessantes. E depois é interessante porque é pequeno, mas existe uma comunidade e uma partilha muito grande entre elementos das bandas. Acabamos por nos conhecer todos. Mas, sim, é uma cisma, se quiseres pegar nesse termo. Precisamos de ter bastante força para ultrapassar estes obstáculos. 

Curiosamente uma coisa que me veio à cabeça enquanto preparava esta entrevista é que, apesar de todas as dificuldades inerentes, a música açoriana ainda tem tido algum tipo de reconhecimento no continente, ao contrário por exemplo da música feita na Madeira. E as dificuldades imagino que sejam de certa maneira similares. Porque é que acham que isso acontece?

[Rui Rufino] Realmente… Por acaso não me vem assim à memória nenhum projecto madeirense…

[Clemente Almeida] Sabes quem é que descobri que era da Madeira? O La Flama Blanca. E até há festivais de música independente por lá. Talvez seja o facto de não sermos tão grandes como a Madeira, talvez estejamos no tamanho certo. Eu acho que aqui se criou uma espécie de um conglomerado interessante em que todos se conhecem. Porque é que não aconteceu na Madeira? Não sei, mas realmente é uma excelente observação. 

Voltando aos Açores, qual foi o peso da ilha neste álbum? No Basbaque, a ilha por si só, tinha uma presença muito grande. 

[Rui Rufino] Eu diria a relação com a distância. O que é que eu quero dizer com isso? Quem vive aqui acaba por fazer sempre um período de dias, meses, anos fora do nosso território. Isso acontece sempre. O Cisma não é um álbum sobre saudade, quero deixar isso claro, as pessoas gostam sempre de bater nessa tecla, mas não se trata disso. É mais o processo emocional e sentimental da circunstância de estar longe. Penso que é a relação principal entre o disco e o arquipélago. 

[Clemente Almeida] Ou seja, é algo mais lírico do que instrumental. Apesar de, tanto eu como o Rui gostarmos de álbuns emblemáticos da música popular urbana açoriana, e que têm o seu peso, não julgo que haja uma intrusão dos Açores na parte instrumental. No primeiro álbum há aquela parte dos elementos tipicamente açorianos, dos samples do mar, da chuva, que era algo que também queríamos explorar a nível de produção. Este, musicalmente falando, é bastante cosmopolita. Bebe de influências internacionais.

[Rui Rufino] Sim, estávamos a passar um momento muito engraçado a nível de influências. Muito embebidos no vaporwave.

[Clemente Almeida] É isso, música cosmopolita. Até temos a “A f t e r E i g h t”, que é uma ode ao vaporwave. O lettering da música, a sonoridade, apesar de ter sido toda tocada em banda e não num programa de computador… é claramente uma ode ao synth e ao vaporwave, que era algo que estávamos a ouvir bastante na produção do álbum. Agora, Açores puro? 

[Rui Rufino] Talvez na “Cisma”. Há alguma influência de música tradicional.

[Clemente Almeida] Sim, é verdade. O tipo de ritmo, os instrumentos. Tivemos ali uma parte que gravámos mesmo com um bombo de festa que havia lá perdido num canto do estúdio. Nessa música sim, mas no resto do álbum penso que não. 

Diriam que é um álbum a piscar o olho ao continente? 

[Rui Rufino] Poderia ser. [Risos]

[Clemente Almeida] Se tocássemos mais vezes… Até agora foram apenas duas. [Risos] Penso que neste álbum houve uma preocupação maior. Tivemos mais tempo para pensar e aprendemos melhor como fazer canções. Acho que é um álbum mais maduro. 

[Rui Rufino] Mais pop também.

[Clemente Almeida] Exacto. Tentámos que as músicas fossem mais pop no sentido de concentrar o melhor de cada canção, que foi algo com o qual não nos preocupámos no Basbaque. O single tem 6 minutos e 45 segundos, tínhamos partes com três minutos que agora vemos que não fazem qualquer sentido. Para quê gastar? Agora, não é como se estivéssemos a fazer música a pensar em passar muito na rádio, ou em dar esse salto para o continente. 

[Rui Rufino] A nossa ideia era que cada canção fosse uma chapada leve. 

Mas sentes que está a haver esse salto? A nível de visibilidade, sentem que o Cisma fez a banda crescer? 

[Clemente Almeida] Sem dúvida. Notamos uma clara evolução, basta olhar para os números do Spotify. Foi um salto ridículo para uma banda açoriana que tocou uma vez no MIL. Mesmo no próprio MIL, onde tocámos estas canções pela primeira vez, sentimos que houve um feedback espectacular. Ainda hoje recebemos mensagens de pessoas que nos viram lá, e não nos conheciam de lado nenhum, a dizer que adoraram o concerto. A sala estava praticamente cheia e, mesmo tendo outras coisas a tocar na mesma altura, as pessoas optaram por estar lá e isso foi bastante bom. Eu acho que a própria música revela esse salto qualitativo e as pessoas identificaram-se com isso. Financeiramente tivemos o apoio da Fundação GDA, o que permitiu gravar num estúdio profissional, com uma pessoa que veneramos na cena independente que é o Eduardo Vinhas. Foi alguém que também se identificou logo com o projecto. O facto de estarmos ligados à Marca Pistola também ajudou. Agora o problema é manter. 

[Rui Rufino] Nós temos perfeita noção das coisas. Temos expectativas moderadas. Sabemos que não vamos dar assim um salto do dia para a noite. Terá de ser uma coisa progressiva e vamos obviamente ter de ter paciência, mas, sim, sentimos que de certa forma e devagarinho estamos a conseguir fazer isso.

Vocês anteriormente falaram do álbum ter uma sonoridade bastante citadina. A ideia que tenho ao ouvir o álbum é que sonoramente ele realmente parece-me citadino, parece-me “grande”, a pedir airplay radiofónico, salas maiores, mas depois visualmente ele transportou-me muito para um espaço de salão de baile, de canto da ruela, com karaoke, luzes néon, com uma performance quase de cantor popular. Parece uma espécie de contra-senso entre o que ouço e o que imagino com as músicas. Não sei se é algo que alguma vez tiveram em mente enquanto faziam o Cisma.

[Rui Rufino] Isso realmente é uma observação que nunca nos tinha chegado. Eu, por acaso, consigo perceber, tens ali um som com alguma qualidade, mas depois vês alguém como o Paulo Gonzo a curtir com um casaco azul. Consigo ver a observação, mas não consigo explicar isso. 

[Clemente Almeida] O Vinhas disse uma coisa e não sei se isso te pode responder. Ele achava que este álbum tinha uma cena de música portuguesa muito anos 80. Músicas como a “Pará o Tempo no Canal”, que tem um refrão assim mais catchy. Se calhar é dessas que estás a falar. Acho que isso pode ter a ver, e isso foi algo que discutimos na altura, com o facto do piano ser um instrumento tramado. No primeiro álbum, nós usamos o Rhodes, que são instrumentos com características bastante transversais, do jazz ao funk e assim. Eles não têm a mesma ligação emocional que o piano tem, não criam aquela relação de balada cheesy, romântica. Acho que pode ter resultado nisso, mas não foi de todo propositado. Eu pessoalmente inspirei-me muito em Elton John e Benny Sings e assim…

[Rui Rufino] Eu, às vezes, tenho assim umas pancas e gosto de estudar e pesquisar certos fenómenos da música, e nessa altura do álbum andava a estudar o Júlio Iglésias e o que se passou com o sujeito. Se calhar veio daí alguma influência. 

Mas talvez até seja esse lado retro 80s que falaram.

[Clemente Almeida] Também poderá ser, mas sinceramente, apesar de nos considerar uma banda com influências synth pop, comparando com o Basbaque, eu acho que este é um álbum menos 80s. Acho que tem cenas 70s, está ali naquela altura 79/80. Já se descobriram os sintetizadores, já é barato, já gastaste o teu salário do mês para comprar o teu Juno e já começaste a usar para algo. No primeiro, nós não tínhamos banda física. Éramos só os dois. Eu com o meu equipamento, ele com o dele, num computador. Era tudo muito pouco orgânico. Tinhas a guitarra e o baixo, mas tudo o resto era programado. Este álbum, como foi gravado ao vivo, já tem ali mais coisas anos 70, mais próximos do disco até. 

[Rui Rufino] Sim, mas tem a textura.

[Clemente Almeida] Sim, vai buscar, sem dúvida. Especialmente na “Torna-viagem”, tem muito essa coisa de sintetizadores, a “A f t e r E i g h t”, a “Altivez”, a “Valha-nos Zeca!”, essa sim, até tem aqueles solos que fazem lembrar a cena glam

Por acaso sempre me questionei sobre esse título. O que querem dizer com “Valha-nos Zeca”?

[Rui Rufino] “Valha-nos Zeca” é tipo quando estás na merda. O que normalmente dizes é “Valha-nos Deus” e assim. Nós temos o Zeca. Pelo menos, temos o Zeca para ouvir e curtir.  A ideia era essa.

[Clemente Almeida] Além de existir o grande Zeca Afonso, há também o Zeca Medeiros.

[Rui Rufino] Era para os dois, por acaso. A letra fala da “Balada do Outono” e faz também referencia à “Canção do Forte Fraquinho” do Zeca Medeiros. Há ali uma ligação aos dois.

Lembro-me de, na altura de lançamento do vosso primeiro álbum, passar por uma entrevista onde, Rui Rufino, falas que o desconforto é algo bom para a criação. O Cisma é um álbum feito de desconfortos?

[Rui Rufino] É a questão de a composição ser como uma linha onde atravessamos e confrontamos os nossos desconfortos. Eu gosto muito de escrever sobre sentimentos e emoções e, para mim, é colocar ali nesse momento, esse desconforto.  Eu uso a música como um refúgio, do meu dia a dia, das coisas que me acontecem, sejam boas ou más. Há uma célebre frase, penso que do Curt Smith dos Tears for Fears, que diz: “só componho quando estou triste, porque quando estou feliz estou mais ocupado a gozar essa felicidade”, e comigo as coisas funcionam um pouquinho assim. Não quer dizer que esteja deprimido quando estou a compor, mas estou naquela fase de reflexão e de refúgio. É um processo de desconstrução daquilo que se vai vivendo. E este álbum tem isso, é inegável. As canções não falam só de experiências minhas, falam também sobre as de outras pessoas, mas é sempre nesse processo emocional e nessa ideia de distância.

Interessante, eu tenho aqui escrito nos meus rascunhos que sinto que recorrentemente encontro ideias de dor, de conflito, de mar, de distância, uma certa vontade de ir, mas ficar. Sobre o que trata este álbum e estas músicas?

[Rui Rufino] Há realmente isso de tentar e não conseguir, tem muito disso, sim. Este vai e vem de vou não vou, quero ou não quero ir, é muito nesse sentido. Eu, por acaso, não gosto muito dessa questão de decifrar tudo sobre o que são os álbuns, eu gosto muito que as pessoas tenham a sua interpretação.  Se quiserem fazer do Cisma um álbum de amor, façam dele isso, por mim é indiferente. Mas, basicamente, tem muito desta ideia do processo emocional de questionares quando estás longe das tuas origens, se será que vale a pena voltares. Ou mesmo se será que as tuas origens querem que regresses. Nesse sentido é algo confuso.

[Clemente Almeida] Pelo menos comigo acontecia muito, quando estudei em Coimbra. As primeiras semanas eram terríveis, porque só queria era estar com os meus pais e amigos, mas depois voltas a habituar-te e a criar aquela rotina e já custa é voltares aos açores. Acho que é o eterno insatisfeito, o Variações é que sabia.

[Rui Rufino] É um bocado isso, é um processo contínuo em que não sabes. Agora estou aqui, mas o que é que vou pensar daqui a dias, será que vou querer voltar? 

Será que é uma coisa muito açoriana?

[Rui Rufino] É uma boa pergunta.

[Clemente Almeida] Não acho que seja uma coisa de açorianos, mas sim de qualquer pessoa que sai de casa. Tem mais a ver com o facto de ser longe. Uma pessoa que é da Beira Interior e que esteja em Lisboa, muito mais facilmente vai a casa e, mesmo que não vá, sabe que a acessibilidade é fácil, o que no nosso caso não. Imagina que fico à rasca e tenho qualquer problema. Tenho de me desenrascar, não posso apanhar o comboio e ir até à Guarda ter com os meus pais. Posso ir de avião, mas é uma “pipa de massa”, e o meu pai vai-me dar das boas. É quase como um emigrante, mas sem as dificuldades da língua e isso. 

Uma coisa que achei interessante nas letras é aquele lado meio mitológico. É algo do qual tens interesse? 

[Rui Rufino] Não é bem mitológico. Nem é bem uma questão de interesse ou não. É uma questão mais erudita de chamar as personagens e o seu significado. O propósito da existência delas por vezes é explicar a letra. Isso já vem do Basbaque, é algo que gosto de fazer. Por exemplo, na “Seja Como For”, tem lá a referência ao Caim. O Caim é uma personagem bíblica que para se desenvencilhar criava ainda mais problemas, e quando escrevi “derrotei Caim” é como um derrotei-me a mim próprio, as minhas porcarias. Basicamente é algo que eu gosto de fazer.

Aquele momento em que ouvimos o auto-tune foi uma grande surpresa. Quem é que teve a ideia?

[Rui Rufino] Fui eu que tive a ideia, mas nem sei dizer bem. Estava numa fase de experimentação e aquilo soou-me bem, não foi algo que pensei imediatamente. ‘Tava a experimentar e mandei ao Clemente. Ele curtiu bastante, mas, lá está, nós temos essa forma de compor meia marada de fazer bocadinhos de músicas e mandar um ao outro. Basicamente foi isso, estava a experimentar tempos vocais.

[Clemente Almeida] E acho que também era a única música que tinha espaço para algo assim, apesar de ter uma sonoridade pop, a estrutura é do mais antipop que existe. Não tem um refrão, não tem um verso, aquilo é uma parte A, parte B, parte C… se era para ter uma música para experimentar alguma coisa, era aquela. Aliás, esse tema foi um dos primeiros rascunhos que fizemos, mas acabou por ser a última que produzimos, porque a música tinha só dois acordes e, pronto, fomos experimentando, até que acabou naquela versão, com o auto-tune. Mas não foi um beijinho ao trap. 

Vocês não produziram o álbum juntos?

[CLEMENTE ALMEIDA] Não.

[Rui Rufino] Esta deve ser a primeira vez em muito tempo que estamos geograficamente no mesmo sítio, pelo menos assim há um certo tempo.

[Clemente Almeida] No Basbaque eu estava em Coimbra e o Rui Rufino estava nos Açores. Neste, na altura em que começamos a fazer os rascunhos para o álbum, o Rui Rufino estava no Porto e eu aqui na ilha, portanto nunca estivemos juntos, a não ser nas semanas dos ensaios com a banda toda, isto antes de irmos para Lisboa gravar. E um bocadinho no Verão também, em que estivemos em minha casa a fazer uns arranjos e assim, mas de resto foi tudo à distância. Ele no seu programa, eu no meu e trocando ficheiros e assim. Depois trouxemos o Rómulo San-Bento, o guitarrista, para também dar o seu input. O baterista só ensaiou connosco no Natal, que foi quando ‘tivemos todos juntos. Nessa altura ensaiámos imenso porque, por opção nossa, quisemos gravar os instrumentos todos juntos e tínhamos três dias de estúdio apenas, o dinheiro não deu para mais [risos]. Foi mesmo uma maratona, mas estávamos tão ensaiados que foi tudo dois, três takes no máximo. A “Altivez” até foi feita apenas em um take. Nesse sentido os ensaios foram mesmo muito importantes, mas isso também foi bom para a sonoridade, porque queríamos ter um álbum de banda e não um álbum de dois produtores de música electrónica a tentar fazer de banda. 

Vocês são uma das primeiras edições desse projeto muito interessante chamado Marca Pistola. Como é que sentem que tem resultado até ao momento?

[Clemente Almeida]O Kitas [Luís Banrezes], a meio da pandemia, ligou-me a perguntar o que eu achava de se fazer uma editora. Eu disse que achava uma excelente ideia, mas nunca achei que fosse sair do papel, julgava que era um devaneio de depressão pandémica. Depois quando percebemos que ele realmente estava entusiasmado, tornou-se uma coisa contagiante. E é espectacular porque é uma forma de catalogar e, sobretudo, aglomerar. Cria uma certa comunicação em pacote, um nome acaba a levar aos outros. Mas, sobretudo, acho que o bom que está a fazer é marcar uma certa cena açoriana, porque sempre tivemos bons artistas, o King John, a Sara Cruz, os PMDS… faltava era esse cartão de visita e a Marca Pistola está a dar isso. No nosso caso, até surgiu numa altura em que o nosso álbum já estava bem encaminhado. Já tínhamos o financiamento da GDA, já tínhamos o estúdio. Já estava tudo adiantado. Onde está a ajudar imenso é na comunicação e na produção de concertos, no agenciamento. 

Entrevistamos anteriormente a Marca Pistola e na altura surgiu uma questão que gostaria também de vos fazer. Eu sei que no vosso caso há a questão linguística, mas, tendo noção de todas as dificuldades que falaram, porque não tentar logo o estrangeiro? 

[Clemente Almeida] Percebo a tua dúvida. Apesar de pertencermos a Portugal, temos de sair da região. Portanto, porque não sair diretamente para o internacional. Aliás, geograficamente estamos quase à mesma distância dos Estados Unidos do que estamos do continente. 

[Rui Rufino] Acho que tudo o que é feito artisticamente na região ainda está um bocado preso às comunidades de emigrantes, nunca foge muito disso, o que não é mau, mas pode ser um entrave a esse salto. 

[Clemente Almeida] E se já é uma dificuldade para as bandas nacionais que cantam em inglês conseguirem sair do país, muito mais para uma banda açoriana que não tem qualquer estrutura de produção à volta ou capacidade financeira para conseguir sair da região. A verdade é que continua a ser mais fácil ires tocar a Lisboa, porque o circuito da música independente é muito pequeno, nós é que gostamos de pensar que é muito grande. As pessoas são comuns. Quem organiza um festival em Lisboa, conhece alguém que organiza outro em Coimbra… É muito mais fácil conseguires essa ponte. No nosso caso foi o Kitas, e isso levou-nos ao La Flama Blanca, que nos arranjou o concerto no MIL e por aí fora. Funciona como um networking. E depois economicamente ainda é mais barato do que te estares a aventurar nos Estados Unidos. Até porque daqui o que chega a América é sobretudo música nostálgica, para a diáspora, música tradicional, folclore, pimba, que no fundo é o que também acontece no continente. 

Para terminar e aproveitando também uma outra linha do vosso disco. Vocês sentem-se bem resolvidos ou por resolver? 

[Clemente Almeida] Claro que não! Não estamos resolvidos de maneira nenhuma. Já estamos a pensar em músicas novas, não paramos de compor, nunca paramos de trabalhar.

[Rui Rufino] Isso vai um bocado ao encontro daquilo que disse antes. Pode parecer um bocado romântico, mas é a verdade. Para mim, a música é um refúgio, é algo mais terapêutico que outra coisa, e vou precisar disso sempre. Não nos sentimos resolvidos nesse sentido, vamos sempre precisar de música.

[Clemente Almeida] Ainda vai sair um álbum de We Sea ambiental. Música para as hortênsias, que nem o Plantasia


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