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Fotografia: SID
Publicado a: 23/08/2022

Criar mais uma ponte entre França e Portugal.

Wassyl Abdoun-Tamzali (Phonetics): “Era um sonho trabalhar com o underground lisboeta e, em particular, com a Príncipe”

Fotografia: SID
Publicado a: 23/08/2022

Entre os dias 8 e 11 de Setembro, a terceira edição do Phonetics chega à cidade de Lisboa para rechear a cidade de concertos em locais como o Arroz Estúdios, Mono Lisboa, Planeta Manas ou até mesmo ao Museu Nacional do Azulejo.

O conceito por trás do Phonetics é divertido (e simples!) de explicar. É um festival nómada que começou a ser idealizado em Paris – corria o ano de 2018 – e que teve a sua primeira edição na Argélia em 2019. Em 2021 ocorreu em França (em Saint-Denis) e agora, em 2022, é a vez de Lisboa receber o evento, cujo cartaz se encontra recheado de várias atrações do circuito da electrónica europeia, com um certo enfâse no diálogo entre artistas franceses e portugueses. Antes do início do festival, alguns desses artistas encontrar-se-ão para uma residência artística com vista a criar espetáculos inéditos, pensados para serem apresentados ao público no Phonetics Lisboa.

Ao contrário das edições anteriores, o elenco do Phonetics 2022 não foi só pensado pela organização do festival. Ao invés, surge de uma parceria para curadoria com a Filho Único, que adiciona nomes como Herlander, King Kami, DJ Lycox ou DJ Danifox ao cartaz, juntando-se a nomes estrangeiros como Riccardo La Foresta, Berangère Maximin ou Romain Mascagni (aka Territoires), que vai apresentar uma série de composições com captações dos sons do Tejo e o contributo de 12 alunos de Saint-Denis.

Para sabermos mais sobre a primeira visita do Phonetics à capital portuguesa, o Rimas e Batidas trocou algumas perguntas – por e-mail – com Wassyl Abdoun-Tamzali, co-fundador e director artístico do festival.



O que fez a organização do festival Phonetics olhar para Lisboa e, mais especificamente, para a Filho Único, a fim de ajudar com a organização da edição de 2022?

Bem, sempre foi um sonho trabalhar com a cena underground lisboeta, e em particular com artistas da Príncipe Discos. Quando descobri a Príncipe em 2012, foi um choque total testemunhar o quão contagiantes soavam estes sons de club — estava na Polónia e a música [da Príncipe] colocou até gigantes polacos a dançar ritmos de dança das Caraíbas. Desde aí que queria trabalhar com a Príncipe e, com o cruzamento da temporada cultural franco-portuguesa, aconteceu de forma natural o Phonetics juntar-se à Filho Único. Juntos, sinto que conseguimos reunir duas visões diferentes numa só para um novo e unificado estilo de club experimental e experiência de concerto. Espero que valha a pena com quatro estreias mundiais inéditas – dedos cruzados.

Comparando com as duas edições anteriores do festival, e considerando o objectivo do Phonetics de “criar ligações entre os artistas, o público e o território que exploram”, como pode Lisboa ajudar a escrever um novo capítulo na história do festival?

As primeiras duas edições [do Phonetics] foram incríveis, com muitas estreias mundiais e colaborações originais apresentadas em formatos one-of-a-kind. Mas esta terceira edição é mesmo especial para a história do festival, porque é a primeira onde ocorre uma verdadeira co-curadoria. Esta parceria gerou colaborações que, se fossemos só nós a fazer curadoria, nunca teríamos conseguido fazê-las. Estou a pensar em artistas como Lula Pena, Clothilde, MVRIA ou Carincur que, em França, estão definitivamente fora do radar. Além disso, o conhecimento da Filho Único sobre Lisboa vai naturalmente atrair o público para lugares incríveis. Vai ser a oportunidade para todos descobrirem os espectáculos e a cidade através de um novo prisma cultural.

O cartaz da edição de 2022 do Phonetics inclui vários artistas portugueses e franceses. Como é que decorreu a seleção dos artistas? Houve alguma narrativa pensada com estas escolhas?

Trabalhar com a Filho Único foi um desafio porque esta equipa é implacável na procura de criar os melhores espectáculos possíveis. Não foram feitos quaisquer tipos de compromissos quanto à complementaridade entre artistas. Às vezes, começava por uma estética para a qual estávamos a apontar num dado momento do festival e, noutras vezes, começava com um artista em particular que queríamos confrontar com outras práticas musicais. Foi difícil escolher e chegar a um acordo às vezes, mas sinto que a edição de 2022 tem o melhor line-up que o Phonetics já apresentou.

O cartaz da edição de 2022 do Phonetics inclui alguns nomes emergentes da música portuguesa como Herlander ou DJ Lycox. Estes são artistas actualmente a quebrar barreiras de estilo e a surgirem de contextos sociais além das camadas heteronormativas e brancas vigentes em grande parte dos festivais. Quão importante é para o Phonetics, em termos de curadoria, apresentarem um cartaz diverso e inclusivo que represente todo o espectro criativo artístico além do branco, masculino e heteronormativo?

Para ser honesto, não pensamos nas nossas escolhas através desse prisma. Herlander e o [DJ] Lycox – e todos os outros, na verdade –, são artistas incríveis que teriam sido selecionados independentemente do seu género, orientação sexual ou origem social. Para mim, talento é talento – o limite é um artista agir como um idiota ou promover ideias desprezíveis. 

Uma das maiores “atracções” da edição de 2022 do Phonetics vai ser a apresentação do Romain Mascagni (aka Territoires). Como é que esse projecto acabou inserido no festival e o que é que podemos esperar do seu espectáculo ao vivo?

O espetáculo de Territoires é praticamente a razão pelo qual o Phonetics existe. Definitivamente adequa-se ao nosso lema de sons da cidade que desejamos apresentar. O Romain tem vindo a criar uma nova versão deste espectáculo para cada cidade que visitamos e pretendemos continuar assim. Mas este ano, o espectáculo que ele preparou é ainda mais especial para nós porque vai ser criado em colaboração com crianças de Saint-Denis (nossa cidade-natal em França). Elas acompanharam uma aula de field-recording e vêm connosco antes da residência para o festival para gravar e editar o espectáculo. Este programa, chamado REC THAT!, visa atrair as crianças para se interessarem pelo mundo sonoro, artístico ou profissional e, francamente, é bom poder introduzir a nossa paixão na vida delas. O REC THAT! foi financiado pelo programa do Erasmus+ e gostava de agradecer a esta instituição europeia por ajudar a torná-lo possível.

O festival Phonetics vai decorrer em vários espaços de Lisboa, sendo alguns deles bastante invulgares para espectáculos ao vivo. Que critérios foram utilizados para selecionar esses locais?

O único critério que norteia a nossa escolha de espaços é trazer público, vindo principalmente de outros países – mas sem esquecer o público local –, a descobrir ou a redescobrir as suas cidades. Para além dos constrangimentos habituais (localização, limite de presenças, etc.), tentamos criar um percurso sonoro como nenhum outro. Por exemplo, o espectáculo que vai decorrer no Museu [Nacional] dos Azulejos será de outro mundo, com uma performance única do Riccardo La Foresta, Lula Pena e Berangère Maximin. Em contraste, temos uma noite de club na sexta-feira naquele que acredito ser o espaço mais cru de Lisboa, Planeta Manas, dirigido pelo herói local Photonz. Sei que parece complicado de acreditar, mas posso garantir que o público não vai olhar para Lisboa da mesma forma depois do festival.

No último ano, têm ocorrido crossovers entre a temporada cultural francesa e a portuguesa, como é o caso de o festival Iminente ocorrer em ambos os países. Como é que o Phonetics pode contribuir para um fortalecer de relações entre a cultura e artistas de ambos os países?

Bem, o plano é, no máximo, apresentar todos os espetáculos originais – no máximo – e os DJ sets b2b em França no final deste ano. Sigam as nossas redes sociais para ficarem a saber mais sobre isto! Mas para responder à pergunta com mais precisão, eu espero que essas colaborações não terminem com o festival, mas que continuem depois para fazer chegar ao seu público mais música incrível, seja através de um disco ou mais.

Se tivessem de convidar alguém para vir à edição de 2022 do Phonetics, que argumentos dariam?

Estreia mundial de concertos trazidos até ao público em locais onde menos se espera – que mais se pode querer? E é basicamente quase grátis!


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