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Publicado a: 22/05/2015

O voodoo electrónico dos Príncipes

Publicado a: 22/05/2015

[FOTOS]: Luís Martins/Far Out And Beyond

 

Há muito que a Príncipe mostrou que tem um som único. Não é retórica, é mesmo assim. Três anos de discos extraordinários e festas mensais no Musicbox foram deixando a sua marca e fazendo crescer um culto totalmente justificado, ainda que pareça bem maior lido/visto do estrangeiro do que entre nós (a série Cargaa na Warp Records, já com 2 volumes, é mais um sinal disso mesmo). Mas também isso está a mudar. Na estreia no Lux, depois de um concerto claustrofóbico de Dean Blunt, com o público ainda desorientado pela escuridão e strobes pulsantes que dominaram o espectáculo, o festim rítmico dos Príncipes soltou a pista num movimento perpétuo, às vezes desconjuntado (muitos ainda se intimidam e têm duvidas sobre como mexer o corpo), mas sempre feliz e genuíno. Foi bonito.


dj_nigga_fox_far_out_and_beyondDJ Nigga Fox


O ritmo aqui é a chave, basta segui-lo, mesmo quando parece atropelar-se e fugir da matemática comum. Já se disse muitas vezes que o som da Príncipe liberta a música de dança dos constrangimentos da formatação, e é verdade. Apesar disso, é incrivelmente funcional em pista, mesmo quando passa rasteiras e obriga a jogos de anca improváveis (e mesmo impossíveis). Com o impulso tribal de Nigga Fox e a ferocidade de Marfox próximos do techno mais duro e musculado, DJs Lilocox e Maboku (C.D.M.) a mostrar que, querendo, dominam o léxico house de trás para a frente e DJ Firmeza a confirmar-se como um rhythm master com categoria própria mesmo dentro da família Príncipe.


cdm_far_out_and_beyondC.D.M (DJ Maboku x DJ Lilocox)


A música que se dançou no Lux foi desafiante para os pés e para a cabeça e também emocionou. Mais do que DJ sets, estes DJs/produtores montam um puzzle com pequenos loops que não chegam a ser temas ou faixas, embora ganhem vida extra no contínuo da actuação e apresentem múltiplas possibilidades de organização. Nesse aspecto, são como organismos vivos, mutáveis, que podem unir-se em nome da fúria, diversão, experimentalismo ou provocação, sempre com o objectivo de fazer dançar – mesmo que não saibamos como, ou nos esforcemos demasiado por fazer parecer que sabemos (o que inevitavelmente acontece).


dj_marfox_faroutandbeyondDJ Marfox


No Lux dançou-se muito e de várias maneiras. Dançou quem já estava conquistado e foi fazer claque e também quem foi à aventura. Notou-se bem que nem todos sabiam exactamente o que esperar, ou fazer, só que a ideia de ficar parado muito tempo numa festa destas é inconcebível, porque a batida entra pelos poros e toma conta de nós como voodoo. E quando chega à cabeça e muda o nosso mindset, percebemos que não é assim tão complicado seguir o ritmo e entrar no groove. Se alguém tinha dúvidas sobre se isto era coisa para o Lux, elas foram desfeitas. Hoje em dia, o nível de sofisticação e agilidade dos Príncipes perante uma pista de dança é tal que acredito que sejam capazes de superar qualquer desafio com uma invejável descontracção.

A próxima noite principesca será em Londres, a 27 de Junho, com Niagara, Puto Márcio e DJ Firmeza, no Cafe OTO.


A video posted by Marfox (@djmarfox) on

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