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Publicado a: 01/09/2016

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vince staples review

 

[TEXTO] Amorim Abiassi Ferreira

“Fiz a ‘War Ready’ a partir de outra música chamada ‘Mean Mug’ de 2010 e adicionei-lhe um segundo verso. Fiz a ‘Loco’ inspirado no meu visionamento do filme O Grande Gatsby uma manhã qualquer. Fiz a ‘Prima Donna’ já tendo a música totalmente escrita e depois pus o Rocky no refrão porque… o resto não interessa. ‘Pimp Hand’ vem do álbum Summertime ‘06 mas eu não quero mais músicas de gangues porque já não gosto de falar desse tipo de coisas. E ‘Big Time’ é a primeira música que eu e o James Blake fizemos. Se falarmos apenas sobre a música, a entrevista passa mesmo rápido. Eu acredito que esses são os motivos por trás de cada música, não há nada mais do que isso.”

Nos últimos instantes de uma entrevista com Zane Lowe, Vince Staples resume o seu novo projecto numa economia de palavras que impressionaria qualquer Troika em missão de austeridade. Este não foi um desabafo por exaustão do rapper, já que ele defendeu várias vezes que acredita que os artistas devem passar menos tempo a dizer ao mundo quem são e mais tempo a mostrá-lo através dos seus trabalhos, deixando o público formar as suas opiniões. Pode-se defender que a arte só se completa quando é finalmente experienciada por alguém, mesmo que seja o próprio criador.

Uma introdução como “Let it Shine” dá-te exactamente 40 segundos antes de perceberes que este EP não vai tornar o teu dia mais solarengo. “War Ready” “sampla” Outkast e declara que a arma mais eficiente do que qualquer Glock é a voz. James Blake toma conta da abertura e fecho do EP selando mais uma vez a escolha sempre cuidada de Vince Staples para os seus instrumentais. “Smile” apela a todos para sorrirem pelo sucesso do rapper, mesmo que para isso ele tenha virado as costas a família e amigos. O fim desta música traz de volta a voz que cantou para nós na abertura num tom dificilmente mais animador. O resto das músicas expõe diversos temas: loucura, ego ou escrever as regras da nova escola. Tudo ao longo de 20 minutos que decerto valerão a escuta.

E as mensagens no fim de algumas faixas? Se invertermos a sua ordem de aparição, elas ganham um novo sentido. Começando com “Prima Donna” em que Vince Staples declara: “Fed up with the gun violence / Fed up with the old rules / Fed up with the youth dyin’ / I just wanna live forever” até voltarmos à intro “Let it Shine” e o seu trágico clique de gatilho final.

 

 


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