pub

Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 15/04/2022

Uma data que se quer cravada nos compêndios de história.

Uno sobre Dia Nacional do Rap: “Quisemos representar o underground da melhor maneira”

Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 15/04/2022

Ainda só vai a caminho da 27ª volta em torno do Sol mas o todo o percurso que traçou na música, ao longo de mais de uma década e inteiramente dedicado às correntes artísticas que borbulham do subsolo, vale-lhe uma posição de respeito entre a comunidade hip hop portuguesa. Dessa longa caminhada de Uno, ficam para a eternidade os discos com o seu cunho – só no seu Consultório soma quase duas dezenas deles – e as inúmeras colaborações com os seus pares de produção e/ou microfone.

Uma das mais emblemáticas parcerias que Diogo Colaço travou durante o percurso foi com João Pestana, MC com um currículo não tão vistoso mas que rapidamente conquistou um lugar de destaque na “ala política” que o autor de Meu Filho encabeça. Juntos, não só formam O PARTIDO, como gerem também as iniciativas orientadas para o hip hop por parte da CED33 – Caos em Dia, uma associação que cobre, também, outro tipo de sonoridades dentro do espectro da música electrónica.

A próxima é já amanhã e é também a mais ambiciosa de todas: sem ser necessária a aprovação em parlamento, os dois artistas declaram o 16 de Abril, já amanhã, como sendo o Dia Nacional do Rap, que em palco se traduz num poderoso alinhamento de agitadores do panorama underground. Enigmacru, O PARTIDO, Benny Broker, Sage, Rivolean, Legalize e DJ Rodric são os nomes que se vão fazer escutar a partir das 21 horas na Voz do Operário, em Lisboa, num evento que Uno antecipou em conversa com a nossa redacção.



Entrámos numa crise sanitária há dois anos e o sector da cultura foi dos mais afectados. Ainda assim, senti-te sempre muito activo, não só em lançamentos como também em datas ao vivo. Sentes que, na prática, pouco mudou na forma como trabalhas ou isso é tudo fruto de uma certa resiliência e adaptação a esta “nova” realidade?

O pessoal do Consultório e arredores sempre quis dar concertos com regularidade. Como não há muita fama, para isso acontecer, não podemos ficar à espera. Antes insistíamos com os donos dos bares para nos contratarem, depois começámos a alugar espaços e a contratar malta, incluíndo nós. Agora comprei uma caravana, já demos uns concertos na rua e fez-se o cachê a vender CDs e/ou vinho… A pandemia obrigou-nos a abrandar um bocadinho, na altura, mas nada de muito grave. Se calhar, fez-me valorizar mais o acto que é dar um concerto e estar com malta que gosta do que eu gosto.

Isto calhou também mais ou menos na altura em que arrancou a CED33, que te “obrigou” a ser mais do que apenas artista e a lidar com outro tipo de assuntos, mais burocráticos se calhar. Achas que isso também te fez abordar a música de maneira diferente na hora em que começas a definir um novo projecto?

A maneira como escrevo, produzo e organizo álbuns não mudou. Mas a maneira como penso nos concertos sim. A CED33 é uma associação cultural sem fins lucrativos e a crew que fez essa associação chama-se Caos Em Dia. Esta malta organiza grandes festões e festivalões de música electrónica no meio do mato onde o rap está incluído. Com a convivência fui percebendo que por detrás de grandes festas há sempre grandes merdas a sobrar para alguém de alguma forma. Gostamos de música e não de burocracias, por isso queremos despachá-las o melhor possível. Há uns anos eu não pensava assim, deixava muito mais para a última da hora.

O vosso próximo evento parece-me ser o mais ousado de todos, ao declarares o 16 de abril como o Dia Nacional do Rap. O que é que vos levou a escolher esta data em específico? E será algo que pretendem continuar a assinalar nos anos que se seguem?

A última festa que eu e o Pestana organizámos antes da pandemia foi na Voz Do Operário e teve muita adesão. Depois de dois anos sem conseguirmos organizar algo do género, mal conseguimos uma oportunidade ligámos à senhora responsável pelo espaço para marcar uma data pois queríamos repetir a dose. 16 de abril não tem nenhuma razão específica de ser, escolhemos apenas um dia com a sala disponível e com antecedência suficiente para a promoção, mas já que calhou assim vamos continuar e próximo ano podem contar com outra.

Além do nome do evento, também o alinhamento é muito interessante e reúne algumas caras que não vemos com tanta regularidade nos vossos cartazes, todas elas, à sua maneira, marcantes no panorama do hip hop nacional que se manifesta longe das frequências do mainstream. Foi fácil chegarem a este cartaz final? O que vos fez trazer todos estes nomes para cima de um palco num dia em que se celebra um movimento artístico que tem cada vez mais representação de norte a sul do país?

Não foi fácil de todo. Tínhamos fixado que queríamos trazer Enigmacru a Lisboa já há algum tempo, e sabíamos que queríamos tocar mas foi um desafio pensar na forma certa para completar o cartaz. Felizmente o Benny B e o Rodric, colaboradores habituais, aceitaram prontamente e tivemos a oportunidade de convidar o Sage, Rivolean e Legalize que são nomes que falam por si. Quisemos representar o rap underground da melhor maneira nas suas diferentes vertentes e ficámos com um sentimento de missão cumprida. No fundo, o objectivo foi de celebrar o movimento underground e o seu crescimento, o que não pára de acontecer, e de outra forma criar uma plataforma para que possamos continuar a celebração durante muitos anos vindouros.


pub

Últimos da categoria: Curtas

RBTV

Últimos artigos