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Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 29/08/2022

Quando o pancadão começa, ninguém segura.

Uma introdução ao funk BR em 10 canções

Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 29/08/2022

O funk é um dos grandes fenômenos culturais das periferias brasileiras. E, apesar de ser homônimo ao gênero popularizado nos anos 70 e 80, que tem James Brown como seu padrinho, não segue o mesmo direcionamento rítmico. Na real, eles até fazem parte da mesma genética afro-diaspórica, mas cada um segue a sua cadência. 

A principal influência do funk carioca – como inicialmente foi conhecido – é o Miami bass, que se popularizou nas festas de dança das comunidades do Rio de Janeiro, que foram batizadas de “baile funk”. A estética sonora foi desenvolvida ao longo da década de 1980, sedimentada nos 1990 e popularizada comercialmente nos anos 2000. Nessa jornada, o estilo foi se transformando. Passou de batidas mais próximas ao rap, feitas nas bateria eletrônicas 808, para algo mais pesado, colocando os graves dos tambores em evidência. 

Pode-se considerar que essa é uma das principais características que fez o funk BR ser conhecido ao redor do mundo, porque quando o pancadão começa ninguém segura. Porém, a música eletrônica da favela não tem só o elemento rítmico como ponto focal. As letras somadas à forma de interpretar também fazem parte dessa identidade, que foi evoluindo e, consequentemente, divida em sub-gêneros: proibidão, charme (melody), ostentação,  putaria, funk 150 BPM, funk consciente, mandelão, funk rave, brega funk, pop funk.

Assim como o rap e o jazz, a quantidade de vertentes do funk é gigantesca — principalmente por causa da entrada na indústria musical e a ascensão de artistas fora do RJ, como São Paulo e Baixada Santista. Fato é que os funks com temas relacionados ao amor e/ou conotação sexual foram os que abriram os caminhos nos bailes. Isso também chamou a atenção das autoridades, que de todo jeito teve – e ainda tem – o objetivo de criminalizar esse tipo de música por ir contra a moral do conservadorismo. Mais recentemente, um deputado apresentou um projeto de lei para “tipificar como crime qualquer estilo musical que contenha expressões pejorativas ou ofensivas nos casos trazidos por esta lei”.

Antes desse, outro plano foi arquitetado para literalmente proibir a execução pública do funk a partir de uma ideia legislativa de 2017. O abaixo assinado teve mais de 20 mil manifestações individuais para que fosse criada uma lei para tratar o funk “como crime de saúde pública à criança, aos adolescentes e à família”. O argumento era: “os chamados bailes de ‘pancadões’ são somente um recrutamento organizado nas redes sociais por e para atender criminosos, estupradores e pedófilos a prática de crime contra a criança e o menor adolescentes ao uso, venda e consumo de álcool e drogas, agenciamento, orgia e exploração sexual, estupro e sexo grupal entre crianças e adolescente, pornografia, pedofilia, arruaça, sequestro, roubo e etc.”

A perseguição resultou até na prisão de artistas, como o DJ Rennan da Penha, um dos produtores mais reconhecidos do cenário atual, por associação ao tráfico da comunidade onde ele organizava um dos maiores bailes do Rio de Janeiro: o Baile da Gaiola. Por outro lado, a junção do funk com pop vem abrindo novas possibilidades de entrada em lugares que as outras vertentes dificilmente entrariam. Anitta e Ludmilla (antes conhecida como MC Beyoncé) são algumas que estão conseguindo visibilidade e expandindo o raio de extensão da música que fazem — a primeira mais que a segunda. 

Quebrar as barreiras mercadológicas é bom para algumas partes. Ser embalado para tocar nas rádios e TVs gerou uma abertura maior. Isso tem acontecido de tempos em tempos quando um ou outro consegue ascender comercialmente. É bem verdade que, nos últimos anos, a quantidade de artistas no mainstream tem sido maior. No paralelo, também existe um mercado próprio com um público fiel e empresas investindo no desenvolvimento de carreira de novos MCs: Kondzilla, Love Funk e GR6 são algumas delas. Assim, fomentam a cultura, geram a economia local com os fluxos (bailes) e mostram que ainda estão na resistência.
Esse é apenas o resumo do resumo de uma história de superação que será contada nos seis episódios da série documental Funk.Doc: Popular & Proibido, que estreia no canal HBO e na HBO Max no dia 30 de Agosto. Os funks listados aqui servem como guia, porém não representam o cenário por completo, porque ele é gigantesco. Apenas sintetiza o processo evolutivo dessa música tão potente e impactante.



[Cidinho e Doca] “Rap da Felicidade” (1995)

Hit até hoje, a música de Cidinho e Doca é um hino de quem mora nas periferias brasileiras e também um protesto contra o racismo e a violência que acontece dentro das comunidades, principalmente por aqueles que deveriam proteger os moradores. É um sucesso, que quando toca faz geral dançar e pensar.



[MC Bob Rum] “Rap do Silva” (1996)

Este é outro clássico que até hoje faz parte da setlist dos DJs. Regado de Miami bass, o funk que tem rap no nome faz um pedido de paz para os jovens que — na época em que a música foi escrita — iam para os bailes para arrumar confusão, que muitas vezes resultava em morte. Silva é um dos sobrenomes comuns no Brasil, por isso a história representa os brasileiros.



[Claudinho e Buchecha] “Só Love” (1998)

Música que intitula o terceiro disco da dupla (pela Universal Music) segue uma linha mais pop, meio r&b, Só Love bombou!! Não à toa o CD vendeu mais de 500 mil cópias. Ela é uma declaração de amor e um convite para um segundo encontro. Nas apresentações na TV e nos videoclipes, Claudinho (falecido) e Buchecha faziam danças com passos combinados, que hoje fariam sucesso no Tik Tok.



[Bonde do Tigrão] “Cerol na Mão” (2001)

Com “Cerol na Mão”, o Bonde do Tigrão levou o funk para programas de TV, rádios e karaokês. Até a forma deles se vestirem e os cabelos loiros descoloridos viraram referência para muitos jovens e adolescentes. A letra faz um convite para dançar, mesmo que não saiba, porque eles vão ensinar. O cerol é uma mistura de cola de madeira com vidro moído, que é usada nas linhas de pipa com o objetivo de cortar a linha de outras pipas. Na música, eles usam como referência para conquistar uma pessoa e dançar com ela — na teoria parece sem nexo, mas na prática faz um certo sentido. O sucesso também garantiu ao bonde um contrato com a Sony Music



[MC Naldinho e MC Bella] “Um Tapinha Não Dói” (2001)

A Furacão 2000 foi uma das precursoras nos bailes funk no Rio de Janeiro e uma das responsáveis pela popularização do funk nas mídias de massa, tendo o próprio programa de TV. Em 2001, a Furacão lançou uma coletânea que tinha Tapinha não Dói, do Mc Naldinho e Mc Bella. Sucesso no verão brasileiro e exportada para o mundo, a música é sobre dar um tapinha durante a relação sexual. Mas tempos depois, a letra se tornou polêmica por estar relacionada à violência doméstica.



[Tati Quebra Barraco] “Boladona” ( 2004)

Produzida pelo DJ Marlboro, “Boladona” colocou de vez o nome de Tati Quebra Barraco e toda a sua personalidade no cenário musical. A música, que faz parte do segundo álbum dela (com o mesmo título), entrou até para trilha sonora de uma novela da Globo, o maior canal de televisão brasileiro. Nela, Tati “bota o bicho pra pegar” narrando um esquema para encontrar alguém que estava afim e não deixaria passar de jeito nenhum. É hit!



[Mr Catra] “Adultério” (2009)

Falecido em 2018, Mr. Catra era (e é) a personificação do funk. Apesar da letra quente, sobre diversão e orgias, o som ganhou os ouvidos. É dançada e cantada até hoje, principalmente por causa da sensualidade do seu instrumental, que é uma versão da música “Tédio” da banda de rock brasileira Biquini Cavadão – na época, os “roqueiros” não ficaram nenhum pouco feliz dessa versão sodomita do singular, poliglota e sorridente Catra.



[Anitta] “Show das Poderosas” (2013)

Fenômeno da música brasileira atual, Anitta também começou no funk raiz. Porém, observou que poderia ganhar terreno no pop e foi. “Show das Poderosas” pode ter sido o momento da virada de chave e a autorização para a decolagem do seu voo que cada vez sobe mais alto.



[Ludmilla (MC Beyonce)] “Fala Mal de Mim” (2014)

Antes conhecida como MC Beyonce, hoje Ludmilla é um dos grandes nomes do pop funk (e também do pagode). Com batidas feitas no beatbox com complementos de batidas eletrônicas e recortes de um coral gospel, Fala Mal de Mim é um recado para as invejosas que ficam falando mal dela. Com o passar dos anos, Lud conquistou espaço e não pára de crescer. De fato, o bonde passou e quem ficou de caô, ficou. 



[MC Bin Laden] “Tá Tranquilo, Tá Favorável” (2017)

Seguindo a vertente ostentação — e cômica –, “Tá Tranquilo, Tá favorável” é mais uma que facilmente bombaria no Tik Tok. MC Bin Laden, que teve problemas para entrar nos Estados Unidos para fazer shows por causa do vulgo, ganhou notoriedade falando sobre conquistas materiais, curtição na praia e mandando recado para que desacreditou da sua vitória. As batidas cruas dão o tom para que ele compartilhe suas vitórias.

OUTROS FUNKS PARA OUVIR

MC Marcinho – “Glamurosa
MC Beth – “Dança da Motinha
Bola de Fogo – “Atoladinha” 
MC Guime – “Plaque de 100
LUDMILLA – “Hoje
Gaiola das Popozudas – “Agora Eu Sou Solteira” 
MC Leozinho – “Ela Só Pensa em Beijar
MC Paulin da Capital – “Acredita
MC Hariel – “O Fim é Triste


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