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Fotografia: Luísa Ferreira
Publicado a: 30/04/2021

Respirar em vez de suspirar.

Um Circuito em recuperação “para Lisboa cantar outra vez”

Fotografia: Luísa Ferreira
Publicado a: 30/04/2021

A tempestade ainda não terminou, mas acalmou. E muito. Em Março do ano passado, o país fechava-se em si mesmo para começar o controlo de uma pandemia que, saberíamos mais para a frente, tomaria conta das nossas vidas e alteraria as nossas expectativas sobre o que o futuro poderia ser. No meio de toda a confusão gerada por isto, a cultura sofreu bastante — e as salas lisboetas de programação de música foram apanhadas no meio.

12 delas (B.Leza, Casa Independente, Casa do Capitão, DAMAS, Hot Clube de Portugal, Lounge, Lux Frágil, Musicbox, RCA Club, Titanic Sur Mer, VALSA e Village Underground Lisboa) juntaram-se para formar um Circuito, “um projeto conjunto apoiado pela Câmara Municipal de Lisboa” para trazer os artistas de volta aos palcos e assegurar a sobrevivência desta rede que é tão importante para o ecossistema em que se insere. A partir de 3 de Maio, as portas voltam a abrir e há concertos de AMAURA, Acácia Maior, Fogo Fogo, Aurora Pinho, Mynda’Guevara, Knok Knok, DJ Marfox, FARWARMTH, Scúru Fitchádu, Império Pacífico, Silly, YAKUZA, EVAYA, Studio Bros, Herlander & Phoebe e mema., entre muitos outros. Podem consultar a programação aqui.

Em declarações prestadas ao Rimas e Batidas, os programadores destas salas falam sobre o que significa e o quão importante é este regresso que se espera que seja o início de uma nova fase mais luminosa.



Alexandra Campos Vidal, DAMAS:

“O regresso temporário a uma actividade de produção e programação surge com grande alegria, humildade e cautela.

Foi um ano em a que a nossa indústria foi das primeiras a fechar e é das últimas a reabrir, sem certezas do que vamos encontrar quando a ‘reabertura’ acontecer.  É difícil explicar o que representa, ou até mesmo o que representou, até agora, vermos a nossa actividade profissional ser completamente esmagada por acontecimentos que não escolhes nem controlas, houve e há muito para digerir.

10 anos depois do 25 de Abril a RTP fez aos portugueses uma sondagem sobre qual era a melhor coisa que a Revolução tinha trazido, o acesso à cultura era a segunda coisa depois da liberdade, o que fazemos, todos em conjunto, pela cultura e pelo seu democrático acesso tem de ser reconhecido e acarinhado, há 47 anos e agora surge novamente um problema de criação e disseminação de cultura pelo país, esperemos que os próximos anos existam mecanismos de ajuda continuados e que não se perca aquilo que nos define e quem nós somos.

Artistas, técnicos, promotores, agentes, programadores, produtores perderam os seus trabalhos, as venues fecharam e a comunidade artística viu cortada pela raiz os seus rendimentos directos, milhares de pessoas enfrentam uma crise financeira, mas também existencial sobre o que fazer, uma vez que o regresso à actividade de programação cultural com as medidas em vigor não se faz sem apoio.

Queremos agradecer à Circuito e à CML os apoios criados e que possibilitam que voltemos a esta bliss temporária de podermos continuar a criar um bocadinho da enorme teia que é a cultura humana.”

Mariana Duarte Silva, Village Underground Lisboa:

“Voltar a ligar as várias máquinas dentro da big machine que é esta estrutura de contentores não é tarefa fácil. Limpar o pó, repintar, lavar, cuidar sempre fez parte do nosso dia-a-dia porque o Village não tem só um sistema de som e luzes, ele tem hortas, tem cozinha, tem balouços, tem muitas pessoas que lá trabalham e nunca deixaram de o fazer. Tem muita vida própria e até um fantasma na sala que brinca com a electricidade conforme lhe apetece. Por isso ligar a máquina desta vez vem com sentido reforçado de missão para a qual estamos preparados. Nunca cansados. Nascemos e vivemos para dar palco, ver crescer e desenvolver uma comunidade cada vez mais diversa e bonita de talento português. É uma honra.”

Mário Valente, Lounge:

“Estes primeiros passos no sentido de um regresso possível têm sido o maior cura-neuras. Impossível descrever a emoção de voltar a ver os nossos amigos no Lounge. E agora ainda mais empolgados estamos com o início deste ciclo de concertos.”

Nika, VALSA:

“O último ano mudou colectivamente a forma como trabalhamos, socializamos, consumimos e na VALSA não foi diferente. Fechámos portas e reinventámo-nos em formatos que nunca teríamos imaginado. Ser parte do Circuito e unir forças com outras casas de espetáculo não garantiu apenas a sobrevivência do nosso projecto, mas também [permitiu] que pudéssemos dar suporte aos artistas que estão à nossa volta. Pra nós, que no meio de tudo isso ainda tivemos que mudar de casa, regressar às actividades com uma programação tão potente e diversa dá-nos ainda mais certeza que estamos no caminho certo.”

Inês Valdez, Casa Independente

“É muito tranquilizante podermos estar de regresso. Aguardamos que o plano de desconfinamento possa ser executado como previsto, e que uma vez mais a Cultura demonstre que não é só segura, mas essencial e estrutural à nossa sociedade. É um privilégio a Casa Independente poder retomar a programação inserida nesta colectivo de salas de música ao vivo, salas essas que são viveiros da música portuguesa e que felizmente ainda aqui estão para continuarmos o caminho.”

Luís Cunha, Hot Clube de Portugal:

“O Hot Clube decidiu que esta seria uma oportunidade para dinamizar e envolver vários actores da cena jazzística portuguesa, que, para além dos músicos, têm visto a sua actividade muito reduzida. Juntámos 10 líderes de bandas e 10 programadores que trabalharão em duplas propostas pelo Hot Clube. Deste intercâmbio resultará um ciclo de concertos variados, no seu estilo, forma e conceito.

O regresso ao palco do Hot Clube proporcionado por este ciclo marcará uma nova fase plena de entusiasmo, dinamismo e diversidade musical que pretendemos caracterize a actividade do Hot Clube nos próximos tempos.”

Madalena Saudade, B.leza:

“Este regresso, que não é ainda O Regresso, é, para nós, um acto de fé, de resistência e reconhecimento. Maio do tinto maduro, da cor das flores, traz agora luz ao B.leza. São 10 concertos, de 3 a 30, para voltarmos a casa. Para Lisboa cantar outra vez.”

Manuel João Vieira, Titanic Sur Mer

“Circuito é uma iniciativa solidária nunca antes vista entre dezenas de estabelecimentos que programam música ao vivo. Particularmente em Lisboa, com a ajuda da Câmara da cidade, conseguiu dar oxigénio a um sector cultural altamente lesado pela pandemia, apoiando a continuação do trabalho de programação, manutenção dos postos de trabalho e apoio a técnicos e músicos.”

Pedro Fradique, Lux Frágil:

“Acho que todos queremos, precisamos e, naturalmente, preparámos bem as coisas para este regresso. O reconhecimento, por parte da CML, da importância deste Circuito de salas — para a cidade e para a sua comunidade artística – foi fundamental para atravessar estes meses. Mas poder voltar a receber, público e artistas, é uma sensação tremenda. Até porque é também o início de um caminho que temos de começar, todos, a percorrer em relação a várias coisas.”

Pedro Azevedo, Musicbox e Casa do Capitão

“Este regresso à programação representa um óbvio enriquecimento cultural que se quer para Lisboa, é a esperança de que continuaremos vivos e a contribuir para a sobrevivência do ecossistema associado à nossa actividade, é a esperança de que após um ano de privação seja hoje claro o papel vital que os clubes desenvolvem no tecido cultural da cidade, no desenvolvimento de novos talentos, na criação de públicos e em cimentar hábitos culturais.”

Sérgio Duarte, RCA Club

“Um misto de emoções nesta fase da vida do RCA Club… Felizes e optimistas por um lado, receosos e sem grandes expetactivas por outro. Esta reabertura acaba por nem o ser na realidade, já que não vamos conseguir criar dignidade financeira para existir enquanto empresa. Chamar-lhe-ia uma ‘espreitadela’ nesta janela criada pelo apoio dado ao Circuito Lisboa pela CML, pois só assim nos será possível abrir as portas a um número muito reduzido de público para assistir ao trabalho de alguns artistas no nosso palco. Queremos muito que esta janela se transforme em porta e que seja um momento breve que antecede o que todos nós desejamos… A verdadeira reabertura!

Este momento mostra a todos que estamos vivos e queremos celebrar a vida! A nossa face otimista sorri perante este desafio de programar em cima da precariedade financeira e segurança sanitária, mas com a felicidade de poder pagar uma compensação aos artistas, fruto do apoio da CML, distribuído pelas casas através do Circuito. Vamos a jogo, mesmo sabendo que não haverá retorno financeiro. Mas esta sede e esta paixão ninguém nos pode tirar e por isso estamos a programar e produzir todos mais de uma centena de espetáculos para serem apresentados nos meses de Maio e Junho.”

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