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Texto: ReB Team
Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 26/05/2023

Uma peça em cinco atos para nos debruçarmos sobre o mistério.

Um avião desaparecido há 20 anos inspirou o novo disco de Ikonoklasta e Isis Hembe

Texto: ReB Team
Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 26/05/2023

É um dos maiores mistérios da história da aviação. Foi no dia 25 de Maio de 2003, há precisamente 20 anos, que um Boeing 727 descolou da pista em Luanda, a capital de Angola, sem qualquer tipo de autorização, e nunca mais foi visto. Nunca houve uma conclusão definitiva sobre o que se passou naquele dia. Sabe-se que duas pessoas, envolvidas no negócio da aviação mas sem licença para pilotar aquela aeronave, estavam a bordo e não mais foram vistas. O avião desapareceu misteriosamente, sem deixar qualquer rasto, e muitos especulam que a aeronave possa ter sido desmantelada algures para ser vendida às peças, num ambicioso esquema ilegal. 

20 anos depois, esta mirabolante história real inspirou um disco. O Insólito Caso do Pássaro Metálico foi lançado esta quinta-feira, precisamente à hora em que o avião desapareceu, e é um projecto que junta Ikonoklasta e Isis Hembe, rappers angolanos que decidiram recuperar este episódio para o transformar numa obra de arte, baseando-se nos factos verídicos mas criando uma trama fictícia em torno do que aconteceu naquele dia. Os músicos chamam-lhe mesmo uma “hiphopera”, aludindo à componente narrativa (e épica) do projecto.

“A nossa inspiração veio do mistério em volta do acontecimento”, explica Ikonoklasta ao Rimas e Batidas. “É o típico comportamento dos contadores de histórias, aproveitarem-se das lacunas que a realidade oferece para fazer fluir a imaginação e a criatividade e, no meio disso, colocar lá o que nós em Angola chamamos de conduto, o acompanhamento nas refeições. A esperança é sempre de que o conduto possa mexer no imaginário de quem ouve e, no mais ousado dos desejos, que consiga, de algum modo, inspirá-las.”

Os dois rappers interpretam personagens que estão ao serviço da Aerospace, uma empresa norte-americana sediada na Flórida, a verdadeira proprietária do avião, que lhes atribuiu a missão de o roubar para o devolver aos seus legítimos donos. Isto porque as autoridades angolanas estariam a provocar um impasse na situação daquela aeronave, uma vez que tentavam reduzir o respetivo preço para depois a adquirir. 

Em O Insólito Caso do Pássaro Metálico, Isis Hembe é Meso87, um especialista informático tímido e solitário. Já Ikono é um ex-funcionário dos serviços secretos que se afastou das instituições estatais e que vai pilotar o avião e concretizar o assalto. Ambos são profissionais do crime, ladrões de elite, particularmente inclinados para roubos cujos lesados sejam os oligarcas poderosos que comandam o país.

Com participações de Marta Ren, Olinda Simeão e Pry (e beats de SH3THEROOKIE, FS Green, Danny Stone, Silvério Está Alone e Syn), esta é uma “peça em cinco atos sequenciados cronologicamente”, que é “suposto ouvir-se inteira”, como apelam os seus criadores.

A parceria artística entre Ikonoklasta e Isis Hembe estabeleceu-se há algum tempo. “Nós somos apreciadores da arte um do outro e temos afinidades que ultrapassam a música”, conta o rapper e activista Luaty Beirão. “Começámos por fazer um single, ainda inédito; depois fiz um show para a RTP em que o Isis Hembe foi meu convidado, mais tarde aproximámos os laços a partir de um projecto chamado Vosi Yetu, onde existia uma atividade denominada Bungula Street Sessions, que consistia em levar música ao vivo para as periferias de Luanda. Tocávamos mesmo na rua e o Isis era praticamente o nosso MC residente. Há também um lado interventivo no Isis, que não se coíbe de ser vocal e dar opiniões públicas sobre a nossa realidade socio-política (num contexto onde o medo ainda reina e quem fala publicamente corre riscos), o que nos aproxima igualmente enquanto cidadãos ativos e opinativos.”

Esta ideia nasceu com um terceiro elemento, que eventualmente abandonou o projeto. “O processo criativo foi relativamente fluido. Num grupo de WhatsApp fomos trocando ideias, instrumentais, decidindo qual a atmosfera para cada parte da estória, escrevendo, enviando demos gravadas com o telefone para nos estimularmos um ao outro e, assim, devagarinho, fomos avançando.”

Os artistas tomaram a liberdade criativa de propor um desfecho para este mistério, imaginando o que terá acontecido ao avião e aos tripulantes depois daquele dia de 25 de Maio de 2003. “A nossa missão é dar um pretexto para que as pessoas possam, por si mesmas, procurar o que sucedeu e refletir sobre a realidade (por exemplo: como pode uma coisa tão escabrosa ter acontecido de maneira tão simples e como é que isto não faz parte da nossa memória e imaginário histórico?); que possam imaginar realidades novas a partir da mensagem que extraírem da obra.”


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