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Fotografia: Luís Reis Ruivo
Publicado a: 01/02/2021

Encontrar terreno comum e experimentar.

UAU, OK: “Andávamos inconscientemente à procura de um som que ainda não tínhamos ouvido”

Fotografia: Luís Reis Ruivo
Publicado a: 01/02/2021

A Sente Isto tem um novo projecto em mãos: os UAU, OK são Vasco Reis Ruivo e Danny G, dupla que acaba de se estrear com “Adamastor”, que sai com videoclipe realizado pelo primeiro.

Como o título da música indica, há peso em tons lúgubres e góticos a permear o áudio e os visuais — e não existe mapa que nos ajude a localizar o duo no espaço português. Numa realidade paralela, poderíamos imaginar isto saído de uma jam session com Slow J, José Mário Branco e Mão Morta num qualquer bar do Cais do Sodré, em Lisboa.

Apesar de não serem dois nomes imediatamente reconhecíveis para o grande público, Vasco e Danny não são caras novas: o primeiro realizou o videoclipe e tocou guitarra em “Impasse” de Papillon (com quem também andou na estrada), e colaborou com DJ Ride em “Midnight“; o segundo foi co-produtor em “Nada a Esconder” de Slow J.

Fomos saber mais sobre os UAU, OK, um grupo que se conheceu e estabeleceu os primeiros laços no cinema e que terminou a criar música que causa mossa.



Gostava que começassem por explicar o nome do projecto. Parece-se mais com uma reacção a um nome arrojado que alguém tenha sugerido do que a um nome de banda…

É uma leitura interessante, realmente a expressão pode ser usada em reacção a qualquer coisa arrojada que te digam. Por outro lado, também a podes usar quando alguém te conta uma história que prometia ser fascinante e levas a seca da tua vida. Está lá sempre esse toque de entusiasmo, pode é ser forçado.

No nosso caso, mais do que isso tudo, é uma reacção a nós mesmos. É um nome quase libertador. Porque também tem um lado cómico, de deboche. Estamos a rir-nos de nós mesmos e daquilo que fazemos, porque tens a música muito pesada e dark, mas não nos podemos levar assim tão a sério. Juramos que não somos assim tão depressivos quanto as músicas dão a entender. Ou, pelo menos, gostamos de acreditar nessa narrativa, é menos preocupante.

Mas o nome foi uma coisa que foi ficando. Queríamos um nome relativamente neutro. Este apareceu um dia e foi-se entranhando. Também tinha um lado estético, quando escrito, que nos interessava. A certa altura, já era o nome da banda e ainda não sabíamos.

Onde é que se conheceram e quando é que decidiram começar a trabalhar juntos?

Conhecemo-nos na Faculdade de Cinema. Fizemos as primeiras colaborações em curtas-metragens. Um realizava (Vasco) e o outro fazia a banda sonora e sonoplastia (Daniel).

Chegámos a gravar músicas para curtas juntos, a dinâmica era sempre incrível. E, quando experimentámos fazer música só porque sim, gostámos do resultado. Já tínhamos acabado a universidade quando decidimos começar a levar isto mais a sério e começámos a tocar e a gravar sempre que não estávamos a trabalhar.

Há um peso e um negrume no instrumental e na escrita que depois também é transportado para o vídeo. Existiram referências (musicais e visuais) que foram um ponto-de-partida para a criação da vossa estética e imaginário ou isto foi surgindo em jams ou algo do género?

As coisas foram acontecendo, não houve propriamente referências como ponto de partida ou um objectivo inicial. Andávamos inconscientemente à procura de um som que ainda não tínhamos ouvido, e fomo-lo definindo no decorrer do processo de criação, em que duas pessoas com universos e gostos distintos encontravam um common ground. O espaço que fomos criando para fazer música era incrível, experimentámos muito. Ainda é pouco claro para nós em que género é que nos inserimos. O filme foi, em certa medida, uma extensão deste mindset. Introduz-nos a nós e ao nosso universo.

Falem-me um pouco mais sobre este tema em específico, o “Adamastor”. Quando é que começaram a trabalhar nele e o quão importante foi para definir o som de UAU, OK?

O “Adamastor” foi tipo uma esponja do nosso processo de descoberta do som de UAU, OK. Não foi a primeira música que fizemos, mas foi a primeira que surgiu depois da decisão de começar a banda.

Durante dois anos, nunca sentimos que estivesse acabada. À medida que íamos fazendo novas músicas e descobrindo o nosso som, o “Adamastor” ia sofrendo mudanças que o reflectiam. Estávamos obcecados em encontrar um ideal de perfeição qualquer, o nosso ideal, fosse isso o que fosse. A certa altura, tínhamos a voz que ou é sussurrada ou está aos berros, as guitarras entre o clássico e a distorção, o beat e o 808 com os arranjos orquestrais por cima, as letras entre o boémio e o pesado, entre outros elementos, ou seja, continha quase tudo o que, para nós, eram os UAU, OK.

Sei que tanto um como o outro estão próximos da Sente Isto e dos seus elementos, mas como é que se dá a oficialização desta ligação? Só fazia sentido ser assim?

Resposta pragmática? São amigos de longa data. Têm experiência. Partilhamos uma visão relativamente à criação. Sabem fazer as coisas que nós não sabemos ou não queremos saber fazer, o que nos ajuda a manter o foco no processo criativo. E gostaram do nosso som quando ouviram o que andávamos a fazer. Tal como a definição do nosso som, esta ligação também foi acontecendo.

Isto é o primeiro single de um trabalho mais longo? O que é que podem revelar?

Há mais coisas para vir. Como ficou bem claro com aquilo que dissemos sobre o “Adamastor”, a partir daqui é sempre a descer.


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