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Fotografia: Hick Duarte
Publicado a: 27/03/2024

O rapper brasileiro passa por Portugal nos próximos dias.

TZ da Coronel: “Consegui conquistar o que eu sempre almejei, que era viver do meu sonho, viver da música”

Fotografia: Hick Duarte
Publicado a: 27/03/2024

“O TZ da Coronel é artista, cantor, tá ligado!? Nascido em Nova Iguaçu e criado em Cabo Frio, lá na Coronel, comunidade do Morro do Limão. Eu comecei no trap em 2017, com 16 anos, e consegui conquistar o que eu sempre almejei, que era viver do meu sonho, viver da música. É disposição e persistência”.

A definição de quem é o TZ da Coronel é feita pelo próprio. De sorriso fácil, mas sempre com o semblante sério e atento, Matheus de Araújo Santos, de quase 23 anos, é objetivo nas palavras. Isso não quer dizer que ele fique na defensiva o tempo todo. Conforme nossa conversa via Zoom flui, TZ se abre mais. Talvez um dos lugares que ele se sinta mais à vontade seja o palco. Isso pôde ser observado na abertura da turnê do álbum Dacoromode no icônico Circo Voador, no Rio de Janeiro, e na apresentação explosiva que fez no Lollapalooza Brasil’24 ao lado do trapper Oruam. 

Essa mesma tour desembarca na Europa no dia 28 de março para 4 apresentações até o dia 30, sendo três em Portugal (Lisboa, Porto e Freamunde) e uma em Londres, na Inglaterra. Porém, quem espera que ele repita o que já fez no Brasil, poderá ter surpresas. “Eu vou fazer de outra maneira, mas não vai mudar tanta coisa”, afirma. “Estou bem empolgado, porque vai ser a segunda vez que vou tocar fora do país, tá ligado!? E eu gosto bastante pra onde o rap tá me levando e as coisas que eu estou conquistando”.

Cria das batalhas de rima, que se interessou em participar depois de ver vídeos no Youtube, TZ teve uma carreira curta nas disputas de freestyle por simplesmente perder o interesse. Porém, aproveitou a facilidade que tinha de rimar no improviso para fazer suas músicas no estúdio. Para o MC, ambas experiências se complementam por produzirem adrenalinas diferentes. “Na batalha, bate mais na hora”, observa. “Mas gosto mais de gravar música porque eu posso me ouvir depois, ver como que tá, posso fazer um retoque, posso aperfeiçoar mais, posso lapidar”. Ter essa possibilidade de voltar atrás caso não saia conforme o esperado, ajudou TZ da Coronel a desenvolver uma forma pessoal para fazer seus sons. 

Quando começou a ter acesso às gravações não tinha noção de composição. Aí, pediu ajuda para alguns amigos, mas não entendeu. O jeito foi criar sua própria técnica. “Não tem como tu aprender, tu mesmo tem que se encontrar ali e fazer. Depois eu consegui me encontrar e dar um valor pra isso”. Esse exercício o ajudou a observar as movimentações do cotidiano. Assim, já chega pronto com as ideias para que assim que os beats ecoarem nos fones e o botão REC for acionado, a letra surja naturalmente já com o tempo valendo. 

“Agora eu tenho que mostrar quem eu sou. Então, já vou pro estúdio sem nada. Ouço um beat lá na hora e faço tudo no freestyle”, revela. “Tipo, eu vou vendo as coisas no dia a dia, e vejo um bagulho que é maneiro pra eu poder botar na música, eu já gravo na mente mais ou menos o que eu quero. As pessoas dizem que quando você fala, sua mente grava melhor do que quando você pensa. Então, já falo comigo mesmo pra guardar aquilo. Depois quando a gente tá gravando sempre vem essas ideias”.



A autenticidade do artista, seja pela voz marcante ou pelas letras, que vão da vivência nas ruas perigosas do Rio ao romance e à (chamada) putaria (com letras mais explícitas), o levou rapidamente a ser reconhecido como um dos grandes hitmakers do trap brasileiro. Um exemplo é o single “Qual é Seu Desejo?”, um dos seus mais recentes feito em parceria com Ryu The Runner, e produzido por Nagalli, que rapidamente bateu as dezenas de milhões de plays nas plataformas de streaming — são quase 20 milhões no Youtube, e conquistou o topo do Top Songs Brazil e a #9 posição no Top Songs Portugal, ambos do Spotify. O mais interessante é que essa música já era um hit no TikTok antes mesmo de sair oficialmente. Algo feito despretensiosamente pelos MCs.

“A música tá se expandindo bem, tá se expandindo legal no TikTok. Tipo, é meio que específico essas músicas que bombam lá”, diz ele. “’Qual é Seu Desejo?’ eu mandei pro Ryu gravar, ele gravou e postou um story com o finalzinho da minha parte e começou a parte dele falando: ‘Aí TZ, gravei essa.’ Desse vídeo no Instagram, alguém pegou e colocou no TikTok, e lá começou a bombar”. 

Estrategicamente, o trapper acha que esse modelo de promoção pode muitas vezes não vingar porque o público também gosta de ser surpreendido. Mas acredita que se a música for boa, vai estourar de qualquer jeito. “A estratégia das prévias é maneira, mas eu prefiro o modo surpresa”. Ele ressalta também que sua escolha em fazer trap foi proposital porque engloba dois gêneros que ele gosta: o rap e o funk. “O trap meio que tem um pouquinho dos dois. Então, acho que me chama mais que o rap tradicional”.

Diferente do trap de Atlanta, o feito no Brasil tem suas particularidades (além da língua) e muitas vezes se funde (e é confundido) com o funk carioca, dos bailes. Fã assumido de 21 Savage, Travis Scott, Central Cee, Russ Millions e Don Toliver, tendo já rimado nos beats do Fumez The Engineer, TZ acredita que o trap brasileiro aos poucos está conquistando o espaço no mundo. “Acompanhando aqui pelos ouvintes, pelos lugares que estão ouvindo, a gente tá tendo uma crescente”, diz. “Acho que aos poucos vamos chegando, até a hora que já tiver expandido legal. Em questão de números, o Brasil tá como? Voando”. 

Os portugueses e londrinos que forem aos shows poderão conhecer de perto essa versão brasileira com a tag “É o TZ da Coro”. Só não se sabe se todas as 23 faixas de Dacoromode estarão no setlist, porque a ideia era produzir um álbum conceitual que fizesse parte do seu histórico como artista, fazendo a performance de algumas músicas dele, acompanhadas de outros hits.

 “Mano, nesse disco aí a minha intenção foi tipo mais jogar um conceito. Queria que isso fizesse parte da minha carreira. Um álbum grande já construído desde agora pra chegar lá na frente e olhar pra trás e dizer que lancei um álbum de 23 faixas maneiras”. 

Pelo sold out dos ingressos na primeira vez que foi ao continente europeu, a expectativa de TZ está bem alta, ainda mais levando em consideração que o público português é um dos que mais consomem sua música no exterior. “O público sempre responde maneiro. Acho que a energia é bem positiva, bem pra cima. Tô ansioso já pra ir pra cima”. Depois da turnê mais surpresas estão programadas. Infelizmente, tiveram que ficar em off — entre artista e jornalista —, porém, ele diz que vai ativar o modo selva. “É o modo de sobrevivência que a gente vive no cotidiano brasileiro, tá ligado!? Das pessoas que não têm muita condição, muita oportunidade, de onde eu vim, lá da Coronel… as coisas são difíceis. Então, quando as coisas estão muito difíceis, a gente costuma chamar de selva”.


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