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Publicado a: 25/01/2018

Tvon conta a história de Um preto muito português

Publicado a: 25/01/2018

[TEXTO] Alexandra Oliveira Matos [FOTO] Indi Nunez

“Nós contra nós somos muito menos nós, nós contra nós temos muito menos voz” — este é o refrão da música assinada por Telma Tvon no álbum Revista Repertório Musical Urbano lançado há quatro anos. Não a ouvimos rimar desde então, mas agora podemos lê-la. Telma Escórcio da Silva lançou Um preto muito português, um livro que “supostamente era uma letra de rap” e que conta a “história de uma pessoa que cresceu naquele que se chama ‘pretogal’, o Portugal negro”.

Tvon explica melhor que o livro retrata a vida de “um jovem que é descendente de cabo-verdianos” e que se debate “com todas aquelas experiências e realidades de um jovem que nasceu cá, mas que tem uma cor diferente”. A agora escritora garante que “há algumas passagens sobre a cultura hip hop” e que até refere alguns nomes como o de Chullage ou Força Suprema. Quanto ao regresso às rimas e aos palcos brinca ao dizer que está “reformada”. Porém, não deixa de sublinhar que “ninguém que sente minimamente a cultura hip hop se há-de reformar”.

O lançamento oficial do livro acontece no dia 10 de Fevereiro às 14:30 no Chiado Café Literário, em Alcântara. Já está disponível, ainda assim, para encomenda online na Editora Chiado

 


Tvon lança livro "Um preto muito português"


De que forma é que o livro que escreveste se enquadra no teu percurso no movimento hip hop?

Enquadra-se a partir do momento em que eu comecei por escrevê-lo através do que supostamente era uma letra de rap, era um verso. Eu estava a cantar para uma música e entretanto comecei a escrever mais do que devia e resolvi continuar.

Que letra e que música era essa?

Era precisamente o nome do livro, Um preto muito português, que tem a ver com questões de identidade.

E é uma música que já tinhas lançado ou ias lançar?

Não não, eu acabei por não lançar, é engraçado. Por isso é que eu estava a dizer que se tem alguma coisa relacionada… claro que dentro do livro há algumas passagens sobre a cultura hip hop. Eu até falo de algumas pessoas como o Chullage e os Força Suprema, o livro tem algumas referências porque no fundo eu estou a contar a história de uma pessoa que cresceu no que se chama “pretogal”, o Portugal negro, por assim dizer. Claro que o hip hop tem uma influência muito grande, mas o grosso não é sobre isso.

E essa música de onde surgiu o livro, começaste a escrevê-la quando?

Para aí em 2014.

O livro está editado desde Novembro de 2017, certo?

Ele já está pronto há imenso tempo, mas entretanto tive umas contrariedades a nível pessoal e então não foi possível dar vazão ao que a editora queria. Agora que as coisas estão um bocadinho mais calmas, eles entraram em contacto comigo a perguntar se eu ainda queria lançar e aí está.

Podes resumir um pouco do que é este Um preto muito português, o teu livro?

É a história de um jovem que é descendente de cabo-verdianos. Nasce em Portugal e debate-se com todas aquelas experiências e realidades que um jovem que nasceu cá, mas que tem uma cor diferente, entre aspas, da maioria, – e é considerado minoria apesar de não ter nascido em África – se depara. Seja com as pessoas que se sentem autóctones, seja com os que também estão na mesma situação que ele e que no fundo são também outros pretos portugueses que não se revêem nem em Portugal nem em África, porque não estão em nenhum dos dois mundos e estão nos dois mundos.

Inspiraste-te na tua própria história?

Não, de todo. Muitas pessoas têm perguntado isso, mas eu nesse aspecto sou bastante resolvida porque nasci em Angola e sinto-me muito angolana. Apesar de, claro, viver em Portugal há imenso tempo, tenho imensas influências portuguesas e também me identifico muito com Portugal. Porém, não tenho essas questões. A inspiração vem do facto de ter crescido cá e ter tido imensas pessoas à minha volta com esses problemas de identidade, basicamente quase todos os meus amigos. Então, resolvi escrever sobre isso.

Qual tem sido a receptividade das pessoas? Alguns comentários?

Tem sido de muita curiosidade. Acho que há poucas pessoas que adquiriram o livro. Na editora já está à venda e há pessoas que já estão a encomendar. Só depois é que provavelmente irá para a FNAC e outras lojas. As pessoas que sei que já estiveram a ler, que são pouquíssimas, provavelmente por ser a realidade delas identificaram-se bastante. O lançamento oficial é no dia 10 de Fevereiro às 14h30 no espaço da Editora Chiado, em Alcântara, perto do consulado de Angola.

Em relação à tua presença no movimento hip hop, estás afastada ou a preparar alguma coisa?

Eu estou, entre aspas, reformada, como eu costumo dizer a brincar com os meus amigos. Mas isso eu sei que não existe, ninguém que sente minimamente a cultura hip hop se há-de reformar. Pelo menos de forma activa não estou, estou de forma passiva. Apoio no que puder apoiar, comprando CDs, indo aos concertos. Na vertente de MC, não estou a trabalhar em nada.

Sendo este o teu primeiro trabalho em livro, quais foram as principais dificuldades que encontraste ao passar da rima para a prosa?

Por acaso até nem foi muito diferente. Eu sempre escrevi, sempre gostei de escrever.Desde os meus 12 anos que me lembro de a minha avó chamar-me à atenção de que eu tinha de aprender a lavar a loiça e essas coisas todas em casa e que não podia estar tanto tempo só a ler e a escrever. Eu gostava muito de escrever, então já tinha muitas coisas escritas que nunca viram a luz do dia. Estava habituada a não só escrever as rimas como também muitas outras histórias. Mesmo no meu trabalho, na área social, muitas vezes eu incito os jovens a escrever e por isso também tenho que dar o exemplo. A única diferença é que agora vai chegar a mais pessoas. Vou ser sincera, eu sempre gostei de escrever, de rimar, de estar a conversar, mas não lido muito bem com a atenção do público, essa é uma parte com a qual tenho de trabalhar.

Tens mais livros planeados então?

Tenho estado a escrever. Este já está pronto desde 2015 e entretanto já escrevi algumas coisas, mas vamos ver como é que as coisas correm e se gosto desta aventura ou não.

 


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