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Publicado a: 12/07/2017

Tuxedo: um fato de duas partes nunca compromete

Publicado a: 12/07/2017

[TEXTO] Diogo Santos [FOTO] Direitos Reservados

O guarda-fatos pode ser tramado. Às tantas, as meias já não têm par. As gravatas com padrões engraçados ainda têm marcas do caldo verde do último casamento. E o laçarote secretamente inspirado na camisola da montanha do Tour já viu melhores dias. Sobra o aparente aborrecimento do clássico emparelhamento da calça preta, com o casaco preto, a camisa branca e, claro, a gravata preta. Já todo janota, preparas um Gin com água tónica de marca branca. Sem dar por ela, viras uma garrafa e começas a falar com duas pequenas figuras que te pousam nos ombros. Um, o Mayer Hawthorne, diz “jovem, estás todo soul”. O outro, Jake One, diz “Puto, que hip hop é esse?”. E acordas. Cometes a proeza de não amarrotar o fato de duas partes e, ainda sem jantar, já sabes que a noite vai ser memorável.

 



Guarda-fatos e alfaiataria de lado, a história desta soma de duas partes que dá pelo nome de Tuxedo tem de ser anterior a Março de 2015, mês e ano que marcam a estreia da colaboração entre Mayer e Jake. Toca a abrir essas gavetas…

Andrew Mayer Cohen começou a fazer-se notar com uns samples aqui e acolá até cair no goto da insuspeita Stones Throw Records. Estávamos em 2005 e por esta altura já Mayer havia trocado a costa Este pelo sol da Califórnia. Em 2008 apresenta o primeiro single que servia de avanço para A Strange Arrangement, disco de estreia que seria editado em Setembro de 2009. A critica acha-lhe piada e o neo soul era rótulo a precisar de embalagens. Com How Do You Do, em 2011, Mayer saca uma colaboração com Snoop Dogg e afirma-se como um dos mais inspirados cantores da cena soul, neo soul e r&b. Ao terceiro disco (Where Does This Door Go, 2013), a lista de ilustres a abraçar a mente e a voz de Mayer Hawthorne cresce: Pharrell Williams, Bill Curtis e Jake One (cá está ele), entre outros. Antes de se atirar aos Tuxedo, partilha forças com 14KT, com quem edita sob o nome de Jaded Incorporated e de onde se pode destacar uma gulosa versão da “I Ran” dos A Flock of Seagulls – meio que feita à medida de quem não perde a oportunidade de manchar camisas brancas com vinho tinto, sangria ou sumo de limão com groselha.

 



Andava Mayer a aprender a cantar e já Jake One espalhava samples, beats e produções por Seattle fora. Em 1998, o seu nome surge pela primeira vez creditado na produção – a saber, no 12 polegadas do rapper Eclipse, “My Position/World Premiere”. Foi necessário esperar uma década para Jake One se estrear a solo, com White Van Music. A lista de convidados neste primeiro registo dizem bem sobre o patamar de produção que está aqui em causa: MF Doom, The Alchemist, Prodigy, M.O.P. ou Busta Rhymes. Depois ainda colabora com rapper Freeway, em The Stimulus Package, um dos bons registos de 2010.

Feitas as bainhas da calça e ajustados os ombros do casaco, Mayer e Jake, os Tuxedo, lançam-se então na aventura de juntar a neo soul e o hip hop… Mistura que não deverá causar grande tormenta. Desta alfaiataria de charme e batidas, saltam sonoridades que transportam quem as dança para os anos 60, 70 e 80 – Hawthorne vai orgulhosamente ao baú sacar Barry White, Isaac Hayes, Curtis Mayfeld. Já da gaveta de Jake One é expectável que saltem umas referências dos anos 90, Biggie e Tupac, por exemplo. Dos Tuxedo enquanto anfitriões de festas, é de esperar o casamento meio que perfeito, mas pouco ousado, dos géneros supracitados. E acrescentam-lhe muito funk, muito groove e muito r&b.

Caso esteja nos vossos planos dar um salto ao Super Bock Super Rock para dançar com os Tuxedo, vistam-se a rigor e não tenham receios de usar sapatilhas com o fato. Já esteve mais na moda, é verdade. Mas de noite ninguém repara e no dia seguinte não precisarão de tratar das bolhas nos pés.

 


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