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Publicado a: 09/03/2016

Chi Modu: “O Tupac era sempre um profissional quando colaborava comigo”

Publicado a: 09/03/2016

[TEXTO] Joaquim Meireles [FOTO] Chi Modu/Hip-Hop Photo Museum

Chi Modu é um dos fotógrafos mais prolíficos da Golden Era, amplamente conhecido por capturar as imagens mais conhecidas de 2Pac. O seu estilo único de fotografia de retrato e fotojornalismo tornou-o num dos fotógrafos mais abençoados da cultura atingindo um estatuto lendário.

 

Foste para a escola com o intuito de estudar fotografia?

Obtive o diploma em Economia da Universidade Rutgers. Após a Universidade frequentei uma escola de fotografia em Nova Iorque designada International Center of Photography, onde estudei Fotojornalismo e Fotografia documental. Excelentes ferramentas a se terem quando comecei a documentar e partilhar a documentação fotográfica e histórica do hip hop.

Qual a razão pela qual começaste a fotografar a cultura Hip-hop?

Eu vi o movimento “surgir” e tive a certeza de que queria documentá-lo. Na altura estava na universidade, na década de oitenta e todos nós tínhamos influências de artistas tais como os Run DMC, os Cold Crush Brothers, o Eric B & Rakim, os Beastie Boys, os Ultra Magnetic MCs, o LL Cool J e por aí fora. Nós vivíamos e respirávamos hip hop à medida que este se desenvolvia e ganhava forma. O meu colega de quarto na faculdade tinha uma conexão de todas as mixtapes que conseguia de Harlem, portanto tínhamos sempre “fogo” a tocar na nossa caixa de música.

Como é que te envolveste com a revista The Source?

Após concluir o liceu, estava a fazer alguns trabalhos de fotografia como freelancer na Amsterdam News em Harlem. Na altura, alguns dos jornalistas mais novos que provavelmente se tornaram escritores de hip hop estavam a desenvolver as suas vozes. Kevin Powell, um escritor que mais tarde escreveu a capa do Tupac para a revista Vibe, também estava a fazer alguns trabalhos como freelancer. Deve ter sido em 1990 quando estávamos lá todos. Já nos conhecíamos pois ambos frequentamos a mesma universidade em Nova Jérsia (Universidade Rutgers). O Kevin referiu uma revista que estava a tentar obter algum furor em Nova Iorque criada por uns fulanos de Boston. Disse-me que precisava de alguma ajuda, como tal, eu aproximei-me deles. A revista em questão era a revista Source e o resto é história.


 

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2Pac na imagem que adorna o documentário “Resurrection” sobre a vida e morte do rapper


Fizeste inúmeros trabalhos com o 2Pac. Existe algum em particular que tenha sido mais marcante?

O Pac era sempre um profissional quando colaborava comigo. Era como se ele soubesse que se cooperasse e me ajudasse a fotografá-lo adequadamente, conseguíamos fazer com que a magia acontecesse. Tivemos que adiar um dia porque foi a primeira e a única vez na minha carreira que tive um problema com o equipamento e embora o Tupac já estivesse mais cedo no local da sessão e pronto como de costume, no entanto não pudemos terminar a capa nesse dia devido ao sucedido, como tal, foi para casa sem tirarmos uma única fotografia, sequer. Perguntei-lhe onde estaria no dia seguinte que iria ter com ele. Olhou para mim de imediato e disse-me “Não há problema, Chi, encontramo-nos amanhã no mesmo local e à mesma hora!” Típico do Tupac. Regressou no dia seguinte, cedo como de costume, produzimos algumas das mais importantes fotografias do Pac que a maioria das pessoas conhece nos dias de hoje. Depois da sessão, fomos para casa dele e comemoramos um trabalho bem executado.

Tinhas a percepção de que as fotos que documentaste do 2Pac ou Notorious B.I.G. seriam assim tão importantes para o hip hop, actualmente?

Eu sabia que ambos eram importantes desde que os conheci. O hip hop era decisivo e o mundo sabia que a mudança estava prestes a chegar quando estes dois entrassem em cena. Quando conheces uma estrela, normalmente consegues decifrá-lo de caras. Têm algo que muito poucos têm. Sou um sortudo por ter fotografado estes dois no início das suas carreiras, quando a energia e a paixão eram ávidas.


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Notorious B.I.G. posa num plano médio capturado em frente às Torres Gémeas em 1996


Qual a tua fotografia preferida, tirada por ti?

Não posso dizer que tenha uma foto favorita, mas tenho artistas de que gosto mais de fotografar do que outros. Sempre gostei de fotografar o Tupac, o Method Man, o Snoop e o Eazy E. Eles deram-me a liberdade de criar imagens sem restrições. Penso que os resultados saltam à vista.

 O que te motivou a iniciares a Uncategorized? Que tipo de resposta tens obtido?

A Uncategorized foi um projecto criado para levar a arte às pessoas. Eu queria levar as minhas fotografias directamente às pessoas sem que um editor de fotos, um curador de museus ou um director de arte se intrometessem. Estabeleci partilhar o trabalho com as pessoas e pensei que os sete painéis colocados aleatoriamente na cidade de Nova Iorque seriam uma boa plataforma. Muitas pessoas ficaram surpreendidas quando o fiz, mas assim manifestou-se outro nível de atenção para o meu trabalho. Dei continuidade à instalação de Nova Iorque com uma exposição da Pori Art Museum na Finlândia. A resposta ao show foi esmagadora e continua a chamar a atenção e às exposições em todo o mundo.

Gostarias de vir a Portugal para uma exposição?

Seria excelente poder trazer a exposição Uncategorized para Portugal. Sei que têm uma forte comunidade de hip hop e também sei que a adoração pelo boom bap é enorme. Planeio trazer a Uncategorized e as minhas fotografias a mais cidades da Europa e Lisboa pode ser uma agradável paragem nessa viagem.


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Method Man posa num primeiro plano capturado em 1994 na cidade de Nova Iorque


No Facebook do Hip-Hop Photo Museum temos uma galeria memorável de fotografias nunca antes vistas do fotógrafo, incluindo a gravação do “Doggystyle” de Snoop Dogg, “The Infamous” dos Mobb Deep e “Illmatic” de Nas. Podem ver aqui.

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