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Fotografia: Cristina Pinto
Ilustração: Hilda Reis
Publicado a: 25/09/2025

Uma Arca de cartas de amor e de esperança onde cabemos todos.

Três Tristes Tigres sobre Arca: “É sempre sobre o hoje, mas um hoje com consciência histórica”

Fotografia: Cristina Pinto
Ilustração: Hilda Reis
Publicado a: 25/09/2025

É o quinto álbum da banda, mas o segundo desde que regressaram à vida neste milénio, mais de duas décadas depois da marca que deixaram nos anos 90. Os Três Tristes Tigres projecto do multi-instrumentista e produtor Alexandre Soares e da cantora Ana Deus, que outrora também contava com a pianista Paula Sousa apresentaram no final da semana passada Arca, o sucessor de Mínima Luz (2020).

Construído sobretudo a partir de poemas de Regina Guimarães, a quem Ana Deus e Alexandre Soares encomendaram textos sobre este ou aquele tema, é um disco que retrata particularmente os desafios e tempos complexos do “hoje”, que reflecte poeticamente sobre o livre trânsito de mercadorias mas não de pessoas, ou acerca de quem se julga no direito de possuir determinada terra. Embora o pouco optimismo de Mínima Luz se tenha esvaziado em parte, há sempre uma esperança nas “cartas de amor” que escreveram ao mundo.

Os poemas de Regina Guimarães inspiraram a interpretação de Ana Deus, que por sua vez levaram à composição instrumental de Alexandre Soares. Ao vivo, o som expande-se e desdobra-se com os contributos de Fred Ferreira, Rui Martelo e Eleonor Picas. A 18 de Dezembro, os Três Tristes Tigres apresentam-se na Culturgest, em Lisboa, com bilhetes disponíveis por 18€. Para falar sobre o novo disco, os processos de criação e a tristeza do mundo como matéria-prima, o Rimas e Batidas entrevistou Alexandre Soares.



Qual foi o vosso ponto de partida para Arca? Suponho que também venha no seguimento daquilo que foi o Mínima Luz, que terá ditado um pouco o que viria a seguir.

No Mínima Luz tivemos o mesmo ponto de partida, no sentido em que foi mais o “hoje” e menos o “ontem”. Parti para este álbum sem pensar em nada de especial do que tinha feito no outro, mas mais no relacionamento que estava a ter com os meus instrumentos, com aquilo que faço no dia-a-dia, no que me envolve, em coisas que não têm nada a ver com som. E a Ana começa mais com os textos, começou a recolher textos com a ideia do que é que ela queria dizer ou de que queria falar, e vamos trocando ideias sobre isso. Depois, aos poucos, juntamo-nos e improvisamos. Às vezes sou eu que apresento coisas, e depois ela vê se tem textos que se enquadram com o tipo de som que eu estou a desenvolver, e fazemos assim uns primeiros takes que muitas vezes é dali que sai a composição, e depois eu desenvolvo a partir daí. No Minima Luz realmente também fiz um bocado a mesma coisa, talvez aqui eu tenha feito um bocadinho mais a depuração de sons: queria muito que a voz tivesse um espaço grande, não me queria limitar no mau sentido, mas limitar também pode ser bom, que é a escolha dos instrumentos com que eu queria trabalhar. E pronto, estava aqui com esta minha electrónica dos modulares, que não é muita coisa, mas chega para mim, a guitarra está aqui ao meu lado, tenho as coisas todas, e depois vou desenvolvendo trabalho. 

E também suponho que tenham conversado, o Alexandre e a Ana, para definirem direcções e depois pedirem textos à Regina Guimarães.

Sim, principalmente a Ana. Ela pede muito, consoante os temas de que quer falar, e a Regina desenvolve textos sobre isso. Foi assim que aconteceu e elas entendem-se muito bem nisso. E a Ana só trabalha a parte dela quando já tem os textos, não faz aquelas coisas das sessões de improvisação, em que muitas vezes as pessoas que cantam sem letra e dão apenas notas… A Ana não é absolutamente assim, ela tem os textos primeiro e depois é que desenvolve. É diferente e, pronto, o meu universo também não está em texto, não é? É a linguagem do som e também parte, obviamente, do silêncio.

Pelo que percebi, o Alexandre gosta bastante de trabalhar os primeiros takes, as primeiras impressões da Ana em relação aos textos, quando começa a torná-los canções.

Sim, muito. E de surpreendê-la, muito, com as notas e essas reacções que ela tem à primeira vez que ouve as notas. É algo que depois podemos voltar a ouvir e desenvolver. Muitos dos temas do disco têm coisas de primeiro take, ou a voz ou a guitarra, porque às vezes gravamos e depois eu quero aquela guitarra ou a Ana quer aquela voz e está a outra guitarra ao fundo, e depois tudo é feito à volta daquilo.

Acredita que essas primeiras impressões e reacções são mais puras, não envolvem tanto um processo de racionalizar e repetir?

Sim, isso gosto de fazer a seguir, mas gosto de manter aquilo e traz uma certa dificuldade até, no bom sentido, porque as alterações de tempo dão-se a meio, porque se eu começar a acelerar, isso torna o processo bastante orgânico. Vais ter que te adaptar e mesmo quando fazes programação e outras coisas vais ter que acelerar as máquinas eu uso o tempo real de como aquilo foi feito e não quantizo para um tempo linear. Vou atrás do que se fez e quando acelero tenho que acelerar com os outros instrumentos, fica mais orgânico e gosto mais assim. 

Ajuda a tornar a música também mais única nesse sentido, não é? 

Sim, é verdade. Isso da coisa única, que não quer dizer que seja boa, no sentido em que podes fazer uma coisa única que é muito má também… Mas é um termo que me interessa muito na composição, tal como me interessa ao vivo, que os espectáculos também sejam únicos. Gosto disso. 

E talvez também seja algo cada vez mais importante numa fase em que a tecnologia nos permite ser cada vez mais padronizados. Também se torna algo valioso, essa autenticidade e singularidade.

É, é valioso. Depois uso a tecnologia, às vezes com bastante extensão… Sempre fui dos samplers e dessas coisas, então sou capaz de samplar e granular, tirar um bocadinho de uma coisa e fazer disso um instrumento, afinar e criar outras coisas. Isso também tem a ver com tentar essa coisa única, que é a criação dos próprios sons, as próprias cores. Procuro muito… às vezes faço coisas que depois dá para tocar em sintetizadores, mas que foram feitas a partir de uma nota de guitarra, ou até de uma coisa da voz. Depois ando para cá e para lá, no corte e costura, acabo por tornar aquilo um instrumento e toco com ele. 

Quando chega a parte de ser o Alexandre a criar, o que é que mais lhe diz, o que é que mais o inspira? São as próprias letras? É a voz da Ana e as emoções que confere a cada texto?

Depende muito. Às vezes é uma palavra que marca, uma coisa que a Ana… uma intensidade ou até, às vezes, a parte emocional em que aquilo me tocou, da forma como me tocou, e depois não quero esquecer e trabalho sobre isso na música.

Este é um disco que, obviamente, tem muito sobre o hoje, como o Alexandre até começou por dizer e sabemos que o hoje não é um tempo fácil, que há muitos problemas e desafios e que eles também estão retratados neste álbum. Mas, ao mesmo tempo, ele é apresentado na própria descrição oficial do projecto como se consistisse numa série de “cartas de amor ao mundo”. Também há uma certa dualidade aí? Que Arca é esta?

É uma coisa onde cabemos todos. Há essa tentativa de viver assim, de pensar que cabemos todos. A Ana é mais explícita nesse modo. Eu sou mais, se calhar, prático e tento viver assim e tenho uma nuvem um bocadinho mais carregada do que a dela. Mas vivo com essa nuvem e tiro daquilo o que se calhar faz outras pessoas ficarem deprimidas… A tristeza para mim é uma boa base, não tenho nada contra a tristeza e muitas vezes está próxima, no isolamento ou até na pouca adaptabilidade ao que vês à tua volta. Por outro lado, o estranho nisto é que vês tanta gente assim, não é? Também a sentir o mesmo. Portanto, é uma coisa muito de agora. Não é uma deslocação do agora. E o agora está sempre aqui. 

E suponho que o disco tenha tido um rumo temático e conceptual muito orgânico, já que reflecte esse agora… o Mínima Luz, até como o próprio título sugere, parecia ter um maior optimismo. Mas, também, muita coisa aconteceu nos últimos anos que vos terá levado a absorver essa realidade…

Sim, é verdade. Sem fuga, mas, para mim, sempre com transformação. Tens de transformar a realidade. Quer dizer, eu acho que é muito orgânico. 

Transformar a realidade através da música? 

Sim, tens de transformá-la. Não é uma coisa de palanque, percebes? Não é replicar aquilo que existe, não vou tentar replicar isso em som. Vou usá-la como matéria de trabalho. E depois transformo aquilo em som nem é bem no sentido de mensagem, é no sentido de o que é que aquilo nos faz. E depois conseguir tornar aquilo em música… acho que é uma sorte. Tenho sorte de poder fazer isso no meu trabalho. 

E as tais “cartas de amor” têm a ver com o optimismo que ainda carregam?

A Ana diz que, desta vez, não conseguiu fugir à realidade — acho piada ela dizer isso. Eu não uso a palavra optimismo, mas sou uma pessoa de esperança, e tenho-a. Quer dizer, é um bocado ler a história. O nosso momento parece sempre e claro que é o mais importante porque é o que estamos a viver, não é? Para nós é o mais importante, mas se olhares para a história, quer dizer, já houve muita coisa muito difícil e ultrapassa-se. Eu acredito nas pessoas, é evidente que temos a capacidade de estragar tudo, mas também tivemos a capacidade de transformar muita coisa, e podemos continuar e podemos ir para caminhos positivos, não é? Não precisa de ficar sempre nos negativos. São épocas, as coisas às vezes vão para cima, outras vezes vão para baixo. O importante é que, entretanto, o planeta se mantenha, se possível.

Convinha! E também considera inevitável abordar o “hoje” quando se faz música neste momento?

Eu acho que é sempre o hoje. Para mim é sempre o hoje. Mas é um hoje com consciência histórica. Não é aquela coisa de, como houve aí uma altura, que se achava que era o fim da história, que isto já não dava mais que dizer. Acho que todas as épocas, e eu gosto de ler coisas também muito para trás, todas as épocas muitas vezes acham que é o fim, que vai ser ali, que se vai acabar. Pá, só nós é que vamos acabar. Depois vêm outros. Aparece sempre alguém. As pessoas dizem: “Ah, as novas gerações, sempre agarrados às redes sociais”. Eu vejo os adultos, e quanto mais velhos são, e falo de pessoas da minha idade, parecem muito menos abertos nas redes sociais do que as pessoas mais novas. E eu acredito imenso nesta nova geração que as pessoas dizem que não está preparada para nada. Estão-se a queixar de quê? Fomos nós que os educámos. Se não estiverem preparados, é porque nós não os educámos suficientemente bem ou não lhes demos informação suficiente. Eu acho que eles, mesmo que se não a tiverem, vão buscá-la. E eles vão mudar isto. A nova geração vai mudar. Como nós também mudamos no que podemos.



Há bocadinho dizia que a tristeza e as emoções ou as sensações menos positivas podem ser boa matéria-prima para a criatividade. Imagino que, olhando para o “hoje”, pensem num futuro próspero para o projecto dos Três Tristes Tigres, nesse sentido.

É verdade. De qualquer modo, não vives só do exterior. Imagina quando isto corre muito bem, de repente caímos, e era um mundo de músicas alegres e festivas, de celebrações; e, depois, quando fica triste, as músicas estão todas deprimidas. Não, há vida interior também. Quando a economia sobe 2% ao ano, isso a mim não me afeta. Quando desce também não. Afecta-me a parte do dinheiro. Mas há muito mais coisas que nos afectam. Nós temos uma construção interior que não tem só a ver com a parte material. Cada vez mais, até porque a parte material nos anda a desiludir bastante. Mas hoje vejo montes de material estimulante. Desde filósofos, montes de coisas que leio, há imensa gente a pensar, há imenso pensamento, há imensas coisas interessantes a acontecer. E na arte também. 

E acredita que este álbum, Arca, tem essa faceta exterior se calhar mais visível, mas também tem muito dessa construção interior? 

Eu acho que sim, aliás, tenho a certeza de que sim. Se falar do meu trabalho, sim, tem muita dessa coisa interior. E às vezes é só a interpretação do silêncio que continua a ser, para mim, a grande matéria.

Como é que tem sido para si esta nova vida dos Três Tristes Tigres, passados mais de 20 anos entre o terceiro e o quarto álbum?

Tem sido muito bom e muito interessante, também da parte de termos os espectáculos e de termos criado uma equipa. Temos sorte com os músicos que estão a tocar connosco, temos o Rui Martelo no baixo, que vem de outra onda, completamente diferente; o Fred Ferreira na bateria, a Eleonor Picas na harpa. Quando o disco vai para ao vivo, nós recriamos o disco, porque há muitas coisas que são tocadas por mim que depois vão ser desdobradas, e aí há outra recriação. Portanto, nunca sinto o projecto adormecido nem acho que “agora só podemos fazer isto porque eu gravei desta maneira e agora ao vivo tem de ser igual”. Não, ao vivo, das guitarras que dobrei, faço só uma e a segunda guitarra vai ser tocada por harpa. Portanto, há uma recriação. Nunca há aquela coisa de “pronto, agora vamos fazer isto ao vivo e fica igual, ficamos dois anos assim até ao próximo disco”, se o houver. Depois refaz-se outra vez, reformulamo-nos sempre.

Deve ser igualmente estimulante, não é? 

E tem que ser, sabes? Eu acho que tem que ser estimulante, porque se não tinha escolhido outro trabalho. Eu trabalho para fazer um disco, e depois ao vivo trabalho para fazer no espectáculo uma coisa única também. Ensaiamos bastante, depois já sabemos como é e apontamos tempos. Mas não dizemos que temos só 16 ou 32 compassos de improvisação… Podemos fazer quadraturas, mas se nos apetecer não respeitar, não respeitamos e às vezes podemos dissolvê-lo. De vez em quando acontece-nos, no meio de um tema, começamos a divagar por uma ideia que apareceu, gostamos e depois já não voltamos atrás. E fazemos uma coisa que nem sequer estava lá. 

Queria também perguntar-lhe sobre a presença d’A garota não no disco. Como é que ela vai parar ao álbum e porquê esta canção? 

É mais uma coisa da Ana Deus, elas conhecem-se bem, agora também a conheço e gosto imenso do trabalho dela e por isso foi um privilégio maravilhoso tê-las às duas. Só fazer um trabalho de guitarra e de composição sobre aquelas duas vozes… Para mim não podia ter acontecido melhor. A Ana já entrou no disco dela, tinha essa ideia de fazer o convite e, depois, quando estávamos a fazer o tema, a Ana disse: “este é aquele em que eu acho que ela vai entrar bem”. E enviamos-lhe o tema e ela gravou as vozes no estúdio dela, depois mandou-nos as coisas e eu fiz aqui uns arranjinhos e tal, montámos da forma que achámos melhor. Acho que foi um encontro muito feliz entre elas as duas e comigo como músico, adorei. 

E das faixas todas do disco, houve alguma que lhe tenha dado mais dores de cabeça, digamos assim, a perceber o caminho que faria sentido em termos sonoros e musicais? 

Não, há umas é que demoram muito mais tempo do que outras. 

Mas não significa que sejam mais difíceis? 

Não, aquilo com que demoro tempo é também em coisas que depois quase nem se ouvem mas é na depuração, percebes? É no sentido de dizer: o tempo desta música é isto e vamos até ali e paramos ali ou aqui? É uma guitarra mais crua ou mais minimal? Às vezes é expandir mais os ambientes, noutras é um trabalho de cores. Por exemplo, no último tema [“Universalidade”], trabalhei a voz praticamente como trabalho os meus instrumentos. Aquilo é uma coisa engraçada porque é um poema do Miguel Torga e depois o instrumental é todo um desenvolvimento de electrónica e de guitarras, praticamente só de trabalho de feedbacks que fiz no final, e eu disse à Ana: “anda, deixa-me trabalhar a voz aqui como eu trabalho os instrumentos”. E foi assim. E depois demoramos porque vamos ouvir, e a Ana também é muito exigente com ela própria, e eu estou-lhe sempre a dizer, e é verdade, que ela faz uns primeiros takes quase inultrapassáveis, que não se devia preocupar tanto, mas acho bem porque ela depois desenvolve e também desta vez dobrou mais vozes, fê-lo noutro estúdio, em separado, o que também é interessante. Depois montávamos tudo aqui e ela diz: “agora faz aquelas coisas que tu fazes, os teus efeitos e não sei quê”. E, no final, antes de enviar para o mastering, fiz uma passagem com ela pelo disco. Os últimos toques foram dados a dois.

Tendo em conta as várias fases do vosso processo criativo para um álbum, acabam por ficar textos ou temas de fora?

Às vezes vão à vida, sim. De alguns temos pena e a Ana guarda-os, mas é engraçado porque ela gosta dos textos… aliás, o do último tema ela já queria usar aquele texto há montes de tempo e experimentou-se de outras formas e nunca aquilo entrou tão bem e no fundo acabou por entrar da forma mais plástica no sentido da plasticidade do instrumento sónico que era uma coisa que eu acho que ela não estava a contar e isso é engraçado. Às vezes é preciso dar tempo, não é, para as coisas ganharem sentido e é preciso realmente, também, saber dizer não. Às vezes temos de ir fazer outra coisa, esta não dá e se calhar daqui a dois anos o mesmo texto aparece noutra coisa, mas não ficamos a lutar por coisas que ou um ou o outro não gostamos. Quando um de nós não gosta, tira-se e fazemos outra coisa, porque temos essa facilidade também de trabalhar e então mais vale criar uma coisa nova.

E os processos de criação destes dois álbuns, o Mínima Luz e o Arca, contaminaram-se de alguma forma? Ou foram, mesmo, momentos separados? Sendo que, obviamente, também trabalham noutros projectos enquanto músicos.

Sim, nós trabalhamos noutras coisas, a Ana também faz um trabalho ligado à poesia e eu tenho os meus projectos, mas quando é para trabalhar para um disco, costumamos dizer: “agora vamos trabalhar para o disco”. Tens 15 dias, eu também tenho, depois mais três semanas, e é para o disco. E o que achamos que não cabe no disco, sai fora. Há uma ideia de disco.

E é importante essa ideia, esse tempo concreto de dedicação a um disco específico? 

Eu acho que sim, se não começas a querer fazer tudo e queres fazer uma revista no meio de um livro. Não, é só um livro.


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