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Fotografia: Vera Marmelo
Publicado a: 15/04/2019

Diogo Lima + LBC, Instytut B61, Bulimundo e ZA! no último dia do festival açoriano.

Tremor’19 – Dia 5: uma supernova a iluminar os Açores

Fotografia: Vera Marmelo
Publicado a: 15/04/2019

Cinco dias a ouvir gente que sabe estar, artistas que sabem para onde estão a apontar e uma ilha que se molda, mas que nunca muda totalmente, deixando a tradição misturar-se com o que vem de fora, algo que nem sempre é tido em conta. No Tremor, a importância de incluir a matéria-prima local está no topo da lista, e a última etapa provou, mais uma vez, que todos ganham com isso.

E comecemos pelo rap de São Miguel, que foi representado por LBC, rapper que uniu esforços com Diogo Lima, o realizador de AZ-RAP: Filhos do Vento, documentário obrigatório para entender o presente, passado e futuro do hip hip açoriano. A eles juntaram-se ainda o baterista Tiago Galvão e Black, que ficou responsável pelos back vocals, um quarteto que funcionou como uma máquina bem oleada, destacando-se a precisão na adaptação aos instrumentais do dono das baquetas e a energia contagiante do hype man e DJ de serviço.

A crueza e honestidade de Luís Branco foi recebida de braços abertos pelo público do festival, que respondeu à chamada para comparecer no Solar da Graça, espaço acolhedor em Ponta Delgada. Drogas (heroína foi das palavras mais repetidas), amor e a realidade de quem se virou para as rimas como uma forma de escapar ao lado mais negro da vida.

Visivelmente emocionado com a melhor actuação da sua carreira, palavras do próprio, LBC agradeceu a Galvão pelos conselhos preciosos (bebam água, não se esqueçam) e a Lima pela dedicação numa residência artística que cumpriu aquilo a que se comprometia: resgatar o melhor da terra e dar-lhe um pouco mais de brilho. Deus no céu, NGA na terra e LBC em São Miguel.

Como no Tremor os concertos só são parte de um quadro mais amplo, o que aconteceu pouco tempo depois de Diogo Lima + LBC serviria para testar a nossa capacidade de reacção ao inesperado. O Instytut B61, “colectivo artístico e científico”, preparou um espectáculo multidimensional em que aproveitou o que parecia ser uma fábrica — não sabemos ao certo o que era (ou onde era) porque fomos levados num autocarro com os vidros forrados com sacos pretos de plástico — para se intrometer na lista de melhores momentos do evento.

Numa série de pequenos exercícios teatrais e musicais em que se incluíram actuações de uma banda de covers de música popular e de Laxmi Bomb, grupo de Bombaim, ou a de um “gigante vermelho”, que também cantou uma versão polaca de “Psycho Killer” dos Talking Heads, a narrativa de toda a apresentação girou à volta do ciclo da vida das estrelas, utilizando isso para pequenas divagações sobre a rapidez com que nascemos, vivemos e morremos, utilizando até o festival como analogia, o que ganhou outro significado tendo em conta que era o último dia.

O final, a única coisa que temos garantida, seria realmente desconcertante (e engraçado): depois de sermos conduzidos para fora das instalações para vermos o que supostamente seria “a segunda imagem de um buraco negro”, os “cientistas” deixaram-nos sem qualquer tipo de justificação no meio de uma rua. E sim, ainda estamos à procura do verdadeiro significado de tudo aquilo…

Com as horas trocadas (mandaram-nos mudá-las antes de entrarmos no autocarro) e sem saber onde estávamos, a confusão durou pouco tempo, não estivéssemos nós em 2019 — viva a Internet! Curiosamente, o Coliseu Micaelense, palco das próximas actuações na nossa lista, encontrava-se a poucos metros dali. O universo a trabalhar da melhor forma para podermos ver a actuação dos Bulimundo na íntegra.


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