Turismo, música e consciência social: três “pilares” importantes para compreender o ADN do festival açoriano. Essa consciência, num evento que este ano tem como base o lema “Future is Female”, faz-se sentir de várias formas no cartaz, seja através da programação mais equitativa em termos de género ou no cruzamento de referências entre grupos do continente e internacionais com a matéria local.
No quarto dia, a primeira paragem ocorreu num Tremor na Estufa especial em que os ZA!, dupla catalã que volta a tocar hoje, se cruzou com as Despensas de Rabo de Peixe para uma actuação que ficará certamente na memória de todos aqueles que tiveram oportunidade de marcar presença na Casa do Espírito Santo – Irmandade da Beneficência, espaço onde também se encontrava a primeira exposição individual de Rubén Monfort, que acompanhou e documentou alguns momentos das Festas do Espírito Santo.
Numa altura em que São Pedro deu tréguas, o grupo local subiu a rua enquanto mostrava o seu folclore (que inclui uma mistura de dança e música feita com castanholas, acordeões e guitarras), concluindo a curta viagem dentro do edifício onde se encontravam os instrumentos de Papa DuPau e Spazzfrica Ehd, que conduziram toda a performance com a sensibilidade certa de quem se está a imiscuir numa cultura que não é originalmente sua, mas que os recebeu de braços abertos. Um momento de troca que vale muito mais do que salas a abarrotar.
Ribeira Grande era o próximo destino da viagem. As várias apresentações dividiram-se por espaços como o Arquipélago – Centro de Artes Contemporâneas, o Museu Vivo Do Franciscanismo ou o Teatro Ribeiragrandense, uma espécie de mini-Coliseu dos Recreios, onde pudemos assistir aos concertos de Chúpame el Dedo, Lafawndah ou Teto Preto, exemplos claros da exploração da sua própria liberdade e dos elementos que os rodeiam, fundindo tudo o que está à mão com a noção de que os limites, em certas ocasiões, podem (e devem) ser manipulados.
Regressando a uma das ideias do parágrafo inicial deste texto, os metaleiros tropicais, o colectivo paulistano de “electrónica-orgânica” e a artista experimental tiveram a missão de espalhar a importante semente da aceitação do excêntrico, do bizarro, do exótico ou do inusitado. Pelas reacções do público, os resultados são bastante positivos e existirá, mesmo que oculto, para já, um “antes” e um “depois” do Tremor.
Hoje, o último (e o mais preenchido) dia, o festival terá actuações de Diogo Lima + LBC, Bulimundo, Hailu Mergia ou Maria Beraldo.