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Publicado a: 07/06/2016

O toque de mago de Kamasi Washington em cinco escolhas

Publicado a: 07/06/2016

Kamasi Washington apresentou-se ontem na Casa da Música, no Porto, e toca hoje em Lisboa, no Tivoli (Av. da Liberdade). À revista Blitz, o saxofonista explicou que traz um octeto “com dois bateristas, baixo, teclados, três sopros e uma voz”. O músico que editou The Epic o ano passado abordou ainda a sua relação com Kendrick Lamar:

Tem sido incrível. Eu acho que o álbum To Pimp a Butterfly é um daqueles trabalhos que muda o rumo da cultura pop. É um disco que muda a cabeça das pessoas, abre-lhes os horizontes em termos das novas possibilidades que a música pode explorar, É música mais ambiciosa, mas que ainda assim é viável para as massas. Sinto-me muito feliz e realizado por fazer parte de algo assim, e muito feliz pelo Kendrick e pelo sucesso que ele tem alcançado porque a verdade é que ele é um músico realmente brilhante.

Recuperamos aqui um texto de Alexandre Ribeiro que ilustra a ligação de Kamasi Washington ao universo do hip hop.

 

[TEXTO] Alexandre Ribeiro [FOTO] Direitos Reservados

As novas linguagens musicais têm sofrido fusões desde que o universo sofreu uma revolução digital e a Brainfeeder tem tentado renovar a imagem do jazz com com a sua junção de electrónica com elementos correspondentes ao género que nos deu génios com Miles Davis ou John Coltrane. Kamasi Washington é um dos portas-estandarte desta nova onda e ergueu a sua bandeira em 2015 com o longuíssimo álbum The Epic.

O saxofone tenor, instrumento que herdou do pai, é uma arma incomparável no ataque à estrutura da música e a liberdade e capacidade criativa têm servido, em grande parte, os artistas mais ambiciosos do universo hip hop/electrónica. O génio ouve-se em To Pimp a Butterfly ou You’re Dead, fazendo sempre o que sabe melhor: acrescentar irreverência a cada composição onde é solicitado. O seu percurso tem-se feito entre grandes nomes do hip hop como Snoop Dogg ou Kendrick Lamar e uma associação a novos gigantes de música electrónica como Flying Lotus.

O novo xamã do jazz contemporâneo vai apresentar a sua obra em Portugal em Junho, num dos concertos que merecem o rótulo de imperdíveis – é pena Kamasi e Kendrick não se encontrarem em Portugal, seria um momento para mais tarde recordar. Atiremo-nos agora a cinco faixas que têm a magia do músico de Los Angeles.

 


[FLYING LOTUS] “Moment of Hesitation”

Um dos momentos mais imponentes de You’re Dead tem como protagonista um dos monstros da história do jazz e um “novato” de 34 anos a emprestar a sua “voz” para delinear uma das músicas mais labírinticas do álbum. Herbie Hancock foi o convidado para se sentar ao piano e entrelaçar-se com o saxofone de Washington numa das faixas que só peca por ser tão curta.

 


[SNOOP DOGG] “Press Play”

O primeiro trabalho com um dos grandes foi só a ponta do icebergue. O saxofonista tocou em tour com Snoop, Lauryn Hill ou Raphael Saadiq e foi juntando créditos até se lançar a solo. “Press Play” merece uma audição porque Kamasi vai ameaçando ao longo da música que quer aparecer e no fim arrebata a faixa com uma entrada fantástica e demonstra-nos o porquê de hoje ser um dos nomes mais cobiçados para pertencer às listas de créditos do universo hip hop. Carreguem no play!

 


[KENDRICK LAMAR] “u”

O melhor álbum de 2015, sem contestação, teve no maestro Kendrick o grande vencedor, mas a sua orquestra acaba por ser um All-Star Team de vedetas de uma nova geração de artistas negros prontos a mudarem o mundo. Thundercat ou Flylo estão entre os mais conhecidos à primeira vista, mas Kamasi Washington foi importante no que toca à sonoridade free jazz que se sente ao longo de todo o álbum. O saxofone moribundo encosta-nos à parede e leva o amor embriagado de K-dot a uma espécie de atmosfera que poderíamos ouvir num álbum perdido de Tom Waits.

 


[FLYING LOTUS] “Cold Dead”

A aliança com FlyLo é proveitosa e voltamos a You’re Dead para mais uma faixa onde podemos ouvir os toques tântricos da electrónica do sobrinho-neto de Alice Coltrane embrenhados com a suavidade da “voz” de Kamasi a trazer mais uma actuação enérgica pronta a carregar as nossas energias para o outer space. A família Coltrane certamente estará orgulhosa de ouvir uma composição que carrega toda a herança afro-futurista e se desdobra em mil e uma formas de nos sentirmos alienados.

 


[THUNDERCAT] “Them Changes”

“Nobody move, there’s blood on the floor”. A música começa com estas palavras e parece uma premonição para o que podemos ouvir em “Them Changes”, umas das melhores faixas do mini-registo The Beyond/ Where the Giants Roam. Na sala estão apenas Thundercat e Kamasi Washington, os suspeitos do costume. Kamasi tem aqui, mais uma vez, uma actuação discreta, mas que se torna significativa na narrativa musical e assegura uma passagem, sensivelmente, a meio da música e final de luxo a uma das músicas mais funky de Thundercat. Ainda existem dúvidas que Kamasi vai marcar uma era como saxofonista?

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