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Fotografia: Chikolaev
Publicado a: 04/12/2025

Nove pistas para uma corrida assistida por DJ Player.

TNT sobre Sprints: “Procurei essa electrónica e fomos beber muito aos anos 80. Interessa-me sempre fazer algo novo”

Fotografia: Chikolaev
Publicado a: 04/12/2025

Na maratona que tem sido a sua carreira musical, iniciada quase há três décadas, TNT acelera o passo da corrida para o quinto disco de originais a solo. Sprints foi editado pela sua Mano a Mano nos últimos dias e é composto por nove faixas, integralmente produzidas por DJ Player.

Com uma estética de nuances electrónicas que traz os sintetizadores ao de cima e recupera a década de 80 que marcou a infância de Daniel Freitas, o trabalho inclui ainda participações de Maze, Milton Gulli e Jay Fella. No plano lírico, tanto escutamos rimas de afirmação como reflexões interventivas, punchlines e versos introspectivos lado a lado num alinhamento coeso e diverso em simultâneo.

Para celebrar o novo lançamento, TNT vai actuar — na mesma noite que os GANA, que também lançaram recentemente o seu novo disco — já este domingo, 7 de Dezembro, véspera de feriado, no bar do Cine-Teatro de Corroios. Para antecipar o concerto e assinalar esta série de Sprints, o rapper e produtor de Almada respondeu a algumas questões do Rimas e Batidas.



Como é que descreverias e como é que chegaste a este conceito de Sprints? Sendo uma carreira uma maratona, são mais uns passos importantes nesse trajecto?

Cheguei a este conceito de Sprints até por uma contradição. Este disco demorou muito tempo a fazer, ou seja, os temas foram sendo feitos ao longo do tempo e, na realidade, eu depois tive de acelerar tudo para finalizar o disco. Ou seja, tinha isto tão disperso e, para materializar outros projectos, tive mesmo que me propor a mim um sprint: “Tenho de acabar isto em X tempo.” Curiosamente, é uma contradição porque é o oposto daquilo que tenho feito a nível musical, porque já são muitos anos a fazer hip hop e música — tendo em conta que comecei por volta de 1997, lancei o primeiro disco em 2005 —, estamos em 2025 e eu estou a lançar o meu quinto álbum de originais. Acaba por ser realmente uma maratona e o Sprints também é uma metáfora para tudo aquilo que vivemos hoje em dia, para a rapidez dos resultados e dos lançamentos, que têm um impacto muito fugaz e às vezes as pessoas esquecem-se ou desconhecem que demoramos anos a fazer um trabalho, para depois ser consumido em minutos numa plataforma digital. Este trabalho em específico acabou por demorar muito tempo e Sprints é uma única palavra que define muita coisa.

É um disco todo produzido pelo DJ Player, com quem já trabalhas há bastante tempo. Mas como foi o processo de construção deste disco? Trabalhares só com o Player foi por também quereres uma sonoridade e estética coesa?

Eu trabalho muito com o DJ Player, principalmente na construção de discos. Gosto só de trabalhar com um produtor por projecto. Não me importo de trabalhar com vários produtores ou eu próprio de produzir também faixas, mas, quando é um disco, gosto desta lógica entre produtor e artista porque acabas por construir uma coisa única e com uma sonoridade mais específica. Este projecto começou por ter outro nome, que não vou revelar agora porque eventualmente no futuro poderei repescar esse conceito, mas a sonoridade que pretendemos encontrar, ou pelo menos a minha proposta, e depois o Player foi construindo a sonoridade em redor dessa proposta, era utilizar muito esta linguagem dos sintetizadores, dos anos 80 mas não aqueles anos 80 que ouvimos muito agora, no revivalismo. São mais os meus anos 80, aqueles que ficaram lá para trás. Dei-lhe muitas referências de filmes e videoclipes que vi, discos que consumi nessa altura, e até acho que não foi explorado tão deep como eu gostava de ir, talvez aconteça num segundo episódio desta corrida. Não querendo entrar neste revivalismo dos 80s, eu nasci em 1981, claramente tive essas vivências e consumi essa parte artística dos anos 80, que eu considero de ouro embora seja considerada um bocado cheesy em determinada altura, mas para mim foi o que me ajudou a construir a minha personalidade musical. Então, fomos beber muito aí. O Player, tendo em conta que é um produtor de atmosferas, que não se cinge só ao hip hop e que mesmo dentro do hip hop sempre tentou fazer coisas diferentes, mesmo ao nível do sampling que utiliza, ele toca e consegue construir todas estas ambiências e cenários musicais que me inspiram e que remetem para lugares que ainda não foram explorados. No final do dia, não me interessa fazer o que já fiz nem o que os outros fazem, interessa-me fazer algo novo e penso que aqui consegui atingi-lo em certa parte. Não ainda tão deep como quero, mas já muito perto do que ambicionava. Mas penso que isso é sempre o mal do artista.

Há muitas nuances mais electrónicas na estética do disco. Foi algo que procuraste intencionalmente?

Procurei essa eletrónica, essa ambiência e texturas, muito inspirado em coisas antigas, mas também recentes desde Flying Lotus ao Tory Lanez, o Alone At Prom, um dos últimos álbuns dele, o The Weeknd obviamente, e uma série de outros que fazem um pouco essa sonoridade, mas bebendo muito da fonte. Ouvi muitos discos dos 80s, do início dos 90s, várias referências que eu já carrego e que voltei a reviver, mas ainda assim considero que gostava de ir mais deep nesta sonoridade. Porque acaba por ser um crossover e uma sonoridade que é mais cantável, e eu ainda não explorei tanto essa parte até porque não me sinto capacitado para o fazer. Mas gostaria de o explorar no futuro. Então, ando a tentar fazer uma coisa que não foi feita ainda ou que pelo menos eu gostaria de ouvir e que não encontro assim tanto no nosso panorama. Se estou a fazer bem ou mal, se as pessoas gostam de ouvir ou não, já não depende de mim. Também me inspiro muito, não que ele seja directamente electrónica, no anterior trabalho do Loyle Carner [hugo]. Identifico-me muito com ele a nível do hip hop que faço, embora ele seja mais novo que eu, e penso que nesse trabalho e na performance que faz com a banda atinge muitas destas metas a que eu me proponho. É uma electrónica-hip hop que eu pretendo continuar a abordar em trabalhos futuros. 

Fala-nos das participações. Como é que o Maze, o Milton Gulli e o Jay Fella chegaram a este disco?

O Maze chegou a este disco através da nossa colaboração no curso da ETIC. Já havia um respeito mútuo que desaguou numa colaboração, porque o que me acontece quando são colaborações é que eu visualizo, normalmente, as pessoas nas faixas. E foi o que aconteceu com ele e o Milton. Claramente vi ali as vozes deles. O Milton, devido ao carácter interventivo da música “Rescaldo”, de alguma forma via a voz dele ali a cantar. Depois, devido à estrutura da música, optámos por ser uma finalização. E o Maze tem uma secção dentro da música só para ele, na qual ele declama, mais do que rappa. E acho que isso está bem vincado porque eu estou a fazer rap e ele mais a declamar. Penso que essa diferença entre ambos é que deu o resultado final que procurávamos. Fico muito contente por os dois terem aceitado os convites, porque são pessoas que admiro e que cresci a ouvir, tanto o Maze como o Milton em Cacique ‘97 e, antes disso, em Philharmonic Weed. São estes pequenos sonhos que vou conseguindo concretizar com a minha carreira, cantar com pessoas que sempre ouvi e que respeito. O Jay Fella é uma pérola que ainda temos por descobrir, um diamante em bruto por lapidar, um dos meus rappers e cantores preferidos. Tem um ouvido que poucos têm e um skill que muitos poucos têm em Portugal. Nem tenho palavras para descrever o quão bom ele é assim como os outros 50% da dupla Silab & Jay Fella, o Silab. São os dois artistas e rappers incríveis, está ali um young blood com força ainda, com muito para mostrar, e sempre que posso trago-os à superfície, faço com que sejam um bocadinho mais vistos, porque há muito talento escondido que nem sempre tem visibilidade. Se eu sofro disso, de não ter a visibilidade que eventualmente poderia ter, há muito outro talento que não é reconhecido ou conhecido. Mas estamos a resolver isso.

Vais actuar a 7 de Dezembro em Corroios. É uma apresentação deste disco e uma celebração do teu percurso no geral?

Foi um convite da parte de GANA, do Raffa, para partilhar o palco com eles. Inicialmente não estava previsto ser a apresentação, e no fundo vai ser uma celebração. Mais do que uma listening party, que é o que se tem estado a fazer e que também é importante, e como não tive oportunidade de fazer uma sessão de escuta do meu disco, até porque parte dele já estava cá fora e deixou de me fazer tanto sentido, achei que era por bom fazer um concerto de celebração do lançamento do Sprints. Vou tocar musicas do disco e também antigas, levo comigo uma banda composta pelo Rui Berton [Bizarra Locomotiva, Carlão], Pedro Martinho, e o Monksmith que é um amigo e um colaborador assíduo que também toca com o Dillaz e noutros projectos. Portanto, é uma banda de peso para partilhar o palco com GANA e levar, espero eu, o máximo de pessoas sendo que a lotação é curta, são só 100 pessoas, para ouvir o que temos andado a fazer e celebrar desta forma mais um marco nos lançamentos que temos feito ao longo dos anos. Posso desde já avançar que o tempo em que estive envolvido noutros projectos, nomeadamente o Filhos do Meio, fez com que acumulasse muito trabalho e neste momento tenho mais coisas prontas a lançar. O Sprints acaba por marcar uma viragem num hiato de lançamentos que tive, e aos quais agora vão suceder uma série de lançamentos já programados, com pessoas diferentes, e vêm na altura que têm de vir para continuarmos todos esta maratona, em nome do hip hop, do rap, do amor que temos pela música, da cultura portuguesa, desta absorção de culturas vindas de outro lado, neste panorama de divergência, ódio e da rapidez que vivemos, tentar trazer alguma coisa de bom e um sentimento de união. E é o que espero também trazer no dia 7, ver as pessoas todas de que gosto a celebrar e a esquecer um pouco as dificuldades por que todos passamos.


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