Arranca amanhã, 25 de Julho, na Praça Marquês de Pombal em Aveiro, a edição de estreia do JAM, um evento que pretende estreitar pontes entre o hip hop e o jazz e que estará patente até sábado, 27 de Julho.
A curadoria deste novo certame, que se insere na programação que Aveiro delineou enquanto capital portuguesa da cultura em 2024, ficou entregue ao director do Rimas e Batidas, Rui Miguel Abreu, que também participa activamente nesta celebração do hip hop e do jazz com um DJ set, a moderação de um par de debates com os artistas envolvidos e a gravação ao vivo da sua rubrica para a Antena 3, Notas Azuis. Mas a oferta é bem mais extensa do que isso e inclui concertos, debates, ilustração ao vivo, dois workshops e uma masterclass, bem como mais DJ sets protagonizados por outros agentes culturais — o cartaz vai de veteranos como TNT e Maze até rostos mais recentes no panorama, como são os casos de LANA GASPARØTTI ou os Mazarin, e pode ser conhecido na íntegra na notícia atempadamente avançada pela nossa publicação.
Como forma de antecipar uma festa que se prevê importante na aproximação de dois universos sónicos com tanto em comum, recolhemos declarações de cinco dos nomes convocados a marcar presença em Aveiro ao longo dos próximos três dias.
[TNT]
“O jazz, a par do soul e R&B, está na génese da música rap e da cultura hip hop. Por isso fazem todo o sentido este tipo de iniciativas, que existem desde sempre na cultura urbana norte americana e mais recentemente no Reino Unido. Os vários volumes de Jazzmatazz de Guru e as várias abordagens de Madlib e The Roots à música jazz ajudaram-me imenso no meu percurso criativo. Oiço músicos de novas gerações como Loyle Carner ou Mick Jenkins a fazerem do jazz o ponto de comum das suas discografias. Neste evento vejo reunidos os músicos e as condições para abrir um novo caminho no panorama português, que permita levar a linguagem rap a um ouvinte mais jazzistico e vice versa.
Neste concerto vou apresentar novos temas e alguns mais antigos com uma nova roupagem. Levo comigo o Monksmith, teclista e produtor incrível, para me ajudar nesta missão. Nos entretantos cruzo o repertório com Mazarin, uma banda que gosto e admiro muito, e veremos o que sairá desta sessão de improviso, com a certeza de que iremos tocar em conjunto uma versão do ‘Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades’ do José Mário Branco.”
[Maze]
“O momento, é sempre esse presente que resulta da liberdade que o aqui e o agora agregam ao ADN do jazz e do rap. É precisamente essa avassaladora imprevisibilidade que nos faz sentir vivos, que nos moverá nestes 3 dias de experimentação entre o som e a palavra.
Eu e o Azar Azar já nos conectamos nesta linguagem da jam session há muitos anos, para além do projecto SUB-URBE que desenvolvemos, já partilhámos palcos em concertos de Dealema, nas festas Movimento no Pérola Negra, onde reinventávamos discos clássicos do rap, ou em outras jams de improviso que nos foram moldando através dos tempos na Invicta — é dessa sintonia que a nossa apresentação viverá.
Será certamente um momento de partilha, o tempo voa e já são quase 30 anos a pôr as mãos na massa da palavra e do som. É essa experiência que a vida me foi trazendo que pretendo partilhar antes do espectáculo ao vivo com os que estarão presentes no workshop. Estórias do passado, aprendizagens, vida em rimas e rimas da vida, método criativo e alquimia sonora.”
[M3DUSA]
“A ideia central da JAM — Hip Hop & Jazz é explorar e celebrar a fusão entre dois mundos musicais que, apesar das suas diferenças superficiais, compartilham uma essência e legado cultural comum dentro da história da música negra norte-americana, com base na improvisação e a experimentação. Nós estamos entusiasmadas para ver como é que esses três dias em Aveiro, bem ricos em nomes importantes nacionais do hip hop e do jazz, vão revelar essas combinações de elementos e os diálogos ao vivo que vão nascer daí.
Da nossa parte, vamos preparadas com um set que celebra a história do hip hop no feminino, pejada de referências e nomes mais obscuros nacionais e internacionais. Podem contar com os clássicos dos anos 90 até às produções mais recentes, sempre no domínio do dançável e com uma homenagem aos samples mais jazzísticos.”
[Gijoe]
“Acho que será uma oportunidade de re-misturar linguagens de uma forma livre e com toda a certeza vão ser criados momentos únicos que só acontecem neste tipo de ambiente mais livre e de algum improviso. Para os diferentes músicos vai ser libertador e desafiante ao mesmo tempo.
No meu caso, participei na produção do álbum mas não acompanho da LANA GASPARØTTI nos palcos, e neste concerto vamos ter uma interação em palco que nos vai permitir fazer ao vivo coisas que foram pensadas enquanto produção do disco, mas principalmente vamos adicionar scratch e técnicas de DJ que não existem de todo nesse registo de estúdio — vou tentar ser o quarto elemento da banda com uma abordagem mais livre e de improviso.
No meu workshop, vou abordar algumas técnicas de samling para produção e que sejam aplicáveis a várias estéticas, tentando quebrar um pouco as barreiras que estamos habituados a associar ao sampling.”
[Azar Azar]
“A expectativa é grande, visto que a criação sem rede é algo que me fascina bastante, principalmente quando cruzamos dois mundos musicais como o jazz e o hip hop.
Eu e o Maze vamos partir do SUB-URBE, em direção ao desconhecido. Vamos fazer versões dos nossos temas, utilizando-os como base e estímulo para criar novos mundos musicais. Quem sabe até novos temas!”