Na última mão-cheia de anos, Tixa tem vindo a afirmar-se como promessa emergente na música urbana portuguesa. Com uma abordagem próxima do bubblegum trap, com uma estética melódica e divertida, alegre e colorida, dá agora o passo mais sério no seu jovem percurso com o lançamento do EP de estreia, um cartão de visita intitulado Tixa, prazer.
São seis faixas produzidas por diferentes compositores e escritas e cantadas pela própria, sempre com um grande foco no embrulho visual que acompanha cada tema. Os videoclipes, sempre dirigidos por Valdir Furtado e por vezes em parceria com Tixa, têm sido eles próprios verdadeiros aperitivos para o trabalho que a artista tem vindo a apresentar, com uma qualidade e criatividade acima da média.
Para assinalar o lançamento do projecto, fomos à listening party na Musa de Marvila, em Lisboa, e trocámos algumas impressões com Tixa sobre este Tixa, prazer e aquilo que aí vem.
Já há alguns anos que tens vindo a lançar a singles e esta é uma jornada que culmina com o lançamento deste EP de estreia. Foi simples perceber aquilo que querias para este primeiro disco? Com o tempo foste percebendo que não te fazia sentido que algumas das tuas primeiras faixas entrassem no projecto? Como funcionou o desenvolvimento deste trabalho?
Foi há um ano e tal que comecei a pensar no EP, inicialmente com uma temática. Mas acabei por passar um bocado à frente disso quando deixei algumas músicas de fora e acrescentei outras de que gostava mais. Por isso, este EP acabou por não ser de todo conceptual. Simplesmente fiz músicas, quis juntar todas num EP e gosto que assim seja, por isso é que lhe chamei Prazer. Do género: “Esta sou eu e os vários tipos de mim.” Enfim, é uma apresentação: “Olá, prazer!”.
Ficaram muitos temas de fora, canções que fizeste ao longo deste processo de construção do EP?
Ficaram de fora dois ou três sons. Porque alguns tinham mais qualidade do que os outros. Alguns estavam melhores, mais bem escritos e acabei por pensar que outros já não faziam sentido aqui. Já não me identifico tanto com eles. E houve tempo para estarem meses parados para eu poder perceber isto. Foi uma experiência que eu nunca tinha tido, porque sempre fiz sons e lançava-os logo. Neste caso, fiquei com os sons durante alguns meses e isso também mudou a minha percepção sobre eles.
E estavas certa de que te querias estrear em disco com um EP, um projecto mais curto?
Sempre tive o número 6 em mente, é o meu número da sorte, o meu número preferido.
E, durante este processo, foste descobrindo outras facetas tuas enquanto artista, que querias explorar nas tuas músicas?
Ya, definitivamente. O último single já foi diferente, e também vou começar a fazer música mais cantada. Eu canto sempre, mas normalmente mando com mais flow, rappo mais. E tenho uma música que é toda cantada, toda em piano, a “Pedi Demais”. Acho que é a mais diferente, mais melódica. Completamente diferente de tudo o que costumo fazer. É a minha melhor música até agora, e foi a que eu escrevi mesmo melhor, so far. E muitas outras que eu estou a fazer agora, no pós-EP, também já estão numa vibe diferente. Acho que estou a experimentar todos os tipos de música para ver o que é que eu gosto mais de fazer. Só a tentar fazer a melhor música possível.
Costumas escrever a partir dos instrumentais?
Costumo ter o beat como base e escrevo a partir daí. Primeiro faço as melodias, depois escrevo. Às vezes também vêm logo umas barras tipo freestyle, mas é raro. Normalmente faço as melodias todas e depois escrevo a letra à parte.
Também tem havido uma grande aposta na forma como visualmente apresentas a tua música, com os videoclipes realizados pelo Valdir Furtado. Sempre foi importante haver um produto visual de qualidade que embrulhasse a tua música?
Eu amo música, mas também amo cinema. Na verdade amo todos os tipos de arte. Portanto, para mim era bué importante ter uma coisa de que me orgulhasse visualmente. E sempre curti de imaginar essas coisas quando estou a fazer a música em si. Imagino um clip quando estou a fazer a música. É bom trabalhar com o Valdir, porque ele é o meu melhor amigo e ele percebe-me, sei exactamente como explicar-lhe o que eu quero fazer, e ele torna aquilo o que eu imaginei na minha cabeça.
Essas ideias vêm muito de ti também.
Vêm muito de mim. Eu acho que dirijo a maior parte dos vídeos com ele. Ou seja, tenho uma ideia, venho com um conceito, normalmente ele dirige e diz-me como tornar aquilo melhor. E há duas ou três músicas em que também dirigiu só ele o vídeo. Teve a ideia e depois, comigo, fizemos tudo o resto. É sempre um trabalho de equipa, o que é o mais importante. Mas eu estou sempre envolvida em todos os meus vídeos, seja em design, a dirigir, a produzir, estou sempre envolvida.
Acho que é notório que vieste com uma abordagem musical diferente daquela que têm a maior parte dos rappers em Portugal — e também as mulheres rappers. Foi algo pensado nesse sentido, para te diferenciares? Ou foi simplesmente o teu estilo natural, quando começaste a fazer música?
Sempre foi o meu estilo natural, sempre me inspirei mais lá fora do que aqui. O meu standard não é o standard de Portugal, tenho o standard lá de fora. Tipo, eu curto um clip daqui, mas amo um clip lá de fora, que tem certos detalhes que eu não vejo cá. Especialmente a cultura americana, foi sempre a minha maior inspiração, por isso venho bué daí.
Quais é que dirias que são as principais referências para ti e para o teu projecto artístico?
Definitivamente vou dizer o Drake, sempre foi a minha inspiração. Especificamente também o Tyler, The Creator, em termos visuais é uma pessoa que me inspira bué. Tem os melhores vídeos, a melhor coerência de álbuns, é mesmo muito crazy. E no caso das mulheres, a Doja Cat. Curto bué dela, faz sempre cenas diferentes a todos os níveis. E especificamente divertidas, também curto muito disso. Gosto de fazer música fun e descontraída, mas esta que tenho ao piano é bem séria. Gosto das duas coisas. Ou vou bué diva, ou não vou diva de todo. Gosto assim.
Quais é que dirias que são as tuas ambições?
A minha maior ambição artística é sempre fazer a melhor música possível. Com todos os sons que faço, quero estar orgulhosa, pôr o som nos fones e curtir mesmo. Isso é a minha maior ambição. A seguir, é fazer vídeos ainda mais produzidos. E, claro, começar a dar mais concertos também. Tive sempre poucas músicas e agora finalmente tenho músicas suficientes para cantar ao vivo. Por isso estou bem excited e mais focada em ir para os palcos. Let’s go, espero que corra bem.