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Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 10/01/2024

Para a despedida de Mil Coisas Invisíveis.

Tim Bernardes de regresso a Portugal: “É dos públicos mais atenciosos que eu tenho no mundo. É sempre um prazer”

Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 10/01/2024

Quando se pensa em amor na música vem logo o gosto a desgosto; mas há quem traga o seu sabor em pleno, para rejubilo das papilas sentimentais que agoiram que o amor seja talvez mais do que a dor que outros apregoam. Segundo Tim Bernardes, o amor pode ser — e é, a seu cargo — uma coisa bonita. E a sua voz o canal para ela assim o jorrar, e brilhar como uma nova e doce MPB que encontra subtilmente o indie e namora em segredo a música dos 60 e 70.

Depois de apaixonar os Coliseus no ano passado, o artista brasileiro volta ainda este mês para uma tour pelo nosso país — que passa pelo Convento de São Francisco (Coimbra, 20 de Janeiro), Teatro Municipal de Vila Real (Vila Real, 27 de Janeiro), Teatro José Lúcio da Silva (Leiria, 28 de Janeiro), Coliseu do Porto (Porto, 31 de Janeiro) e Coliseu dos Recreios  (Lisboa, 1 e 2 de Fevereiro). Trocámos algumas palavras com Bernardes a propósito desta ansiada visita um pouco antes de 2023 ter acabado.



Tim, é um gosto falar contigo. Pena que de longe, mas em breve perto. Voltas a Portugal depois de esgotar o Coliseu e de deixar Paredes de Coura em transe. O que acontece afinal de tão especial entre ti e o público?  

Não sei, tenho a sensação de que as pessoas têm uma relação muito intima e emocional com as canções e acaba por ser um momento muito especial, um público muito emocionado, muito atento, um povo especial, dos públicos mais atenciosos que eu tenho no mundo. É sempre um prazer. 

Já esgotaste uma data e apesar de teres uma tour europeia vais fazer 6 concertos só em Portugal. Achas que podemos dizer que somos um bocadinho mais “casa”? 

Com certeza. Eu me sinto muito em casa em Portugal; a coisa da língua, a afinidade musical também. Sinto que o público português tem uma compreensão do que sinto que tenho em mim musicalmente, que é de gostar da MPB dos anos 60 e 70, mas também gostar muito do indie de hoje em dia. Eu acho que é um terreno que é bem onde eu habito e isso soma também com o texto mais emocional, saudoso, então acho que é uma combinação de coisas com que tenho afinidade com Portugal. Na realidade tenho Coliseu do Porto, o de Lisboa esgotou a primeira data e vai ter a segunda… Mas na semana anterior faço Coimbra, Leiria e Vila Real. Assim também vou ter algum tempo livre em Lisboa — eu gosto de ficar. Da última vez que fiz tour na Europa também passei algum tempo e visito os amigos e gosto muito. 

E para além do teu último álbum, Mil Coisas Invisíveis, vais dar a conhecer alguma coisa nova, alguma coisa que possas revelar? 

Eu sempre tento mudar um pouco o repertório, mas este show é o do Mil Coisas Invisíveis, porque eu estou enxergando como talvez uma despedida deste show em Portugal. A próxima vez que eu vier, agora depois de Janeiro, será provavelmente um outro formato de show, com outras canções, e acho que foi tão especial o ano passado que eu queria fazer ainda mais uma vez. Eu consigo ver também que o público cresceu muito, que tem gente que já veio e quer ver de novo, gente que ainda não viu este show, então estou vendo como é antes de eu mudar a página. Vou voltar a Portugal com o show do jeito que eu concebi, como se fosse uma despedida do Mil Coisas Invisíveis

Por curiosidade, das Mil Coisas Invisíveis, quais é que gostarias de nos mostrar? 

Quando alguém me pergunta isso… Me lembra o show do Coliseu, que foi muito especial, assim dos favoritos da tournée facilmente, e pela questão de quando você junta muitas pessoas numa sala grande e… não é qualquer lugar que tem salas com o Coliseu de Lisboa. No Brasil a gente não tem salas assim, que são grandes mas têm uma sensação de proximidade do público, e acho que me vem à cabeça a coisa do silêncio gigante. Existe uma intimidade quando você coloca muita gente em silêncio atenta a uma mesma coisa — é uma coisa quase sobrenatural. Poder viver mais uma vez isso e juntar as pessoas nesse tipo de comunhão. A intimidade, o silêncio, a música, os detalhes… 

Mas normalmente é nos espaços mais pequenos que há concertos mais intimistas. Ou seja, como é que num espaço relativamente grande consegues chegar tão perto das pessoas? 

É isso, não sei. Por isso é que gosto muito dos shows sozinho. Tem uma coisa da solidão, a luz, a canção, o coração da canção… E o jeito que as pessoas se relacionam com as músicas, alguma coisa acontece que parece que você está sozinho, você está de um para um. E o facto disso acontecer e reparar que isso está a acontecer num sítio com três mil pessoas deixa ainda mais interessante, porque a intimidade é mais um sentimento do que um acontecimento físico.  

Nós próprios somos invisíveis.  

Em essência. 

E será que o amor também é invisível? 

Sim e não, eu acho. Porque é visível no modo como junta as coisas.  

Sim, nos teus concertos há amor e é visível. 

Eu consigo ver, muitas vezes, quando a luz acende atras de mim, e é uma coisa que eu gosto dessa atenção, quando eu estou tocando. Muita gente que se emociona, como elas estão atentas, e o Coliseu tem uma coisa legal, é que você fica muito perto das pessoas. Tem salas grandes em que eu toco em São Paulo, que levam a mesma quantidade de pessoas, mas elas têm uma sensação mais institucional, e acho que o Coliseu é um teatro minúsculo — só que gigante. 

E sobre colaborações: já colaboraste com artistas portugueses, mas se pudesses escolher, assim de repente, um artista português para colaborar? Não sei se ouves as coisas portuguesas que andam aí a acontecer… 

Eu toda a vez que eu vou a concertos eu conheço mais alguma coisa… Eu tenho um amor total pelos Capitão Fausto, já fiz coisas com eles e eles estão para lançar um disco que é muito bonito. Gosto muito de estar com eles, parecem velhos amigos, parece que eu conheço eles desde sempre. Eu já falei noutra entrevista que acho a Carminho uma cantora com uma postura muito interessante e acho que tem essa coisa da modernidade com a tradição, acho ela uma artista muito legal. Já conversámos, mas ainda não tivemos uma chance de encontrar, quem sabe se nessa ida consigo encontrar com ela. Ah… E um excêntrico que eu acho um rockstar maluco! 

Quem? 

O José Cid! Ele é um maluco, eu adoraria tocar com o José Cid. Sei que é controverso. 

Não é nada controverso. E ele tem um álbum maravilhoso que é o 10.000 Anos Depois Entre Vénus e Marte de rock psicadélico. 

Eu adoro! E o disco dele de 1970 eu gosto muito, com Dom Fulano e tudo. E o Quarteto 1111. Os Fausto conhecem ele e eu tento convencê-los a levarem-me lá no castelo dele. Ele mora numa espécie de casa antiga assim. 

Eu aprovo essa colaboração e espero que esta entrevista ajude a concretizá-la. E para além do indie e dos 60’s e 70’s, o que de resto anda a passar na tua playlist? 

Eu tenho viajado bastante e tento ouvir coisas dos lugares a que eu vou. Agora na tournée do Japão conheci bandas muito interessantes. Eu pesquiso sempre bandas dos anos 60 e 70, então tem uma do Haruomi Hosono, nos anos 60 para 70, que é o Happy End, que é uma banda muito legal. Quando fui para a Espanha fiquei apaixonado pelo disco de uma banda dos anos 60 chamada Pic-Nic, que é a banda da Jeanette, também muito legal. Ouvi muito os Lemon Twigs esse ano, que é acho que é uma banda do indie novo que eu adoro. Gostei do álbum do Jonathan Rader que ele lançou agora. Estive em Los Angeles, gravei junto com Rader, o disco da Weyes Blood… No Brasil, o disco da Sofia Chablau, do Sessa e da Ana Frango Elétrico. Mas eu passo a maior parte do tempo garimpando discos antigos. Acho que é o que eu mais oiço, coisas antigas que ainda não ouvi.


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