Th1rt3en

A Magnificent Day For An Exorcism

Fat Beats Records / 2021

Texto de Luís Carvalho

Publicado a: 17/02/2021

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Quando confrontados com um álbum que tem um título como o que esta estreia dos Th1rt3en apresenta — um óptimo título, diga-se –, a nossa mente transporta-nos imediatamente para um imaginário fantástico, carregado de visões de filmes de terror, com especial destaque, obviamente, para o Exorcista, obra cinematográfica que partilha título com uma das faixas do disco. Esse universo é ainda ampliado quando vemos, nas apresentações visuais da banda, os elementos mascarados ou quando percorremos a tracklist e encontramos outras referências ao horror, como “Scarecrow”, “Goats Head” ou “666”.

Se esse imaginário já nos prometia sons aterradores, as alusões ao metal fortificam essa ideia, a começar, desde logo, pelo nome da banda. Th1rt3en é retirado de um álbum dos Megadeth e é obviamente apoiado no mítico trabalho dos Metallica, uma das faixas é “Kill ‘Em All Again”, enquanto “666” — o número da besta — para além de ser um conceito muito ligado aos sons mais pesados da música contemporânea, contém ainda material de “Hands of Doom” dos Black Sabbath. Tudo isto não seria nota de destaque se A Magnificent Day For An Exorcism não fosse um projeto encabeçado por um nome de culto do hip hop como Pharoahe Monch.

Amplamente elogiado pelo seu dom para rimar, mas também pelo seu desejo de fazer diferente dos demais e pelo seu sentido aventureiro, o rapper voltou a cultivar a essa necessidade, produzindo novamente uma obra distinta, desta vez acompanhado, porque só assim fez sentido dar vida a uma ideia que permanecia arquivada na sua mente há mais de uma década. Agora em formato trio, apoiado por Daru Jones, formidável baterista que acompanha Jack White, e Marcus Machado (Anderson .Paak), o MC foge das produções e das muitas cores usuais do rap actual para encontrar conforto num falso revivalismo rap-rock. Esse acto não passa realmente de falso, uma vez que apesar de manter viva e clara a mistura entre estes dois géneros, a forma como é feita é distinta daquela que pode ser ouvida na discografia dos Run D.M.C, dos Beastie Boys ou até dos Rage Against The Machine. Da mesma forma que também não utilizam as linguagens dos Dälek ou Ghostemane.

É, assim, um encontro a meio-termo, entre o reviver e o pensar corrente. Uma espécie de rap-rock moderno em que há mais rap que rock, em que a batida fala primeiro, em que o rock é mais que um tapete sonoro para as vocalizações, servindo-se como um elemento de aprimoramento, uma pimenta que enaltece o sabor das rimas, seja através das guitarras hendrixianas que aparecem em sucessivos solos, seja no feeling blues deAmnesia” ou no delirante saxofone em jeito punk de “666 (Three Six Word Stories)”, um dos momentos mais excitantes do disco.



Não é propriamente novidade este desejo de misturar riffs de guitarra e músculo sonoro ao seu hip hop, contudo nunca Pharoahe Monch o fez de forma tão patente e permeável. Talvez por isso a sua necessidade de ter uma banda a acompanhar as suas palavras, de ter alguém capaz de tanto falar as métricas do rock ou do funk, como de perceber os tempos de J Dilla.

O resultado dessa experiência é que os Th1rt3en acabam por ter tiques de produto fresco, comparado com o passado, mas também com o presente; espaço temporal onde encontramos as letras deste exorcismo. Se o instrumental namora o passado, as letras, essas, falam do momento, são elas que praticam a ligação à atmosfera do terror, porque, às vezes, a melhor metáfora para a realidade é apresentá-la de forma direta, e o horror é um excelente instrumento para isso.

A Magnificent Day For An Exorcism é uma conversa sobre violência, seja ela policial ou não. Fala do racismo, das armas, da trivialidade humana, do escapismo virtual, do clima de dúvida que paira nas pessoas. No fundo, o exorcismo que aqui se fala é uma analogia para a necessidade de mudança que sentimos hoje em dia e da sua urgência. Essa é, possivelmente, a maior virtude num álbum eficaz, com pontos altos, muito bem produzido, com momentos interessantes e muito próprios — onde takes de filmes são introduzidos — ,mas que sofre para sair de uma competente mediania, resultante de um desequilíbrio de desempenhos entre rimas afinadas, irreverentes, e um instrumental que consegue segurar, mas que por várias vezes roça a banalidade e o previsível, sobretudo na guitarra. A Magnificent Day For An Exorcism é um daqueles discos que satisfaz a audição, chama a atenção, mas nem sempre chega ao final da viagem. Por vezes, os temas não atingem a sua capacidade máxima, mesmo sendo eles, lá está, amplamente competentes.

Curiosamente, quando o conseguem, apercebemo-nos que é quando a banda põe um pouco de lado a sua love letter ao rap-rock e se aproxima declaradamente de outros terrenos, seja do funk em “Kill Kill Kill”, ou do trip-hop de “Oxygen”, e isso, apesar de bom, é, em simultâneo, uma crítica ao álbum, pois não era suposto serem os “extras” a tomar as atenções principais do trabalho. “Racist”, “Cult 45” e “The Exorcist” ainda conseguem cumprir com eficácia a combinação de géneros pretendida, mas acaba mesmo assim a ser curto para aquilo que o autor do clássico “Simon Says” pretendia.


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