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Fotografia: Izzie Austin
Publicado a: 25/08/2022

Pela primeira vez na Europa.

Surprise Chef: “As pessoas deste século que fazem música parecida com a nossa são quem nos influencia mais”

Fotografia: Izzie Austin
Publicado a: 25/08/2022

Os Surprise Chef estrearam-se em Portugal no terceiro dia do Vodafone Paredes de Coura 2022. A banda de Melbourne é a peça central do College of Knowledge, selo criado por dois dos seus membros e por onde lançou os LPs All News is Good News e Daylight Savings — a Mr Bongo ajudaria a amplificar ambos. O grupo que junta influências de jazz, soul e funk ganha vida pela imaginação de Lachlan Stuckey, o guitarrista, Jethro Curtin, o teclista, Carl Lindeberg, o baixista, Andrew Congues, o baterista, e Hudson Withlock, o percussionista.

Momentos antes de subirem a palco para nos darem a conhecer um pouco do álbum, Education & Recreation, que lançarão em Outubro pela americana Big Crowno Rimas e Batidas conseguiu conversar um pouco com os músicos sem ainda saber que o concerto que se aproximava seria um excelente prenúncio do que está a chegar (em disco).



Enquanto pesquisava sobre o vosso grupo, encontrei um excerto que diz que vocês passam muito tempo no estúdio, não só a produzir música, mas a escutar os mestres da Blue Note e do Studio One. Quem são esses “mestres” que moldaram a vossa música e que tanto ouvem?

[Lachlan Stuckey] Algumas das pessoas deste século que fazem música parecida com a nossa são quem nos influencia mais. Como tinhas dito, da Blue Note e Studio One, mesmo que essas editoras e os seus trabalhos nos influenciem… esse tipo de música já foi feita no passado. E muita da música que se ouve hoje a tentar recuperar esses géneros é muito revivalista, como que a copiar a música antiga — que já feita. Mas os músicos que hoje olhamos com atenção, como Leon Michels da Big Crown, Gabriel Roth da Desco e Daptone Records… Quando ouvimos os discos deles encontrámos vários elementos retirados de contextos muito específicos, e que são de novo aproveitados na criação de novas peças sonoras, o que nos faz olhar para o trabalho deles não como uma repetição, mas como uma integração muito pessoal daquilo que para eles serviu de exemplo. Em Melbourne, pessoas como Henry Jenkins, que produz os nossos discos, ou bandas como os The Putbacks, são exemplos de projetos de que gostamos, que também se guiam por música mais antiga, mas que não a tentam replicar — inovam através dela.

Agora que falaste de Melbourne, como é que o vosso projeto nasceu? Como é que houve a conexão entre os vossos gostos musicais?

[Carl Lindeberg] Eu toquei numa banda quando tinha para aí 13 anos e no final do secundário lançámos um disco. Mas com essa banda conseguimos abrir várias portas, tanto com outros músicos como com DJs, etc., o Chris Gill, que é dono da Northside Records e que acaba por ser uma das principais editoras em Melbourne, pelo menos no r&b, funk, soul e jazz. Para mim isso foi excelente porque me permitiu ter todas essas conexões… 

Eu acho que tivemos muita sorte para sermos abraçados pela cena de Melbourne. Eu e o Jethro conhecemo-nos na escola de jazz. Depois eles começaram a fazer música no grupo deles e eu acabei por me juntar. Era bom ter na cena musical de Melbourne uma banda que olhava de uma forma mais introspectiva para a música soul instrumental. Na altura não havia muita gente a fazer isso. Então, todos nós continuámos a fazer música, depois o projecto evoluiu e meio que teve aquele efeito avalanche em que nos fomos desafiando para produzir mais e melhor, claro, com a ajuda do Henry Jenkins, o nosso produtor, que não pôde vir por certas razões.

[Lachlan Stuckey] Eu acho que a escola de música foi muito importante. Foi aí que a maior parte de nós conheceu muitas pessoas que estavam a fazer música que não era nem rock & roll nem música electrónica. Fomos introduzidos a músicos diferentes que gostavam de funk, jazz, soul, etc., e isso ajudou-nos a aprender. É uma cena muito bonita e cheia de apoio, a cena de Melbourne.

Sim, vocês também têm uma label, a College of Knowledge, e vi que pela Mr Bongo editaram aquela versão de uma música de Minoru Muraoka, e depois acabam por também passar para a Big Crown. Isto é meio que um salto, não é? Como foi o processo?

[Lachlan Stuckey] Foi muito natural, eu acho que a cena de Minoru Muraoka não foi assim um tão grande salto… Nós adoramos soul, jazz, afrobeat e reggae, todos estilos diferentes que têm o seu próprio mundo, mas para nós continuam a fazer parte de um puzzle da música funk feita nos 60s e 70s. E o “Positive and the Negative“, do Minoru Muraoka, é a única peça original no disco Bamboo. Nós adoramos o disco, e lembro-me de ter ouvido isso numa compilação de jazz espiritual e pensar, “isto é a junção de tudo o que nós gostamos mas feito por alguém no Japão”. Tinha todas as batidas funky, os movimentos obscuros e introspectivos, com uma excelente tonalidade, mas feito por esta banda japonesa. E mesmo que seja do Japão, nós que estamos habituados a discos americanos, europeus  e assim, o disco soou para nós exactamente como tudo o resto (no bom sentido).



Mr Bongo tem muitos artistas brasileiros. E também tem uma reedição da banda sonora do filme Wild Style

[Lachlan Stuckey] Sim, isso foi uma coisa que nos atraiu na Mr Bongo. Eles não são apenas uma editora de funk ou soul, mas uma que junta várias partes de sons de todo o mundo (que nos influenciam também). Seja música da África Ocidental, da [América] Latina ou brasileira. É tudo parte daquilo que nós procuramos para a nossa própria música.

[Jethro Curtin] Nós andávamos a comprar discos da Mr Bongo há muito tempo antes de eles sequer falarem connosco, e sinto que  conseguimos muitos discos que não podíamos comprar através desse plug [risos].

Avançando um pouco. O vosso disco sai agora em Outubro e acredito que aqui vão apresentar um pouco desse trabalho que está para sair. Quais são as expectativas para este concerto?

[Lachlan Stuckey] Esta é a primeira vez que tocamos na Europa. Eu não tenho expectativas em relação à reacção das pessoas, não sei se vão gostar de Surprise Chef ou não. Se fosse a elas, eu ficava apenas a nadar aqui no rio de Paredes e deixava Surprise Chef para outra altura.

Em relação à vossa tour: vocês agora vão para Londres, depois Luxemburgo e depois Estados Unidos. Estão cheios de datas nos próximos tempos. Como se sentem em relação a isso?

[Lachlan Stuckey] Estamos muito felizes, mas ao mesmo tempo apreensivos com esta responsabilidade. Temos medo de falhar algum voo ou assim; ou apanhar COVID. Mas estamos muito felizes. Como disso, esta é a nossa primeira vez na Europa, e isso já nos chega para estarmos felizes com tudo o que tem acontecido. Se alguma coisa correr mal, acho que vamos estar sempre optimistas.


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