pub

Publicado a: 20/07/2018

Super Bock Super Rock 2018 – Dia 1: valha-nos o amor!

Publicado a: 20/07/2018

[TEXTO] Alexandra Oliveira Matos e Alexandre Ribeiro [FOTOS] Direitos Reservados

A apresentação foi apoteótica, ao género de um concerto televisivo dos anos 60 que só lembramos dos filmes. The Expressions já tocavam e o senhor Lee Fields (sim, senhor!) entrava em palco a brilhar num fato branco e prateado, algures entre um Liberace contido e um James Brown em dia de festa.

“I’m Coming Home” foi a primeira e a plateia, ainda escassa e morna, começava a desejar que ele não voltasse tão depressa para a sua Carolina do Norte. Num equilíbrio quase perfeito — não fosse algum feedback e outros problemas no sistema de som do palco EDP — o “Little JB” deixou que os The Expressions brilhassem e foi acompanhando a alma dos instrumentos poderosos e maduros com o seu potente aparelho vocal.

Nos mais variados momentos, a sua voz arranhada e quente sobrepôs-se a breaks de bateria que bem conhecemos. Aliás, quem já preparou a voz para mais logo cantar “Antidote” com Travis Scott conhece a alma e as batidas da bateria na música de Lee Fields. É surpreendente que, passados quarenta e nove anos do lançamento do seu primeiro single, Lee continue em cima de palco e a lançar com frequência trabalhos discográficos. Special Night de 2016 foi, claro, o álbum em destaque. Porém Emma Jean e Faithful Man foram passagens obrigatórias com músicas como “Just Can’t Win”, “Faithful Man” e “Wish You Were Here”. Esta última dedicada a Charles Bradley e Sharon Jones, músicos e amigos especiais de Fields que morreram recentemente. Num concerto animado por coreografias teatrais, muito apelo a cantorias do público e uma energia de fazer inveja a muitos jovens, essa homenagem foi o momento mais introspectivo, calmo e arrepiante — tudo marcas evidentes da soul clássica. Foi bom começar o dia a receber tanto amor!

 



De coração quente seguimos para a Altice Arena onde nos esperavam os The XX (ou se fizeram esperar ligeiramente). Os três amigos parecem ter uma relação duradoura com Portugal — sete concertos desde 2010 — e foi aqui, no Super Bock Super Rock, que fecharam a tour europeia. Num palco simples e bem pensado, Romy, Oliver e Jamie tornavam-se maiores a cada grave e cada riff de guitarra nos ecrãs de efeitos instagrammáveis. Na bagagem trouxeram quinze músicas dos três álbuns, mas foi com “Dangerous”, do mais recente I See You, que abriram em grande. Na plateia cantavam-se todas de cor e os músicos iam agradecendo. “É um verdadeiro prazer estar aqui”, saudou Oliver Sim ao referir que por ser o primeiro dia de festival estava tudo mais fresco e sem ressaca.

Destaque para “I Dare You”, em que à frente do palco Super Bock se cantou a plenos pulmões, mas também para o apontamento na música “Fiction”, do álbum Coexist, que a banda dedicou à comunidade LGBT. “Loud Places” de In Colour de Jamie XX e “On Hold”, com remix também do homem dos beats do grupo, foram os momentos mais estimulantes e dançáveis de um concerto muito competente.

 



A mudança de horário levou a um imbróglio: os supra-sumo Justice ou a promissora Mahalia? Com todo o respeito pelos senhores franceses e pela sua história, a escolha recaiu sobre a britânica. Se os primeiros já nos deram muito, a segunda prepara-se para fazê-lo se não meter os pés pelas mãos ou, indo até ao cerne da questão, se largar a guitarra e deixar os produtores acamarem a sua belíssima voz com as mais modernas produções de r&b e soul.

O instrumento acústico foi o principal “problema”: às 2 da manhã, o corpo pedia movimento, a cabeça pedia movimento e, bem, as pessoas pediam movimento. Cada vez que Charlie, o baixista, se retirava para os momentos a solo, a cantora anestesiava a audiência; aliás, nem deu para saborear convenientemente a incrível versão de “Work”. Com um à-vontade que reflecte a maturidade de uma “menina” de 20 anos que assinou o seu primeiro contrato aos 13, Mahalia embalou-nos com uma voz que tem influência gritante de Erykah Badu e, em certos momentos, até faz lembrar o tom acriançado da sua conterrânea NAO.

Os grandes momentos resumiram-se às músicas mais recentes. Tal como explicou nas várias pausas, grande parte dos temas giram à volta de desgostos amorosos que teve durante a adolescência, ou seja, foram escritos quando os seus problemas se resumiam a isso e pouco mais. Não é de admirar que as suas melhores canções tenham saído todas depois de 2017: “I Wish I Missed My Ex”, “No Pressure”, “Proud of Me”, “No Reply” ou, claro, “Sober”, a mais celebrada da noite, de longe.

Na mesma linha de Jorja Smith, por exemplo, Mahalia ainda tem muito para melhorar, mas o potencial está lá todo. Basta que se deixe rodear pelas pessoas indicadas e encontre uma motivação para além dos “dickheads” que vá apanhando pelo caminho.

Depois de uma entrada morna, o segundo dia candidata-se a momento do ano com ProfJam, Virtus, Slow J, Oddisee, Anderson .Paak, Ermo, Tom Misch, The Alchemist, Princess Nokia, Pierre Kwenders e Travis Scott. Até já!

 


As portas abriram e o sol brilha. Bem-vindos ao Parque! ???? #sbsr #superbocksuperrock2018

Uma publicação partilhada por Super Bock Super Rock (@superbocksuperrock) a

pub

Últimos da categoria: Reportagem

RBTV

Últimos artigos