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Fotografia: Nathaniel Shannon
Publicado a: 25/02/2021

Sensibilidades analógicas na KPM.

Steve Moore: “Este álbum expressa o meu amor por sintetizadores analógicos vintage

Fotografia: Nathaniel Shannon
Publicado a: 25/02/2021

Metade da dupla Zombi, Steve Moore é um músico que tem registado intensa actividade como autor de bandas sonoras de um certo tipo de cinema. Na última meia-dúzia de anos, os seus scores electrónicos serviram as tramas de The Guest, Cub, The Mind’s Eye, Mayhem, Camera Obscura, Bliss of VFW.

Entretanto, a paragem nas digressões sempre intensivas da dupla que mantém com A.E. Paterra, por um lado, e as pausas entre encomendas para trabalhar para cinema, por outro, permitiram-lhe fechar um círculo, ao aceitar um convite daquela que é talvez a mais icónica das library labels, a KPM, casa da histórica 1000 Series.

De facto, os Zombi nasceram respondendo à influência profunda de filmes como aquele a que subtraíram o seu nome, o clássico que envolveu a dupla George A. Romero e Dario Argento, que tinha por título original Zombi, mas que na distribuição internacional foi renomeado como Dawn of the Dead. O filme contou também com duas distintas montagens e bandas sonoras: a versão italiana a cargo dos Goblin, outra marcante influência em Steve Moore, que aliás chegou a tocar com uma versão moderna do grupo, e a versão internacional, com banda sonora subtraída ao catálogo da library label DeWolfe. É portanto natural, que um jovem Steve Moore tenha visto a versão internacional do filme e desde cedo absorvido as particulares pulsões da library music. Encontrar-se agora com um álbum de electrónica vintage no catálogo da KPM faz total sentido.

Moore, que também grava como Lovelock ou Gianni Rossi, respondeu a uma série de perguntas por mail acerca do álbum Analog Sensitivity que acaba de merecer edição física através da britânica Be With (que tem, nos últimos anos, dado à estampa vários títulos clássicos e modernos do catálogo da KPM).



As notas de lançamento dizem que este material que reuniu para este álbum foi criado entre encomendas para filmes nos últimos anos. Mas não soa disperso e fragmentado, pelo contrário. Qual a linha que ligou todas as peças?

A linha que liga estas canções é apenas o meu amor por sintetizadores analógicos vintage, e a liberdade de compor música por diversão. Trabalhar em filmes é óptimo, mas é um processo colaborativo. Grande parte das vezes o realizador e os produtores têm todos ideias sobre como eles querem que soe o filme, e tu tens que trabalhar dentro desses parâmetros. Estas canções são a minha maneira de recarregar baterias entre trabalhos para bandas sonoras. Uma oportunidade de explorar moods que não costumo ter oportunidade de explorar quando faço música para filmes.

Trabalha bastante para cinema e esse tipo de trabalho deve algo à library music que editoras como a KPM andaram a lançar nos 70s e 80s. Diria que essa música o inspirou de alguma forma?

Absolutamente. Sou um grande de fã de library music antiga, tenho a certeza que ajudará a informar a minha música para filmes. A library music é muito importante para mim e para o Tony (Anthony A. Paterra), o meu baterista de Zombi, estamos sempre a partilhar coisas que encontramos. Antigamente, eu passava tempo, todos os dias, a procurar MP3s de antigos discos de library nos blogues. Tenho um disco rígido cheio disso.

Ter o seu nome inscrito num catálogo em que se está ao lado de pessoas como Alan Hawkshaw, Brian Bennett ou até David Vorhaus deve ser entusiasmante…

Bennett e Hawkshaw são os reis. Eu amava tentar trabalhar em algumas faixas mais cheias de acção como as coisas que eles costumavam fazer. O meu álbum na KPM é, no geral, mais gentil e misterioso. Mas sim, é uma grande honra fazer parte da família KPM.

Conte-nos mais sobre o lado técnico do álbum — o título já revela muito. Quais foram as ferramentas principais e porque é que as escolheu em específico para este disco?

Para este projecto eu tentei usar todos os meus sintetizadores especiais, os raros e os estranhos. Os sintetizadores que normalmente não posso utilizar para fazer bandas sonoras porque não têm conectividade MIDI ou CV. Como o meu Freeman String Symphonizer, que uso para as cordas em algumas faixas, e o meu Moog Minitmoog, que é muito semelhante ao Moog Satellite. Montes de sintetizadores de cordas diferentes neste disco: Logan String Melody II, Solina String Ensemble, Crumar Orchestrator. E muito Korg CX-3.

Se de repente material do Analog Sensitivity fosse escolhido para um filme, que tipo de filme seria? Ficção científica? Thriller psicológico? O título também aponta para algo relacionado com a natureza, por exemplo…

Eu ficaria feliz se este material encontrasse o seu espaço em qualquer tipo de filme, sinceramente. Ficção científica poderia resultar, mas acho que faria mais sentido num documentário sobre natureza em que se falasse sobre coisas como vulcões ou o fundo do oceano.

Tem uma banda sonora cá fora, VFW. Pode-nos falar um pouco sobre isso: só a capa do disco promete…

É um filme engraçado sobre um grupo de veteranos de guerra forçados a defender um bar VFW contra uma horda de drogados. O score é realmente pesado e negro, mas ainda assim divertido, digo eu.

E sobre Zombi? 2020 teve uma recepção quase muda, não foi? Esperava mais?

Eh, é difícil fazer as pessoas interessarem-se pelo teu álbum quando tu não podes sair e fazer concertos. Eu penso que a recepção, tendo em conta o panorama, foi bastante boa. Um ano duro para a música, e para tudo, na verdade. Não nos impediu de fazer nova música! Já estamos a trabalhar em coisas novas.

Estou a supor que já não tocam há algum tempo ao vivo: como é que tem lidado com os efeitos da pandemia?

Tem sido difícil, claro, os últimos espectáculos que toquei com Zombi foram no Verão de 2019. E parece que não vamos poder entrar em tour até 2022, o que é uma chatice. Mas eu tenho-me mantido ocupado a trabalhar em filmes, por isso tenho sido um sortudo.

Para terminar: de certeza que estão a ser feitos filmes que vão reflectir estes tempos estranhos. Criou música durante o confinamento que poderá ilustrar o espírito destes tempos?

Desde que começou o confinamento que tenho trabalhado bastante em música pop através do meu alter-ego Lovelock. Nada para partilhar ainda, mas espero que haja novidades em breve.


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