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Publicado a: 20/04/2015

Stereossauro: um tuga nas rodas de aço

Publicado a: 20/04/2015

[FOTO]: Vera Marmelo

Bombas em Bombos (edição NOS Discos) é apenas a confirmação em formato álbum do que já há muito era evidente em mixtapes (série Até Borras-te), live sets e, claro, na estreita colaboração com DJ Ride que tem tradução na aventura Beatbombers: Stereossauro é um dos mais irrequietos e criativos DJs nacionais e um produtor igualmente de mão cheia. Recentemente, Stereossauro tem divulgado alguns vídeos em que usa a sua singular arte de DJ para comentar a memória televisiva mais ou menos recente. O último desses vídeos merece agora estreia exclusiva no Rimas e Batidas. O tema? “Zé Gato”, mítica série de televisão do tempo em que bigode à Chalana era acessório sexy em qualquer homem moderno que se prezasse. 

Pode parecer brincadeira, mas na verdade o trabalho de Stereossauro é muito, mas mesmo muito sério. Este DJ das Caldas da Rainha pega nas ferramentas clássicas do hip hop – nomeadamente aquelas que sempre serviram a arte do DJ: mesa de mistura e gira-discos – acrescenta-lhe a cultura de graves erguida em cima de décadas de avanços nos clubes e torna o resultado da equação distinto ao acrescentar uma valente injecção de identidade tuga na fórmula final. Há alguns anos, o lastro discursivo dos DJs de scratch nacionais não ultrapassava os clássicos fresh e outras frases arrancadas a DJ tools americanas, mas Stereossauro – tal como os próprios Beatbombers – sempre preferiu outra abordagem, indo à procura de sons nitidamente portugueses para insuflar nas suas rotinas. E não apenas os elementos “scratcháveis”, mas também as peças lego da sua arquitetura de samples. É hoje um clássico, por exemplo, o exercício que fez em cima do monumento “Verdes Anos” de Carlos Paredes, mas também as transformações que foi operando sobre matéria original de gente tão diferente como Capicua, Ornatos Violeta, Kussundolola ou Pedro Abrunhosa, Clã, Dealema, etc. Stereossauro é um DJ de classe mundial, mas nunca quis fingir ser de Nova Iorque ou Londres. A sua arte é tão portuguesa quanto a louça das Caldas e nalguns casos tão provocadora quanto aquele clássico do artesanato popular que se produz na sua terra e deixa sorrisos embaraçados no rosto das senhoras que nas feiras se deparam com tão vigorosos artefactos de barro.

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