pub

Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 02/12/2021

Um pé de dança com consciência social.

Steam Down no Teatro da Trindade INATEL: a reivindicação do ritmo

Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 02/12/2021

Protagonizando, na terça-feira passada, a mais recente investida de novo jazz londrino em território português, o colectivo musical que responde pelo nome de Steam Down subiu ao palco do Teatro da Trindade INATEL, em Lisboa, para aquela que foi a a última data da sua tour europeia. O grupo assume-se enquanto uma comunidade flexível de artistas musicais da capital inglesa, procurando fazer transparecer o seu quotidiano social nas suas criações. Nesta noite apresentaram-se em quinteto, liderado pelo afável saxofonista e vocalista Ahnansé, na companhia de dois vocalistas/MCs, um baterista e um teclista.

A banda arrancou com um beat firme assente numa linha de synth minimal e futurística (que, na verdade, define a abordagem do homem das teclas neste espectáculo em particular) e que deixou logo claro o nível de destreza instrumental do líder através de um solo de saxofone inquestionavelmente tight e fluído que libertou neste primeiro tema que escutamos. 

As duas músicas que se seguiram asseguraram cada vez mais os dotes de Ahnansé enquanto saxofonista – especialmente na segunda destas, a signature song “Etecetera”, em que o seu solo se apresentou seguro o suficiente para mal se deixar afectar sequer por dois breves momentos de descoordenação por parte da bateria –, mas nada seria mais errado do que centrar todas as atenções no cabecilha deste colectivo: se os seus comparsas vocais aparentaram, numa primeira instância do concerto, uma postura retraída, não havia contestação possível perante a garra que saía das suas cordas vocais, e mesmo a sua disposição em palco rapidamente transitou para um nível enérgico condizente com a função adicional (e muito bem-cumprida) de hype men com que atiçavam a plateia, misturando pujança com humor de uma forma naturalmente equilibrada; os restantes instrumentistas não ficaram atrás, com a linguagem estética do teclista do grupo a cavalgar por uma via cada mais cósmica e o sentido rítmico do baterista a pender para uma execução veloz e dançável onde o drum ‘n’ bass, o hip-hop e a música africana podem coabitar (sendo o resultado algo bastante reminiscente do seu contemporâneo e compatriota Yussef Dayes).

Chegados à segunda metade do set, e com “Empower”, o grupo alcançou, indubitavelmente, um dos momentos máximos de conexão com o público, não só através de um singalong favorável de uma das linhas vocais principais do tema, como também em termos de engajamento rítmico, onde o ímpeto para dançar não conseguiu ser contido, com diversos espectadores nas primeiras filas a dançar e saltitar no conforto das suas cadeiras; porém, a sua satisfação não ficou restringida por este ponto, pois ao introduzir o tema de despedida (“Free My Skin”), o grupo encoraja o público para se erguer e dançar ao som de uma excelente carga afro-jazz. 

Tendo os Steam Down satisfeito o impulso físico do público, era natural que este agora os recompensasse a pedir bis, e a música de encore concedida pelo grupo, “Can’t Hold Me Back”, encerrou a actuação num ponto mais interventivo que festivo, porém igualmente válido na personalidade de um colectivo que aposta na importância do espírito comunitário. Intensidade, boa-disposição e groove foram as palavras de ordem desta noite, e os Steam Down mostraram que nem um recinto de lugares sentados consegue impedir a força monumental que o novo jazz londrino tem para oferecer ao mundo.


pub

Últimos da categoria: Reportagem

RBTV

Últimos artigos