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Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 12/10/2022

Numa nova fase a trilhar o seu próprio caminho.

SPLIFF: “Estive um tempo desligado do hip hop a produzir cenas completamente diferentes. Deu para crescer um bocadinho”

Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 12/10/2022

A trabalhar nas sombras desde a saída da 75, o novo capítulo a solo de SPLIFF tem-se pautado, sobretudo, por novas experiências. A sua ligação à Panela Rec Portugal atraiu novos universos musicais, alguns completamente fora da esfera do hip hop, foco primordial até então. Depois de um tempo desligado desta cultura na qual tem vindo a traçar um caminho interessante sobretudo na metade final da última década, Rui Maia fez questão de limpar os canos e provar que a mira continua bem calibrada com o seu mais recente tema “Bala No Crânio”, mas o tambor está atestado, já que um EP até ao fim do ano está no horizonte. O Rimas e Batidas esteve à conversa com este versátil produtor e rapper (nascido em Lisboa e criado entre o Miratejo e Almada) em que o foco é no que se aproxima sem nunca esquecer o alcançado até aqui.



Já estavas há mais de um ano sem lançar nada. O teu último tema, “Amanhã“, surgiu em fins de Fevereiro de 2021, numa sonoridade bem diferente daquilo que havias habituado o teu público. Essa faixa até acaba por surgir de uma forma bem simples, sem videoclipe.

Cheguei a um ponto que tinha bué cenas na gaveta, desde beats a cenas mais antigas, e não as quis guardar mais, e o “Amanhã” faz parte desse lote. E é a minha primeira abordagem ao auto-tune também, quis explorar esse caminho porque tem certas vibes [que lhe são] características. Foi por isso que simplifiquei mais a parte do lançamento, não foi uma cena importante na minha vida, a nível pessoal foi só um som que tinha guardado e quis metê-los nas ruas para a malta ouvir esta nova abordagem.

Suponho que tenhas mais coisas na gaveta, e o “Bala no Crânio” também andava por lá, não?

Já o tinha escrito há um ano e tal. Basicamente a Panela Rec quis juntar os vários produtores que andavam por lá, de estilos e ondas diferentes, e fomos todos para casa de um amigo nosso que também é DJ e produtor da Panela, que tem uma casa – acho que em Viseu – espectacular, éramos bués mesmo, até jogámos paintball, que ele tem um espaço para isso e tal, e criou-se ali um ambiente bué porreiro. Entretanto eu já estava numa de criar novos temas juntamente com o Daus e o Guerra e dei-lhes a dica que a produção ia ficar a cargo deles, pela primeira vez ‘tou fora [risos]. Eles começaram a trabalhar no beat da cena e estava a soar bem, mas faltava ali aquele loop catchy, que ouves em repetição e não te cansas. Entretanto eles foram buscar o Gonzalo Tau, que também estava lá a passar o fim-de-semana, o gajo é ganda artista, canta e toca bué, tem grandes ideias também, é muito bom mesmo. Mas bem, chegou lá com a guitarra, começou a tocar umas cenas e de repente tocou um riff que me ficou no ouvido, pedi para ele tocar outra vez e, ya, foi logo ganda entusiasmo, eles agarraram nisso, fizeram o beat, eu escrevi a letra e, pronto, naquela noite o som ficou praticamente feito. 

Basicamente foi um pequeno retiro que acabou por ser bem frutífero…

A dica foi essa! Fomos lá nesse espírito de chillar um bocado, mas levámos o equipamento todo para o caso de surgirem ideias e isso, pegámos no estúdio e levámos tudo, e acabou por surgir o “Bala No Crânio”. Passámos a tarde a bater com a cabeça na parede e de noite já estava “ó, vamos gravar ou quê?” [Risos] Queria muito ouvir como estava a soar.

E desse momento de inspiração até gravações e tudo mais, foi um processo demorado?

Foi rápido até, depois quando voltámos gravei logo aqui [estúdio caseiro onde Spliff estava na entrevista], queria mesmo ouvir como estava a ideia que tínhamos na cabeça e a partir daí segui para o estúdio da Panela e ficou feito. Demorou muito mais foi a nível de lançamento, porque quisemos juntar alguns temas meus e fazer um EP. Posso adiantar que é isso que vai acontecer, pretendo lançar um trabalho em breve.

Era exactamente um dos tópicos que queria falar… mas ainda sobre o retiro, acabou por surgir mais alguma ideia para música para esse teu novo EP? 

Não, não, nesse fim-de-semana acabámos só por trabalhar no “Bala no Crânio”. Também foi só um dia e meio, quisemos aproveitar para desfrutar. Depois disso sim, trabalhei em mais música em conjunto com o Guerra e o Daus. Por exemplo, também agarrámos num tema antigo que vai estar na EP, já o escrevi mesmo há bué tempo, mas a mensagem está lá e continuo-me a identificar com ela, e vai sair cá para fora também. É o único tema do EP que estou a ir buscar lá mesmo atrás, aos primórdios. 

Relativamente à produção do Guerra e do Daus, compreenderam-se bem “musicalmente” logo no início da vossa ligação?

Para já, são duas pessoas que conheci e com quem me identifiquei logo bué, dei-me bué bem com eles, acho que são duas grandes pessoas, e também percebi logo que tinha muito para aprender com eles. E é tudo malta da Panela Rec, eles andam aí nas sombras a fazer uns bons movimentos [risos]. 

Relativamente à Panela Rec, como surgiu essa label?

A Panela Rec já existia quando eu entrei para lá, apesar de ainda estar no início, não fui o alicerce ou a base para surgir. A cena foi: o Hypart, que fez a capa do meu álbum Risco, na altura veio falar comigo, porque na altura era designer da Panela Rec e eles precisavam de um produtor para explorar novos caminhos na parte do hip hop e eu passei pelos estúdios deles um dia, conhecemo-nos e inclusive produzi um tema com uma rapariga que é a Maria Veiga, acho eu, lamento mas a minha memória, it is what it is… mas logo ali percebi a vibe deles, super boa onda, papo recto e, bora, arranquei com eles. Isto há dois anos, logo ali antes da pandemia começar, por volta de Novembro de 2019 produzi este primeiro tema que te falei.

E desde daí?

Estive bué tempo a ir lá para o estúdio sempre a produzir cenas diferentes, posso-te dizer que estive um tempo desligado do hip hop, mas porque estava a produzir cenas completamente diferentes, diria que deu para crescer um bocadinho. Tive a oportunidade de também conhecer o Syro, nada a ver, né [risos], mas música é música e foi bom explorar novos caminhos. Posso dizer que até ghostwriting para cenas mais pop fiz! Tenho uma ideologia que é: não vou chegar a velho e ficar com amarguras de não ter feito isto ou aquilo, quis mesmo experimentar. 



E quem é o “plantel” da Panela Rec, se me podes dizer?

Eles estão a juntar, sem ferir susceptibilidades, malta que ainda não é conhecida na esfera pública, mas estão recheados de talento, como a Maria Veiga que te falei e a Katalina que tu também já conhecias, como falámos em off. Também está lá um puto que é o Edu Monteiro, que apesar de seguir uma onda mais comercial também produz e produz nas horas mesmo, também costuma sair da sua zona de conforto. Numa dessas ocasiões produziu um beat assim mais boom-bap que eu disse-lhe logo “isso é para mim” [risos] e vai entrar neste EP também. Posso também falar de outro rapaz que é o Jonie, que lançou o primeiro tema dele há pouco tempo, é mesmo um rapaz cinco estrelas, e também tenho uma faixa com ele que ainda não sei se vai para o EP, mas vai ver a luz do dia, estou é a perceber onde o encaixar melhor. É nestes detalhes que o EP ainda não está fechado, de resto está tudo feito e preparado.

Já falaste de várias produções de terceiros para o teu EP… e tuas, vai haver alguma coisa?

Deixa-me pensar… ya, há do tema mais antigo que te falei antes, sinto bué a faixa ainda, identifico-me com aquilo e resolvi juntar ao trabalho, nem mexi na produção, é uma cena simples, vai ficar como está. A EP vai ter por volta de seis faixas, é um formato curto.

E datas, 2022 será difícil para lançar ou?

Não, não é difícil. Não quero já dizer quando vai sair, mas não é nada difícil sair este ano, não! Lá está, assim como o “Bala no Crânio” está feito há bastante tempo, o resto do projecto também se foi desenrolando e ficando feito. Falta apenas limar algumas arestas, posso-te dizer que falta fechar dois videoclipes e se entra ou sai este ou aquele som, é só isso. Portanto não, não é difícil sair este ano.

E a Panela Rec vai-te dar apoio para o lançamento?

Sim, vão ser eles que me vão dar esse apoio, foram eles que ajudaram a produzir o videoclipe do “Bala no Crânio”, arranjaram-me o tribunal para as gravações, passámos lá uma tarde, foi fixe. Uma data de tropas meus a entrar tribunal adentro e um pessoal lá fora a ver aquilo e a pensar que já estávamos metidos em alguma [risos].

Este novo lançamento do EP simboliza o início de um novo capítulo na tua carreira, agora a solo, sem ligação à 75. Fala-me um bocadinho deste novo começo.

Acabo por ter mais tempo para mim, explorei novas cenas nestes últimos anos em que estou a solo, saí da 75 em 2019/2020, não me lembro bem, mas foi no período a seguir a isso que fiz aquelas experiências que te falei há pouco. Já estou a solo há algum tempo.

A tua saída da 75 deveu-se a quereres explorar novos caminhos?

Não propriamente, chegámos a um acordo em que cada um seguiria o seu caminho e foi isso, não há muito a dizer. Basicamente houve uma conversa e chegámos à conclusão que o melhor para todas as partes era cada um seguir o seu trajecto e foi isso que aconteceu, e eu segui o meu.

No videoclip do “Bala no Crânio” até lanças um teaser a enterrar um colar da 75, quiseste transmitir que estavas a encerrar um ciclo?

O que eu quis transmitir fica para mim, mas está aberto à interpretação de quem está do lado de lá. Toda a gente faz referência ao colar [da 75] mas ninguém fala do meu álbum [Risco], também o enterro nesse vídeo. Mas estamos a falar do passado… ya, acho que é só ver, não há grande coisa a dizer sobre isso, parece-me [risos]. E é o que é, a vida é como é e as coisas acontecem porque têm de acontecer, tens de seguir as tuas próprias pegadas, tomar as decisões, saber as consequências e seguir o teu caminho, porque mais ninguém o vai seguir. E quando fores velhinho, vais olhar para os teus pés – se ainda os tiveres [risos] – e vais pensar “foram estes pézinhos que fizeram este caminho para estar aqui hoje”, e bem ou mal, o que importa é chegares lá de consciência tranquila, e eu isso tenho. Até nestas cenas que te falei de ghostwriting para sonoridades mais comerciais e assim me deixaram tranquilo. Tudo somado, são esses passos que escrevem a tua história, e há muita gente que não liga a isso, mas quero chegar a cota e ver o que fiz, o que ficou feito em vida. Não tenho medo de arriscar, não tenho medo de fazer merdas que supostamente não deveria fazer, mas não faço nada com maldade, portanto só tenho que seguir o meu caminho…

Voltando ao EP, mais alguns detalhes que gostasses de revelar? Falaste das produções convidadas, e em rima, alguma coisa na manga?

Não, as participações para este meu novo EP vão ser só em produções.


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