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Fotografia: Miguel Estima
Publicado a: 28/11/2022

Sentir a fantasia.

Space Festival’22 (Caminha) – Dia 2: pequenos filmes com grande música

Fotografia: Miguel Estima
Publicado a: 28/11/2022

O festival que viajou entre Paredes de Coura, Ponte de Lima, Montemor-o-Velho, Monção e Caminha terminou no passado sábado com a apresentação do Space Ensemble, o colectivo que dá nome a este evento. Quase duas dezenas de concertos, várias iniciativas paralelas de formação, muitos encontros, trocas de ideias – o balanço desta iniciativa orquestrada por Nuno Alves e para que contribui uma alargada equipa só pode mesmo ser positivo. E por conseguinte, foi em adequado tom de celebração que o Space Ensemble apresentou no Teatro Valadares o espectáculo Music For Short Films (que é também um disco).

Em palco esteve a “família” quase completa: Miguel Ramos (baixo e voz), Samuel Martins Coelho (taças tibetanas, metalofone, violino e guitarra acústica), Sérgio Bastos (piano e sintetizador), Jorge Queijo (bateria), Nuno Alves (electrónica e brinquedos), João Martins (saxofones e melódica), João Tiago Fernandes (bateria e marimba), José Miguel Pinto (guitarra), Henrique Fernandes (acordeão, contrabaixo e serrote) e ainda Carina Albuquerque e António José Oliveira (ambos em violoncelo), sendo de notar apenas uma ausência – a da harpista Eleonor Picas. Este ensemble cobre, de facto, um vasto espaço cromático, como se depreende da lista de instrumentos a que recorrem em palco, característica que o afirma como distinta proposta artística e que ao vivo lhes confere um muito particular fulgor.

Neste concerto, o Space Ensemble condensou diferentes apresentações que costuma fazer tendo tocado música dos espectáculos Filmes da Terra do Pai Natal, Piratas e Sereias, Ostras e Baleias e também Pequeno Mundo, com as projecções de curtas obras animadas (de realizadores finlandeses ou polacos, por exemplo) a serem imaginativamente ilustradas pelos arranjos do colectivo. Na verdade, os diferentes músicos do Space Ensemble não se limitam a tocar e são uma espécie de actores sónicos, cada um representando um claro papel em intrincadas tramas orquestrais, assumindo o drama, humor, estranheza ou mistério contido nos filmes e dando-lhes uma vibração muito especial. E não apenas musical: há momentos na apresentação em que os músicos quase parecem ser “foley artists”, traduzindo movimentos, falas ou gestos das personagens animadas ou do ambiente em que se movem em ruídos – passos, vento, intempéries, vozes fantasiosas – através de pequenos objectos, mas também samples.

O Space Ensemble é, de facto, uma orquestra cinemática, um conjunto de músicos, vários deles multi-instrumentistas, de elevada qualidade técnica, mas igualmente dotados de uma vivacidade muito contagiante: é óbvio o prazer que retiram de tocar juntos e essa energia é facilmente captada pelo público que desde o primeiro momento embarca na viagem proposta, carregada de maravilhamentos. Algures entre o jazz de fôlego orquestral, ecos de art-rock, assomos trip-hop (pisca-se o olho aos Portishead a dada altura), tangentes ao universo erudito e momentos de maior abstracção, situa-se a arte do Space Ensemble. Um lugar bonito para se ocupar e que, muito sinceramente, merece ser visitado e revisitado mais vezes. 


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