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Fotografia: Brenndel Ferreira
Publicado a: 11/04/2023

Hip hop clássico e embrenhado em jazz, funk e soul.

Souls of Mischief no B.Leza: nostalgia até ao infinito

Fotografia: Brenndel Ferreira
Publicado a: 11/04/2023

Logo que entrei no B.Leza na última quinta-feira (6 de Abril), já senti a ansiedade e a euforia pairando no ar. Seria impossível ser de outra forma: uma multidão já estava à espera do primeiro concerto do Souls of Mischief em Portugal.

Formado na Califórnia nos anos 90, o Souls of Mischief cria a mágica perfeita ao unir a nostalgia da golden era do hip hop com a experiência que os muitos anos de carreira trazem. Por sinal, este é o motivo que os traz a Portugal: uma turnê em comemoração aos 30 anos de 93 ‘til Infinity, obra-prima do grupo composto por A-Plus, Opio, Tajai e Phesto.

Abrindo os trabalhos, The Architect (Damian Siguenza), produtor e DJ que se juntou aos Souls of Mischief no final dos anos 90, e TheGenuineArticle (Luis Flores), que também colabora em diversas ocasiões, se juntaram para um set incrível, que soou como uma retrospectiva musical, passeando pelas diversas fases e subgêneros do rap — ambos os DJs são conhecidos pelo talento em incorporar elementos de jazz, funk e soul em suas produções. Com músicas de Wu-Tang Clan, De La Soul, Fugees, Black Star, Rapsody, Freddie Gibbs e Conway, o público já se preparava para o que poderia esperar. Mesmo assim, as expectativas foram superadas.

Num primeiro momento, o grupo focou na performance de alguns clássicos como “Never No More”, “Step to My Girl”, “Cab Fare” e “Disseshowedo”. Conhecidas pela produção única e letras inteligentes, foram cantadas (junto aos gritos, assobios, palmas e o que mais fosse possível fazer para expressar a admiração pelo grupo) pela plateia do início ao fim. A interpretação do grupo no palco vira um show à parte, já que o storytelling das letras traz um clima descontraído e até teatral para o concerto. Uma dose extra de carisma que caiu muito bem.

Passada a euforia inicial, os integrantes aproveitaram para interagir com o público e contar que Lisboa é uma das cidades mais lindas que já visitaram. “É certeza absoluta que iremos voltar. Sempre sonhámos em viajar o mundo e conhecer cidades como aqui, com pessoas e lugares incríveis e lindos”, afirmaram.

Vale lembrar que o grupo cravou seu nome na história do hip hop devido à abordagem musical inovadora que desafia as normas do gênero. Junto a outros grupos, o Souls of Mischief ajudou a popularizar o uso de baterias complexas e amostras de jazz, criando um som distintivo que influenciou muitos outros artistas. Além disso, o grupo faz parte do coletivo Hieroglyphics que, junto de outros artistas fundamentais para a golden era do hip hop, formou uma comunidade criativa e focada em inovação que revolucionou a música.

Antes da clássica “93 ‘til Infinity” ser performada, The Architect e The Genuine Article também falaram sobre a importância daquele momento e da turnê. Para isso, criaram um mashup digno de referência, relembrando a conexão do grupo com outros nomes de peso, como De La Soul, Wu-Tang Clan e A Tribe Called Quest, e criando uma linha do tempo entre eles — os três grupos foram essenciais na construção da identidade do Souls of Mischief por diversos motivos.

O A Tribe Called Quest era conhecido por suas letras conscientes e experimentais e suas amostras de jazz e soul. O Souls of Mischief trabalhou com o grupo em várias ocasiões e colaborou com Q-Tip em “Let ‘Em Know” e “That’s When Ya Lost”, por exemplo. O De La Soul foi outro grupo importante da década de 90, que era também conhecido por suas letras inteligentes e experimentais. Essa sintonia nos presenteou com a música “Big Brother Beat”, do álbum Stakes Is High do De La Soul. Já o Wu-Tang Clan, conhecido pelas letras cruas e agressivas, tem uma abordagem muito diferente da do Souls of Mischief. No entanto, ambos os grupos compartilham do amor pela cultura e pela experimentação musical, e nos trouxe a colaboração “Shaolin Soldier”, do álbum Wu-Tang Killa Bees: The Swarm do lendário colectivo de Nova Iorque que está confirmado para a edição deste ano do Super Bock Super Rock. Dito isso, não preciso nem explicar as reações do público enquanto os integrantes falavam sobre o assunto e declaravam seu amor pelo hip hop por cima da base de “Electric Relaxation”, certo? Imaginem.

O encerramento não poderia ser diferente: “93 ‘Til Infinity” foi, finalmente, entoada a plenos pulmões por todos ali. Com a maestria de quem levou seu legado ao infinito, o grupo deixou claro porque, independentemente do tempo que passe, eles continuarão sendo referência para as futuras gerações. O álbum que partilha o título com a música é frequentemente citado como um dos melhores de todos os tempos, pois reúne tudo aquilo que é a base da cultura: habilidades líricas excepcionais, produções musicais inovadoras e mensagens conscientes e politicamente engajadas.


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