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Soul Providers vêm construindo, de forma discreta mas coerente, uma identidade sólida na produção de instrumentais — e pode-se já dizer que são uma referência na cena hip hop nacional. No passado dia 20 de Abril assistimos ao seu concerto no Musicbox, em Lisboa, onde estiveram ainda presentes vários convidados.
Uma breve introdução antes de irmos para o que nos trouxe até aqui: a dupla da Margem Sul, composta por RakimBadu e Crate Diggs, demonstrou no seu mais recente espectáculo que o trabalho não foi feito para passar despercebido, apesar de desde 2019 virem lançando projectos no Bandcamp de forma um tanto desorganizada: um dia encontrávamos algo novo na conta de um, no seguinte encontrávamos algo novo na do outro, mas sempre com o tag de Soul Providers. Ainda nesse ano de pontapé-de-saída lançam o seu primeiro álbum, And All That Jazz. Até à data editaram Percepções (2020), A Celebração e o EP Vero, este dois últimos em 2021 — todas as edições de Soul Providers têm o selo da MS TV Records.
É também de salientar que as misturas e masterizações das suas edições são feitas pelos próprios. Esta característica é bastante comum na cultura hip hop e nos meios de produção musical underground ou DIY. Os softwares (CuBase, Logic, Fruity Loops, Ableton) vieram democratizar o acesso ao mundo da música e os Soul Providers são filhos desta democratização. A quantidade de produtores musicais hoje em dia é demonstrativa deste facto, tal como a quantidade de músicos e compositores que misturam e fazem a masterização das suas músicas, conhecimento que adquiriram através destes softwares (DAW).
Mas não dispersemos: Young Boda deu início a esta noite e, tal como RakimBadu e Crate Diggs, também ele é da Margem Sul. Quem segue o trabalho destes artistas não estranhou certamente a sua presença. Estamos a falar de pessoas do mesmo universo, que estão permanentemente em contacto, trocando ideias e fazendo projectos juntos. Esse espírito de comunhão manteve-se sempre e ao longo da noite foram subindo ao palco artistas como Silly, Levy, TEE ACE, Mura e Duarte Moreira. A proximidade e a intimidade entre todos fez-se sentir no Musicbox, tanto em cima do palco como fora dele.
Durante vários momentos do evento, Vasco Completo acompanhou o duo com a sua guitarra eléctrica e através do som metálico do seu instrumento e dos efeitos dos seus pedais foi criando atmosferas que davam continuidade ao espectáculo, acrescentando aqui e ali riffs que imprimiam ainda mais groove à batida.
E groove é aquilo que não falta a Soul Providers. A sua estética descontraída tem ares da leveza do r&b, no entanto, está longe de se resumir a isso, caracterizando-se precisamente por essa mistura e essa indefinição que a produção de rap permite: vão da linguagem do boom bap a elementos de jazz com uma enorme fluidez, salientando-se ainda o trabalho meticuloso de sampling — uma ferramenta crucial no processo de composição. Os samples das suas composições não são apenas atmosferas ou back vocals, mas sim elementos que dão complexidade às mesmas.
Por falar em texturas, e para fechar o relato: o desenho de luz estava maravilhoso e foi, sem dúvida, um dos elementos que ajudou ao sucesso deste concerto. Venham lá mais.
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