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Texto: Paulo Pena
Fotografia: André Curto
Publicado a: 23/08/2021

A providenciar alma ao panorama instrumental português.

Soul Providers: “Foi fácil haver uma certa química”

Texto: Paulo Pena
Fotografia: André Curto
Publicado a: 23/08/2021

Apresentaram-se da melhor forma com And All That Jazz, em 2019. No ano seguinte confirmaram o sentido apurado para as batidas através de Percepções. Agora, em 2021, os Soul Providers têm um novo disco a circular, editado no mês de Julho. 

VERO é o terceiro projecto concebido a meias por Crate Diggs e RakimBadu, dois produtores da Margem Sul que encontraram um espaço comum na produção e que têm vindo a traçar juntos um caminho bem definido, deixando uma pegada inconfundível em cada faixa por onde se cruzam. Depois de dois álbuns, os SP voltam às novidades com um EP de seis faixas que conta com as participações externas de Susano Catões, Beat.Apotheke, E.se, Krayy e Natkoolkid.  

Em nome da dupla, Crate Diggs revelou alguns pedaços de VERO e deu a conhecer as dinâmicas desta parceria que promete dar muitos e bons frutos sonoros a partir do berço do hip hop nacional. 



Queria começar pelo título do vosso novo projecto, VERO — que vem de “verdade”. Vocês criaram uma identidade sólida nos vossos instrumentais, e enquanto dupla complementam-se um ao outro. Foi fácil descobrir essa química verdadeira quando se juntaram para fazer música? 

Após o RakimBadu ter lançado o seu primeiro projecto, em 2017, eu, Crate Diggs, acabei por propor-lhe fazer um duo, de modo a participarmos no Madkutz Challenge. Na altura o desafio foi lançado pelo produtor Madkutz e consistia em lançar 10 instrumentais por mês durante um ano. A nossa química iniciou-se a partir daí e foi evoluindo durante esse challenge, crescendo de uma forma natural. Como nos complementamos nos beats, foi fácil haver uma certa química, o RakimBadu foca-se muito nos samples e na simplicidade do beat, e eu acabo por ser mais cuidadoso com os drums, acabando por me focar essencialmente no arranjo final do beat

Depois de dois álbuns apresentam agora um EP com meia dúzia de faixas que perfazem um total de quinze minutos. Acredito que ambos tenham uma série de beats guardados, por isso, o que vos fez escolher estes seis? 

Temos sempre muitos instrumentais antes de decidirmos lançar um projecto. Normalmente, quando é para decidir, juntamo-nos várias vezes para ouvir os beats de novo, e vamos eliminando os que menos se encaixam na ideia que tivermos para o projecto. 

Como se desenrola o vosso processo de criação? Cada faixa tem necessariamente a mão de cada um, ou o que interessa é a sonoridade dos Soul Providers, mesmo que tenha sido só um de vocês a criar um certo beat? 

O nosso processo de criação varia muito, temos instrumentais feitos em conjunto, outros em que um de nós iniciou e o outro finalizou. No entanto, já tivemos casos em que teve a “mão” só de um de nós, mas como fazia sentido foi lançado enquanto Soul Providers. 

A “Mask Off” do Future, produzida pelo Metro Boomin, é provavelmente uma das canções mais remisturadas no rap dos últimos anos. O que vos levou a fazer uma nova abordagem sobre este tema de 2017 e incluí-la neste projecto? 

sample do tema “Hoodville” foi encontrado e “choppado” pelo RakimBadu, mas o encaixe da voz do Future foi ideia minha e acabou por resultar. Sinceramente, os acapellas do Future foram usados devido ao objectivo que tínhamos para o beat e não necessariamente devido ao tema “Mask Off”. O objetivo era passar a ideia de que não nos podemos esquecer de onde viemos, nunca esquecer quais são as nossas origens e de certa forma representá-las da melhor forma que soubermos, seja pelas nossas ideias, seja pela nossa personalidade ou mesmo pela forma como falamos. E foi devido a esse pensamento que colocámos a frase “Rep the set, gotta rep the set”.  

Em relação ao sample, a ouvir o nosso beat, acaba de certa forma por fazer lembrar o do “Mask Off”, mas no final do dia, a nosso ver, não interessa muito se já foi um sample muito utilizado ou não, mas, sim, se foi usado da uma forma original e que faça sentido. 



Entre temas como “Ghostace Soul Killah Providers” e “Good Kids, MS City”, e o próprio nome RakimBadu, é evidente que abraçam e homenageiam as vossas influências. Têm algumas referências de produtores que moldaram a vossa estética sonora? 

The Alchemist, The Beatnuts, J Dilla, Apollo Brown, Daringer e Madlib são algumas das nossas grandes influências. 

Ainda sobre a “Good Kids, MS City”, para a qual convidaram o E.se e o Krayy, imagino-vos a fazer algo na Margem Sul como o Keso fez com a compilação Sinceramente Porto, por exemplo. É uma hipótese que vos passa pela cabeça a longo prazo, reunir uma série de rappers da MS sob a vossa produção? 

A ideia está em mente, mas ainda pode demorar um bocado. Mas temos a pretensão de incluir artistas que fazem parte do nosso “círculo”, como a Silly; o Ray e o Vorm, que juntos formam os De la Calle; o E.Se, o Krayy, o Raul Muta, o Mura e quem mais se identificar com a nossa arte. 

Matem-me esta curiosidade: na faixa “Lofi x Crunk == Mental Issues”, está lá um sample que também foi usado na “Sofrerporteamar”, produzida pelo Sam The Kid para o projecto Classe Crua com o Beware Jack? 

Por acaso não estávamos a par desse sample no tema de Classe Crua, mas sim, tem lá uma parte que é o mesmo sample. De certeza que o Sam ouve os Soul Providers [risos]. 

É ingrato perguntar por novos projectos a artistas que acabaram de lançar coisas novas, especialmente no vosso caso, uma vez que nos últimos três anos têm editado discos anualmente. Ainda assim, faço a pergunta, porque mais do que aquilo que já fizeram, entusiasma-me o que ainda podem vir a fazer. Nesse sentido, o que podemos esperar do futuro dos Soul Providers? 

Estamos a preparar um novo projecto, que vai ter direito a formato físico em CD, t-shirts e stickers, mas ainda não temos data. Entretanto estamos a produzir, em conjunto e em separado, para vários rappers e cantores. Novidades a caminho. 


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