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Publicado a: 18/08/2018

O Sol da Caparica’18 – Dia 2: Wet Bed Gang Season

Publicado a: 18/08/2018

[TEXTO] Núria R. Pinto [FOTOS] João Cautela e Miguel Roque / World Academy

Começa a ser difícil meter os pés num festival em que os rapazes de Vialonga surjam no alinhamento e não esperar que roubem a cena, tal é a febre em torno dos “fantastic four”. São 6 da tarde, ainda nem entrámos, e já se ouve quem demonstre preocupação em fazer o que quer que seja nos arredores do recinto, não vão as duas horas que antecedem o concerto ser insuficientes para garantir um lugar na plateia. Quem tem passado as noites por esses parques de campismo fora atrelado aos festivais de Verão sabe que vai ouvir a “Devia Ir”, e outras com doses igualmente cavalares de oxitocina, pelo menos 53 vezes por noite e outras 47 durante o dia. Estender a toalha na praia e ouvir alguém deixar escapar por entre os dentes um “não sinto nada disso que tu tens de ti…” é já mais fácil que encontrar o senhor das bolas de Berlim.

Não será de estranhar, portanto, que ao segundo dia de Sol da Caparica o festival esgote para um cartaz que traz só hip hop ao Palco Blitz e que se por esta altura não for consensual que é a afirmação do género a grande culpada de isto tudo não será, certamente, por falta de provas. Deau, Bispo, Wet Bed Gang, Piruka e Jimmy P encarregaram-se de representar as rimas e as batidas na margem sul do Tejo, numa festa que começou ainda o sol ia alto no Parque Urbano da Costa da Caparica.

Deau cortou a fita do dia para uma plateia que já enchia meia casa e instalou-se num lugar que, à partida, lhe poderia ser menos confortável se olharmos, essencialmente, para a bitola de milhões de visualizações que os restantes trazem para jogo. Apesar de ser o nome que goza de menor reconhecimento, o público respondeu bem à chamada do rapper portuense que, sem bangers ou grandes artifícios, foi bastante competente em segurar a casa no pontapé de partida.

A afinação das gargantas começou a fazer-se ao som de Bispo e já aí se começava a antever que a plateia estava sedenta de dar corpo aos amores de Verão. A massa de gente começou a tornar-se mais densa para acompanhar o rapper da Linha de Sintra e foi nos refrões cantados em uníssono que Bispo ganhou pontos. Chamemos-lhe preliminares auditivos. E toda a gente sabe como são importantes.

De Wet Bed Gang já pouco fica por dizer: da actuação monstruosa no Sumol Summer Fest à chamada de última hora para o MEO Sudoeste, mantêm-se as certezas e confirmam-se as expectativas. No palco estão os representantes punk desta geração adolescente com direito a todos os lugares comuns, sejam eles os moshs ou as quebras de tensão de quem tem que ser levado em ombros por entre uma plateia compacta que não parece ter fim à vista. A casa cai por várias vezes mas é bonita de se ver a transição do dia para a noite ao som de “Chaminé”, num expoente máximo de euforia. A caixa torácica de Zara G leva o prémio de incansável da noite, naquela que deverá ter sido a melhor e mais consistente prestação individual apesar da visível coesão do grupo. O mesmo não se poderá dizer do som que, nesta segunda noite, leva nota negativa: não foram poucos os momentos em que as vozes se fizeram difíceis de ouvir ou a mistura final nos chegou abaixo do que se pedia.

 



Som não foi problema para Piruka nem Jimmy P. Do último, aliás, assistimos ao melhor espectáculo da noite nesse aspecto. Para o primeiro, poderia pensar-se que a tarefa de subir ao palco após a explosão que se antecedeu seria uma tarefa ingrata mas se há alguém que o consegue fazer, esse alguém é Piruka. O mar de gente mantém-se sem fim à vista e é do espectáculo do rapper da Madorna que retiramos alguns dos momentos que melhor ficam na fotografia da noite. Não há isqueiros mas há telemóveis em riste para trazer ainda mais luz a um espectáculo que se faz, quase, de um homem só. Não há muito mais que Piruka precise provar para se assumir que é um (o?) caso sério a apaixonar multidões e que é muito pouco provável que este amor de Verão não acabe em casamento. Aliás, vê-lo na área de imprensa a tirar fotos com fãs que ainda nem ingressaram na escola primária deixa bem clara a sua margem de progressão enquanto fenómeno de escala pop. Se o futuro não lhe pertencer, temos poucas dúvidas de que gerará suficientes dividendos para o poder comprar. “Fenómeno” é mesmo a palavra…

Jimmy P fecha a noite do Palco Blitz e talvez, ele sim, com uma tarefa um pouco mais difícil pela frente. A verdade é que o que pode faltar a Jimmy em movimentação de massas ou em novos hits que façam tremer o público, sobra-lhe em maturidade e em capacidade de agarrar a plateia. O rapper do Porto é o verdadeiro entertainer desta segunda noite de Sol da Caparica, um leitor de multidões, e isso revelou-se fundamental para manter a casa viva e sempre num confortável ponto de fervura.

Até para o ano, no palco principal?

 


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