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Texto: ReB Team
Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 30/01/2023

Do jazz ao hip hop e sempre no feminino.

Sofia Rajado sobre Improvisadoras: “Quero que este seja um podcast com diversidade, que represente todas as mulheres”

Texto: ReB Team
Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 30/01/2023

Improvisadoras é um novo podcast inteiramente dedicado às mulheres artistas a operar nos meandros das cenas jazz e hip hop em Portugal.

A iniciativa é de Sofia Rajado e os seus primeiros passos remontam ao formato de blogue, cuja estreia aconteceu em Maio de 2021. Hoje colaboradora do renovado Jazz.Pt, a autora não quis deixar morrer este seu projecto e, em 2023, leva-o para o domínio dos podcasts, alargando ainda o seu espectro a um outro género musical do qual se confessa fã: o hip hop. É precisamente a cultura nascida no Bronx, em Nova Iorque, e que este ano celebra o seu 50º aniversário que surge representada no episódio inaugural de Improvisadoras, através das histórias contadas por Tvon e Muleca XIII, duas figuras de destaque por entre o colectivo Hellas.

Ao Rimas e Batidas, Sofia Rajado recordou como esta ideia foi evoluindo ao longo dos últimos dois anos, com muita ética do it yourself pelo caminho e, acima de tudo, uma vontade enorme de dar voz a quem pouco espaço mediático tem numa industria que ainda privilegia o sexo masculino.



[O germinar da ideia]

“Eu estudei música. Toco clarinete. E sempre fui a concertos. Inicialmente acompanhava a música clássica, mas depois — há já muitos anos — comecei a ir a concertos de jazz e de música improvisada. Mais até de música improvisada. Nessa fase comecei a aperceber-me de que o mundo era muito masculino. Não haviam nem mulheres a tocar, nem no público nem a escrever sobre música. Eu trabalho com seguros e, antes da pandemia, pensei nisto como uma espécie de hobby. Comecei a escrever, mesmo sem qualquer tipo de conhecimento técnico de blogues. Fui pesquisar e decidi criar um blogue com o nome de Improvisadoras. A ideia inicial era criar várias biografias, uma biografia dedicada a uma mulher artista de cada vez. Comecei por fazer isso e, entretanto, a Jazz.Pt perguntou se eu queria colaborar com eles e aceitei. Ao fazer isso, descuidei-me um bocado do Improvisadoras. Com o trabalho nos seguros todos os dias, o ser mãe… Não estava com tempo para isso. E eu no Jazz.Pt falo no jazz em geral, não apenas focada nas mulheres. Achei que era importante dar seguimento àquilo, mas por não ter tempo para escrever, pensei: ‘o que é que poderei fazer para ser mais simples continuar a divulgar o trabalho delas?’ Aí surgiu a ideia do podcast, há cerca de um ano. Andou a maturar imenso tempo. Só comecei a meter isso em prática há coisa de dois meses para cá. Fazia durante a noite, depois de adormecer a minha filha [risos]. Vi vídeos no YouTube, tutoriais de como formar o podcast, de como é que se montava, que tipo de aplicações poderia usar para captar áudio, etc. Apercebi-me de que não tinha equipamento e passei a assumir que, para já, é com o telemóvel, com os sons de fundo a entrar na conversa.”

[Jazz e rap]

“A necessidade é a de dar voz a mulheres. Pensei no rap, porque as rappers, no fundo, também são improvisadoras. Eu também gosto muito desse género musical. Infelizmente, o jazz, hoje em dia, está muito associado a uma classe média/alta. Ia acabar por dar visibilidade apenas a mulheres brancas e eu quero que este seja um podcast com diversidade, que represente todas as mulheres, no fundo. ‘Vou também tentar dar voz a mulheres do rap.’ Até pelo percurso e pelo actual contexto do hip hop, que é muito composto por mulheres negras, que vêm de zonas mais periféricas. Como também gosto muito do género musical, lembrei-me de incorporá-las nisto. Escolhi a Tvon e a Muleca XIII, ambas do projecto Hellas, no primeiro episódio para mostrar ao que vem o Improvisadoras. Se houver uma mulher artista que defenda ideias de xenofobia, racismo… Eu não vou dar voz a essa mulher. Neste podcast, não entra.”

[O compromisso]

“Espero que a regularidade seja quinzenal. Já tenho um ou outro episódio gravado e já tenho falado com várias mulheres que têm interesse em participar. Abraçaram o projecto e até me agradeceram, porque sentem que não têm espaço para divulgar o seu trabalho. É isso. Vou tentar lançar os episódios quinzenalmente e intercalados. Ou seja: se o primeiro foi de rap, vou tentar que o próximo seja no mundo do jazz e da música improvisada. Quero intercalar e que seja diversificado. Não me agrada a ideia de ter só mulheres brancas a falar. Gosto da ideia da multiculturalidade, da mistura de origens. Por exemplo: se de hoje para amanhã eu conhecesse uma mulher cigana, que cantasse ou que tocasse, ficaria super-curiosa e interessada em poder falar também com ela. É nesse sentido que eu quero que o podcast vá. Em princípio, esta primeira temporada terá seis episódios, para ver como é que corre. Se eu estiver a conseguir, darei continuidade à coisa.”


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