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Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 11/06/2025

O homem que fez dançar e pensar com uma explosiva mistura de soul e funk.

Sly Stone, um gênio psicodelicamente caótico

Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 11/06/2025

Miles Davis queria ter a magia de Sly Stone. Tanto é que quando estava produzindo Bitches Brew e, principalmente, On The Corner, em 1972, é influenciado pela Sly and the Family Stone. O trompetista até tentou fazer um disco colaborativo com o seu “ídolo”, porém, ao visitá-lo em seu o estúdio desistiu da ideia. Pelo ambiente caótico, cheio de mulheres, seguranças armados e muita cocaína, Davis apenas fez o que tinha que fazer naquele momento: “Cheirámos cocaína juntos e foi isso”, revela em sua autobiografia, escrita com Quincy Troupe. E não era só a música de Sly que inspirava Miles. A forma extravagante de se vestir também fez o jazzista mudar seu guarda-roupa. 

Muito à frente do seu tempo, antes mesmo de completar 30 anos, Sylvester Stewart foi um gênio precoce. Quando ganhou notoriedade com seu funk-soul psicodélico, uma novidade no final dos anos ’60 e início dos ’70, muitos quiseram pegar carona — de Michael Jackson e Jackson 5 a Temptations, incentivados por Berry Gordy, da Motown, aos musicais da Broadway. Antes disso, foi músico da The Church of God in Christ (COGIC), que a família frequentava em Vallejo, na Califórnia. Lá, aprendeu a tocar todos os instrumentos. Também criou seu primeiro grupo musical de gospel, “The Stewart Four”, com os irmãos Valetta, Freddie e Rose. Os dois últimos faziam parte da Family Stone.

Ainda na adolescência se tornou membro do grupo vocal interracial The Viscaynes, com quem gravou os compactos “Yellow Moon”, nos anos 1961 e 1962, que em 2021 ganhou uma versão dupla em LP pela ReGrooved Records. Nessa repensarem também se incçuem singles a solo de Sly sob a alcunha de Danny Stewart. Logo depois do período gospel, Stone formou em 1966 o The Stoners, evoluindo posteriormente para Sly and the Family Stone com Cynthia Robinson, Fred Stone, Larry Graham, Greg Errico, Jerry Martini e Rose Stone.

Fazer parte de um conjunto diverso o influenciou no formato da banda que faria história nos anos seguintes. Feitas para dançar, as músicas (inicialmente) traziam positividade, alegria e todo aquele suingue influenciado pelas igrejas pentecostais. Porém, isso começou a mudar com o uso cada vez mais excessivo de drogas e o clima político ficando cada vez mais tenso nos Estados Unidos ao longo dos anos 1970.

Seis meses depois de Marvin Gaye lançar o político “What’s Going On”, onde perguntava o que estava acontecendo no seu país, a Sly and the Family Stone Family colocou mais peso no som, deixando-o denso e mesmo assim cheio de groove, respondendo com There’s A Riot Goin’ On. Ou seja: está acontecendo uma revolta. Rapidamente estourou com “Family Affair”, alcançando o primeiro lugar nas paradas de singles pop.

Pelo teor crítico e a psicodelia da fusão entre funk, soul e jazz, este se tornou um dos discos mais importantes da história. Com a ascensão veio a fama, o dinheiro, carros de luxo, mulheres e drogas à vontade. Porém, os problemas de relacionamento entre a família também se multiplicaram rapidamente, acompanhados por atrasos e cancelamentos de shows. Isso fez com que cada vez menos concertos fossem contratados.

A gota d’água aconteceu no Radio City Music Hall, em janeiro de 1975. O espetáculo desastroso de 45 minutos, resultando em vaias e uma casa quase vazia, decretou o fim da Family Stone. Isso não quer dizer que os problemas de Sly terminaram. Ao contrário, começaram a piorar naquele momento, um completo oposto ao que aconteceu em 1969 no festival Woodstock, onde a banda assinou uma performance inigualável, prendendo a atenção dos espectadores numa madrugada. 

Cada vez mais entregue ao vício, o músico perdeu tudo o que tinha, se afastou da família, viveu em trailers e foi jogado ao esquecimento. O que não quer dizer que sua música tenha tido o mesmo destino. É evidente que a arte de Stone ultrapassou gerações. É algo eterno que dificilmente será esquecido. O curto espaço de tempo em que esteve no auge foi necessário para ele deixar sua marca na história da música. Ter vivido até os 82 anos é uma benção para alguém que se auto destruiu a vida toda. Talvez seja pelo bem que fez para humanidade, usando a sua caótica genialidade para alegrar as pessoas, fazendo-as dançar e também pensar sobre a realidade que vivem. O que ele canta em “Family Affair” ainda reflete nos dias de hoje: “You can’t cry, ‘cause you’ll look broke down / But you’re cryin’ anyway ‘cause you’re all broke down!”


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