SKEPTA
Konnichiwa
Boy Better Know, CD, Digital
16/20
Konnichiwa é, para todos os efeitos, o representante da segunda volta do grime no mundo. Uma segunda volta que se faz com mais sucesso e que pode mesmo representar um crescimento exponencial do estilo em novos mercados. Onde poderia Skepta apresentar o álbum? Num Boiler Room em Tokyo, claro. Fazendo o jus óbvio ao nome, mas mais importante que isso, provando que os tentáculos do grime se encontram mais longos que nunca e se estendem para o globo.
Com data anunciada para 2014, o seu lançamento atrasou-se por um ano. Longe de ter sido um ano para dormir, foi um ano em que Skepta colaborou com Kanye West, subiu ao palco com ele nos Brit Awards, conheceu Drake, assinou-o para a sua label, Boy Better Know, e tornou-se num dos embaixadores do grime nos Estados Unidos.
O grime, desde a sua origem, mostrou-se um dos estilos musicais mais intensos e originais, mas que sempre sofreu nas tentativas de chegar ao grande público. As tentativas foram muitas, mas a transição não se provou fácil e, até Skepta dedicou mais de cinco anos de vida a fórmulas diluídas para tentar ter aderência do grande público. É exactamente isso que torna a “That’s Not Me”, do artista e irmão, JME, num tema tão relevante: “Yeah, I used to wear Gucci / I put it all in the bin ‘cause that’s not me”.
O que muda? Contexto. O fim da novidade no trap pode ter criado a maré baixa que permitiu trazer para a ribalta um estilo diferente. Afinal, quando Drake e Kanye West colaboram com artistas, não o fazem de forma inocente. Numa fase tão avançada e realizada da carreira, muita da gasolina de ambos deve-se à capacidade de procurar, promover e, até certo ponto, absorver “novas” sonoridades. O álbum convida um bom número de convidados dos dois lados do Atlântico como: Novelist, Wiley, Young L.O.R.D., A$AP Nast, D Double E e o mítico Pharrell. Para lá do contexto, a produção é a segunda grande componente que apresenta ajustes. O grime sempre comportou uma atitude muito britânica em relação à música, nunca tendo receio em ser demasiado cru ou agreste para os ouvidos. Isso nunca facilitou a sua relação com a rádio, e sente-se ao longo do álbum de Skepta muito afinamento sónico. Os elementos abrasivos continuam lá: desde os synths midi dos violinos de “It Ain’t Safe” até aos trompetes de “Shutdown”, no entanto, o volume a que são colocados e a maneira como os baixos aquecem a ambiência é, sem dúvida, uma fórmula menos agressiva do que aquela a que o grime nos habituou. Nestas experiências, o momento mais aventureiro é passado entre “Ladies Hit Squad” e “Numbers”. A primeira, falha pela sua derivação ao “Hotline Bling” de Drake sem ganhar força para se afirmar por si própria. Já a “Numbers”, produzida por Pharell, é um momento divertido pontuado por um feature que não poderia ter vindo de outra pessoa: “My accountant countin’ my cabbage, also countin’ my carrots / Vegetarian habits since BBC was established”.
Skepta referiu numa entrevista que este álbum foi todo ele produzido com um objectivo: “Entrei nisto com o coração puro e a amar música, e as pessoas tomaram-me como um idiota, entendes? Por isso, quando rimar, as pessoas vão ouvir um louco, vão ouvir um monstro, alguém que está à procura de vingança – e eu quero vingança.”
Não é difícil imaginar o porquê. Após passar alguns anos encalhado e longe da sua essência, Joseph Adenuga regressa, com ligeiras afinações na sua fórmula, e agora tem à sua frente o mundo inteiro. A Boy Better Know, indissociável de Skepta, assinou com Drake no início do ano e, com o lançamento de Konnichiwa, a label, fundada em 2005, mostra que tem muito para dar no início da sua segunda década de vida.