O amor é um fantasma. O amor é um conceito. E ainda bem que o amor é uma merda. De onde sairiam todos estes álbuns se assim não fosse? O título Hurting parece auto-explicativo e ainda assim faz jus a cada letra. Bebe-se o sofrimento de um disco esculpido em culpa e polido com incerteza. Escuta-se o desamor-próprio, o amor não correspondido, a impotência, e o slowcore parece ser a forma de expressão certa.
Basta-nos ouvir as duas primeiras músicas para entendermos o universo de sign crushes motorist. Baladas lo-fi numa sala escura de pensamentos, onde algures de dentro do novelo da ruminação surge o veículo certo para canalizar os sentimentos: acordes lentos e uma voz arrastada à procura de compreensão. “Start” começa a jornada de tristeza de Hurting com uma confissão de amor, um pedido de desculpas e uma voz enfraquecida a tentar ser forte; mas “Further” vai ainda mais fundo no poço de Liam McCay. A perda, o luto e a distância. Tanta mágoa em apenas dois minutos. As notas vão-se tornando cada vez mais familiares ao longo do álbum, seguindo através da sua voz o doce caminho da melancolia.
E depois acontece “Manifesto”. Que para além da surpresa estranheza que o instrumental electrónico repetitivo traz, poderia perfeitamente ser uma carta de suicídio lida em voz alta. Ou, no mínimo, um pedido de ajuda. Agora é uma faixa imortalizada em disco sobre self-hate e sobre a desesperança no futuro e por certo no presente. São palavras pesadas e estas são só as primeiras: “Sou um fardo para todas as pessoas na minha vida / Não mereço nada / Vou estar sozinho para sempre”. O disco volta ao mesmo compasso, mas termina mais acelerado, como um grito num sussurro, onde “Death of a Heart” serve como o literal último prego no caixão.
E no meio de todo este sofrimento crasso, ninguém esperaria que sign crushes motorist fosse um projecto de um rapaz de 18 anos que ganhou fama no TikTok e que nesta efervescência da juventude tem não um, mas vários projectos, entre eles Take Care e Birth Day. Sabemos da adolescência como um período complicado, mas podemos aqui aprender sobre quanto sofrimento pode caber na desproporção dos anos e que, independentemente da idade, nos encontramos todos nas mesmas letras, nos mesmos acordes, nas mesmas ruas, nos mesmos medos, no mesmo barco, na mesma morte. E a dor, tanta dor, sempre a dor. Pode ser que um dia a dor se transforme em amor.