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Publicado a: 30/10/2017

Shabazz Palaces: O duo que veio do espaço

Publicado a: 30/10/2017

[TEXTO] Rui Miguel Abreu [FOTO] Nina Corcoran

É num universo paralelo que precisamos de nos sintonizar para apanharmos o sinal que os Shabazz Palaces de Ishmael Butler, também (des)conhecido como Palaceer Lazaro, e Tendai Maraire, descendente do mestre da mbira (o mais cósmico dos instrumentos “primitivos”) Dumisani Maraire, emitem a partir de quasars distantes e próximos ao mesmo tempo.

Os Shabazz Palaces apresentam-se ao vivo no Lux, no dia 31 de Outubro, numa curadoria da ZDB, e com eles trazem dois novos álbuns: Quazarz: Born on a Gangster Star e, directamente do outro lado do espelho, Quazarz vs. The Jealous Machines. São dois novos álbuns envoltos num conceito unificador, a visita de Quazarz ao nosso planeta, a sua ligação a um dealer de drogas – “que não estava nem aqui nem ali” – e a sua posterior deambulação solitária por esta dimensão – “em que falamos com armas que nos mantêm seguros, em que não imaginamos para lá da imagem, onde matámos o amor, onde matámos Prince, onde matámos a vergonha…”. É, claro, uma observação alegórica da América – “Amurderca” – pela lente de um afro-futurismo militante, tão devedor de Sun Ra quanto do Stevie Wonder mais psicadélico ou dos mais lisérgicos delírios de Kool Keith.

 



Os Shabazz Palaces souberam sempre andar do lado de lá desta realidade. A organização de Lese Majesty (2014) em sete suites sugeria uma abordagem distinta da que fez de Black Up (2011) uma estreia tão aplaudida. Nesse primeiro disco, Ishmael Butler provou ser possível uma ressurreição no campo do hip hop, reinventando-se como MC depois de no arranque dos anos 90 ter causado ondas como parte dos celebrados Digable Planets. Em Lese Majesty a transição para outra dimensão já resultava numa imagem mais difusa: Tendai Maraire assumiu a missão de transformar as ideias dispersas de Ishmael num corpo coeso. E a missão foi brilhantemente cumprida: Lese Majesty soava fragmentado, como uma imensa colagem aural, servida por beats abstractos menos devedores do funk e com algum tipo de relação com a modernidade electrónica mais experimental. O resultado final foi um turbilhão psicadélico de imagens, palavras e sons que reclamam um novo espaço. É nesse espaço que os podemos encontrar agora, um espaço onde o funk e o jazz e a soul servem de matriz, mas surgem pulverizados por um pensamento superior, por novas regras da física, como se do lado de lá tudo soasse diferente.

Entre instrumentais e temas com obtusas imagens – “vem em ouro e chega para a noite…”. -, Lazaro e Maraire reclamam um urgente espaço no futuro através de uma original observação do pretérito presente. Tudo gravado em Seattle com novo equipamento, novos cúmplices, novos instrumentos, para pulverizar fórmulas de conforto. Os Shabazz Palaces explicam-nos que Born on a Gangster Star “chegou ao mundo com uma pressa desgraçada, como a noite quando desce sobre uma ilha”. E com ajudas, “em corpo ou espírito”, de Thundercat, Gamble & Huff, Thadillac, Ahmir e Blood, entre outros, a dupla palaciana construiu um díptico que se posiciona já no topo da pirâmide qualitativa de 2017. Ao vivo vai ser outra coisa. Porque é sempre. O agora nunca é igual. O igual nunca é agora. O nunca agora é igual. Quazarz.

 


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Texto escrito a pedido da ZdB para a folha de sala do espectáculo dos Shabazz Palaces.

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